2017-10-30 09:43:00

Idolatria do dinheiro mata de fome muitas pessoas


O apego ao dinheiro é uma idolatria que mata não permitindo ver “crianças que não têm remédios, que não têm educação, que estão abandonadas” e que precisariam da nossa ajuda. Como por exemplo os rohingya – foi o que disse o Papa na Missa em Santa Marta no dia 23 de outubro.

Nesta edição de “Sal da Terra, Luz do Mundo” recordamos e aprofundamos as palavras do Papa a propósito do povo rohingya a poucas semanas da viagem de Francisco a Myanmar.

Deus coloca o limite

Segunda-feira, 23 de outubro – na Missa na Capela da Casa de Santa Marta, Francisco comentou a leitura do Evangelho de S. Lucas proposta pela liturgia do dia. O homem rico cujo dinheiro é o seu Deus era a parábola que o texto apresentava. Este homem pensava só em aumentar o seu lucro entrando num “consumismo exasperado” – sublinhou o Papa que assinalou que o verdadeiro tesouro não são os bens terrenos mas a relação com Deus. Pois é Deus que “coloca o limite a este apego ao dinheiro”:

“É Deus que coloca o limite a este apego ao dinheiro. Quando o homem se torna escravo do dinheiro. E esta não é uma fábula que Jesus inventa: esta é a realidade. É a realidade de hoje. Muitos homens que vivem para adorar o dinheiro, para fazer do dinheiro o próprio deus. Tantas pessoas que vivem somente para isto e a vida não tem sentido. ‘Assim faz quem acumula tesouros para si – diz o Senhor – e não se enriquece junto de Deus’: não sabem o que é enriquecer junto de Deus” – disse o Santo Padre.

Uma idolatria que mata

Concretizando a sua homilia, Francisco revelou um episódio acontecido na sua terra natal na Argentina: um homem rico de Buenos Aires que estava muito doente quase a morrer e mesmo assim, decidiu comprar uma mansão. Para o Papa também hoje existem pessoas que fazem o mesmo que este homem e não olham para as “crianças que não têm remédios, que não têm educação, que estão abandonadas” e continuam a idolatrar o dinheiro. Uma “ idolatria que mata” – declarou o Santo Padre que recordou o sofrimento do povo rohingya que morre de fome vivendo refugiado entre Myanmar e o Bangladesh:

“Esta idolatria mata de fome muitas pessoas. Pensemos apenas num caso: em 200 mil crianças rohingya nos campos para refugiados. Ali existem 800 mil pessoas. 200 mil são crianças. Mal têm o suficiente para comer, estão desnutridas, sem medicamentos. Também hoje isso acontece. Não é algo que o Senhor fala daqueles tempos: não. Hoje! E a nossa oração deve ser forte: Senhor, por favor, toca o coração dessas pessoas que adoram o deus dinheiro. Toca também o meu coração para que eu não caia nisso, que eu saiba ver” – disse o Papa no final da sua homilia alertando para que nas famílias não seja o “deus dinheiro” a ganhar, quando “está em jogo uma herança”. Procuremos em Deus o sólido fundamento da nossa existência – afirmou.

O sofrimento dos rohingya

Não foi a primeira vez que o Papa Francisco se referiu ao sofrimento do povo rohingya e, em particular, das crianças, que são sempre aquelas que mais sofrem. Recentemente, na oração do Angelus de domingo dia 27 de agosto o Santo Padre expressou a sua proximidade para com a minoria religiosa rohingya em fuga de Myanmar. Francisco pediu que fossem reconhecidos os seus direitos:

“Chegaram tristes notícias sobre a perseguição contra a minoria religiosa, os nossos irmãos Rohingya. Gostaria de expressar toda a minha proximidade a eles, e todos nós pedimos ao Senhor para salvá-los e para suscitar homens e mulheres de boa vontade para ajudá-los, que lhes deem plenos direitos. Rezemos também pelos irmãos rohingya” – declarou o Papa.

São milhares os civis rohingya que se amontoam na fronteira de Myanmar com o Bangladesh. Fogem da perseguição e da violência do exército de Myanmar, país que vive uma grave crise. A Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, personalidade muito influente no seu país, Myanmar, pouco ou nada tem conseguido na resolução desta situação do povo rohingya.

Este povo é muito discriminado: são 1 milhão de pessoas entre os 54 milhões de habitantes do país, com 90% de budistas. Eles são privados de cidadania e de direitos fundamentais por uma lei aprovada em 1982. Não são sequer considerados  como pertencentes a nenhum dos 35 grupos étnicos oficialmente reconhecidos. Não podem votar. Em 2016 centenas de milhares de rohingya fugiram para o Bangladesh, mas ninguém quer acolher estas embarcações cheias de refugiados.

Na audiência geral de dia 8 de fevereiro passado o Papa já tinha falado do sofrimento deste povo. Francisco chamou irmãos a este povo de fé muçulmana:

“Eu gostaria de rezar convosco, hoje, de modo especial pelos nossos irmãos e irmãs Rohingya: expulsos de Myanmar, vão de um lugar para o outro porque não os querem, ninguém os quer. É gente boa, gente pacífica. Não são cristãos, são bons, são irmãos e irmãs nossos! Há anos sofrem. Foram torturados, mortos, simplesmente porque levam em frente as suas tradições, a sua fé muçulmana” – afirmou.

A perseguição dos rohingya teve origem numa ditadura militar que durou quase 50 anos e que sempre reprimiu as minorias étnicas. Francisco visita o Myanmar e o Bangladesh de 27 de novembro a 2 de dezembro.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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