2017-12-11 09:59:00

Pela paz em Jerusalém e no Médio Oriente


Donald Trump decidiu mudar a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Desde 1995 que essa medida estava preparada mas nunca tinha sido oficializada por nenhum presidente dos EUA.

O Papa Francisco reagiu logo na quarta-feira dia 6 de dezembro apelando ao respeito pelas resoluções das Nações Unidas. Nesta edição da nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo” refletimos sobre a situação em Jerusalém e no Médio Oriente e registamos a preocupação do Santo Padre com a paz.

Donald Trump decidiu na quarta-feira dia 6 de dezembro assumir a mudança da embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O presidente norte-americano refere que esta decisão irá “contribuir para melhorar o processo de paz entre Israel e a Palestina”.

Numa declaração oficial proferida na Casa Branca, Trump afirmou que “Jerusalém é a capital de Israel”. A partir de agora será iniciado o processo de transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém. Recorde-se que os palestinianos também querem que Jerusalém seja a sua capital.

Não se fizeram esperar as reações no mundo político internacional. As manifestações sucedem-se e já há vítimas a lamentar. No passado domingo dia 10 de dezembro a Sala de Imprensa da Santa Sé difundiu um comunicado no qual se pode ler que “ao manifestar a sua dor pelos confrontos que nos últimos dias provocaram vítimas, o Santo Padre renova o seu apelo à sabedoria e à prudência de todos e eleva orações para que os responsáveis das nações, neste momento de particular gravidade, se empenhem em evitar uma nova espiral de violência”.

O Papa Francisco foi dos primeiros a pronunciar-se na semana passada. Logo na audiência geral de quarta-feira dia 6 de dezembro o Santo Padre revelou a sua preocupação com esta situação:

“O meu pensamento vai para Jerusalém. Não posso silenciar a minha profunda preocupação pela situação que se criou nos últimos dias e, ao mesmo tempo, dirigir um forte apelo para que seja compromisso de todos respeitar o status quo da cidade, em conformidade com as pertinentes Resoluções das Nações Unidas.”

“Jerusalém é uma cidade única, sagrada para os judeus, os cristãos e os muçulmanos, que nela veneram os Lugares Santos das respetivas religiões, e tem uma vocação especial para a paz.”

“Peço ao Senhor que esta identidade seja preservada e reforçada em benefício da Terra Santa, do Médio Oriente e do mundo inteiro e que prevaleçam sabedoria e prudência, para evitar acrescentar novos elementos de tensão num panorama mundial já turbulento e marcado por tantos e cruéis conflitos.”

Já no verão deste ano de 2017, no dia 23 de julho, XVI Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco logo após a oração mariana do Angelus apelou para o fim da violência em Jerusalém pedindo moderação e diálogo.

Nessa mensagem o Santo Padre referiu-se ao clima de tensão que percorreu durante algumas semanas o Médio Oriente provocando mortos e feridos palestinianos e israelitas. Tudo tinha tido início após o assassinato de dois polícias israelitas no dia 14 de julho de 2017.

Referindo-se aos confrontos entre palestinianos e a polícia israelita, o Santo Padre pediu, nessa ocasião, a todos “propósitos de reconciliação e de paz”:

“Acompanho com preocupação as graves tensões e as violências destes dias em Jerusalém. Sinto a necessidade de expressar um premente apelo à moderação e ao diálogo. Convido-vos a unirem-se a mim na oração, para que o Senhor inspire em todos, propósitos de reconciliação e de paz” – disse o Papa.

Precisamente, na quarta-feira dia 6 de dezembro, Francisco recebeu, antes da audiência geral, na salinha junto à Sala Paulo VI, vinte participantes na reunião do Comissão permanente para o Diálogo com as personalidades religiosas da Palestina.

O Santo Padre sublinhou a alegria que é para a Igreja construir pontes de diálogo, em particular, neste caso, com personalidades religiosas e intelectuais palestinianas.

Declarando ser a Terra Santa para os cristãos a terra por excelência “do diálogo entre Deus e a humanidade”, Francisco afirmou estar “consciente da atenção que as Autoridades do Estado da Palestina, em particular, o Presidente Mahmoud Abbas, têm para com a comunidade cristã, reconhecendo o seu lugar e o seu papel na sociedade palestiniana” – disse o Papa.

Após a declaração de Donald Trump a apreensão em relação a uma possível escalada de violência na Cidade Santa de Jerusalém aumentou e teme-se o pior. Têm-se multiplicado os protestos no Médio Oriente e não só.

Uma das primeiras reações registadas pela Rádio Vaticano sobre esta decisão do Presidente Trump foi a do Observador Permanente Emérito da Santa Sé na ONU, em Genebra, D. Silvano Maria Tomasi, que é membro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A reportagem é do jornalista Mário Galgano:

“A posição da Santa Sé sempre foi aquela apoiada legalmente pelas Nações Unidas, ou seja, dois Estados independentes que respeitem mutuamente os seus direitos. Um Estado hebraico e um palestiniano. Jerusalém deve permanecer acessível às três grandes religiões abraâmicas: cristãos, muçulmanos e judeus. Dizer que Jerusalém é a capital somente de Israel, com as consequências jurídicas que poderiam surgir, complicaria certamente essa posição que desde sempre foi apoiada pelas Nações Unidas e também pela Santa Sé.”

“Eu diria que é preciso encontrar uma linha política não de divisão, mas de convergência de esforços para garantir a paz. Vemos que existe grande necessidade de trabalhar juntos, de compreender-se e, pelo contrário, estas afirmações…romper aquilo que é um pouco o consenso internacional, levam ao risco de novas violências. Devemos evitar isso de todas as maneiras.” 

Era D. Silvano Maria Tomasi, Observador Permanente Emérito da Santa Sé na ONU, em Genebra, entrevistado pelo jornalista da Rádio Vaticano Mário Galgano, apelando para uma convergência de esforços para garantir a paz em Jerusalém e no Médio Oriente.

Para D. Tomasi parece claro que a decisão de Donald Trump de transferir a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém pode vir a aumentar o perigo de novos conflitos na Terra Santa e no Médio Oriente.

Recordemos que a história do Médio Oriente teve vários momentos de rápida evolução durante o século XX. Desde logo, quando no final da Primeira Guerra Mundial, a Palestina ficou sob a responsabilidade do Reino Unido e os judeus começaram a emigrar para essa região.

Depois da Segunda Guerra Mundial dá-se a fundação de Israel como estado judaico. Contudo, as Nações Unidas sempre consideraram Jerusalém como uma espécie de território internacional.

No entanto, a partir daí muitas foram as disputas e os desentendimentos entre o recém-criado Estado de Israel e os países vizinhos como a Jordânia, o Egito, a Síria e a Palestina: problemas como a guerra israelo-árabe de 1948, a guerra dos Seis Dias em 1967 e a recente implantação dos colonatos israelitas que ainda se mantem em desenvolvimento.

A decisão do Presidente Trump pode vir a trazer graves consequências para a Terra Santa e para todo o Médio Oriente.

“Sal da Terra, Luz do Mundo”, é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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