2017-11-13 09:53:00

A opção pelos pobres no pontificado de Francisco


No próximo domingo, dia 19 de novembro celebra-se pela primeira vez o “Dia Mundial dos Pobres” que foi instituído pelo Papa Francisco no âmbito da Carta Apostólica ‘Misericordia et misera’ e recolhe inspiração no Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Em “Sal da Terra, Luz do Mundo” recordamos o essencial da Carta Apostólica do Santo Padre que institui o Dia Mundial dos Pobres e recuperamos a análise do padre Pacheco Gonçalves sobre a opção preferencial pelos pobres de Francisco.

Dia Mundial dos Pobres, segundo Francisco

A Carta Apostólica ‘Misericordia et misera’ foi apresentada na segunda-feira dia 21 de novembro de 2016 no Vaticano. Com esse texto o Papa decidiu instituir o “Dia Mundial dos Pobres” decidindo que deve ser celebrado no penúltimo domingo do ano litúrgico.

Este dia recolhe a sua inspiração no Ano Santo da Misericórdia, que teve o seu encerramento oficial no domingo dia 20 de novembro de 2016 e, em particular, no ‘Jubileu das Pessoas Socialmente Excluídas’, que se realizou no Vaticano no dia 13 de novembro desse ano.

“Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo Extraordinário, deve-se celebrar em toda a Igreja, na ocasião do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres” – é o que escreve Francisco na sua Carta Apostólica ‘Misericordia et misera’, que marcou o final do Jubileu da Misericórdia.

O Santo Padre afirma ainda que o ‘Dia Mundial dos Pobres’ é uma “digna preparação para bem viver a Solenidade de Cristo Rei do Universo”, que encerra o ano litúrgico. Uma forma para promover a identificação da Igreja com os “mais pequenos e os pobres”.

Francisco observa ainda que “não poderá haver justiça nem paz social” enquanto “Lázaro” jaz “à porta da nossa casa”.

Desta forma, segundo o Papa, o “Dia Mundial dos Pobres” é para ajudar as comunidades e cada batizado a “refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho”.

“Não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se de um convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica” – declara o Santo Padre na sua Carta Apostólica.

Ir ao encontro dos que padecem de fome e de sede para “renovar o rosto da Igreja” – afirma Francisco apelando para que a Igreja seja “testemunha da misericórdia” dando respostas concretas em campos como as migrações, as doenças, as prisões, o analfabetismo e a ignorância religiosa.

O Papa recorda ainda os desempregados, os sem-abrigo, os sem-terra, as crianças exploradas e todas as situações que exigem uma “cultura de misericórdia” que combata a indiferença e a desconfiança entre seres humanos.

Na sua Carta Apostólica Francisco convoca os cristãos para uma “revolução cultural” dos pequenos gestos “a partir da simplicidade” e afirma que estamos a viver “o tempo da misericórdia”.

Os pobres no pontificado do Papa Francisco

O padre José Maria Pacheco Gonçalves, nosso colega durante muitos anos em Roma na redação de língua portuguesa da Rádio Vaticano, propôs, no final do Ano Santo da Misericórdia nesta rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”, uma leitura sobre a importância da misericórdia no pontificado do Papa Francisco.

Recuperamos agora uma parte dessa reflexão precisamente sobre a importância específica do tema dos pobres no pontificado de Francisco:

“Estou-me a lembrar de duas intervenções: uma quando interveio em Florença no V Congresso Eclesial Nacional Italiano que tinha como tema “Em Jesus Cristo, um novo humanismo”. Aí o Papa citou-se a si próprio e o que tinha dito na Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho” de 2013 sobre a inclusão social dos pobres. Recordou, uma vez mais, que eles têm um lugar privilegiado no Povo de Deus e disse que ‘nós somos chamados a descobrir Cristo neles. Não só emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, escutá-los, compreendê-los e acolher’ – disse – ‘a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles’. Outra passagem é precisamente, na Exortação Apostólica de 2013 quando fala, no capítulo IV, da dimensão social da evangelização: aí fala da inclusão social dos pobres e recorda que ‘a falta de solidariedade em relação às necessidades dos pobres influi diretamente na nossa relação com Deus’. ‘Para a Igreja’ – escreve o Papa – ‘a opção pelos pobres é uma categoria teológica antes de ser uma categoria cultural, sociológica, política ou filosófica. E não se trata apenas de ações ou de programas, mas é, acima de tudo, uma atenção muito pessoal, cheia de amor ao outro, dando valor ao pobre com o seu modo de ser, a sua cultura, o seu modo de viver a fé’. Aqui se inclui toda a insistência do Papa no valor e no respeito que merece a religiosidade popular que ele conhece bem da América Latina, em que este valorizar concretamente o mais débil é o que faz a diferença. Que diferencia a autêntica opção pelos pobres duma qualquer forma de ideologia ou de utilização dos pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos.”

“Encontrei também um texto que é mesmo dos primeiros tempos e que foi o primeiro encontro com novos embaixadores, que é sempre uma ocasião de lembrar alguns aspetos importantes, e ali era com seis embaixadores de países todos eles pequenos, mas de diversos continentes. Entre eles recordo o Botswana e o Luxemburgo. E o Papa, nesse encontro em maio de 2013, pouco depois da sua eleição, aproveitou para abordar a questão da pobreza falando a partir da relação distorcida com o dinheiro com uma referência direta à crise financeira. Disse o Papa nessa altura: ‘nós criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova versão na idolatria do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto nem finalidade humana’. E observou: ‘O ser humano passou a ser visto como um bem de consumo que se pode usar e deitar fora’. E terá sido aí que ele utilizou pela primeira vez a expressão: uma cultura do descarte, que precisa ser denunciada. Lamentou que a solidariedade se tenha gasto como palavra e seja considerada contraproducente e contrária à racionalidade financeira. E foi ao ponto de dizer: ‘Por detrás desta atitude esconde-se a recusa da ética e a recusa de Deus porque a partir de certa altura Deus escapa às categorias do mercado. Deus aparece não regulável’. Mais ainda: ‘Deus aparece perigoso, na medida em que chama o homem à sua plena realização e à independência de todo o tipo de escravidão’. Não teve receio de citar S. João Crisóstomo quando dizia: ‘não partilhar com os pobres os próprios bens é roubá-los, é tirar-lhes a vida. Os bens que nós possuímos não são nossos mas são deles. Seria desejável uma reforma financeira que seja mesmo ética e que produza e conduza a uma reforma económica que seja salutar para todos’. “

“Estou a pensar quando foi a Assis, o Papa nunca tinha ido a Assis, e quando lá foi não fez uma visita de turismo religioso. Passou pela Basílica de S. Francisco, deteve-se em oração junto do túmulo do santo, mas o primeiro número do programa foi ir visitar longamente, quase uma hora, uma casa de acolhimento de deficientes profundos que os frades menores lá têm. Isto também foi um sinal. A prioridade está nisso e é nisso que se vê Francisco de Assis como modelo. Aliás, há uma citação muito importante sobre Francisco de Assis na Encíclica ‘Laudato Si’ em que o Papa diz, mais ou menos isto: ‘Francisco é o exemplo por excelência do cuidado por aquilo que é frágil, ele manifestou uma atenção especialíssima pelos mais pobres e abandonados. Ele vivia como peregrino com simplicidade, nele se vê como são inseparáveis a preocupação com a natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior’. Cá está esta visão bastante completa, ampla, em todas as direções, de uma atitude evangélica que é a atitude de Jesus, que ele (Papa Francisco) assume como sendo a única atitude a apontar à Igreja e a tentar viver dia após dia.”

Era o padre José Maria Pacheco Gonçalves refletindo sobre a importância dos pobres no pontificado do Papa Francisco. O Dia Mundial dos Pobres tem a sua primeira edição neste domingo dia 19 de novembro.

“Sal da Terra, Luz do Mundo”, é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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