2017-09-14 17:51:00

Pela paz e reconciliação na Colômbia


O Papa Francisco visitou a Colômbia de 6 a 10 de setembro, naquela que foi a 20ª Viagem Apostólica Internacional do seu pontificado. Uma visita em nome da paz e da reconciliação num país dilacerado por mais de 50 anos de conflito armado.

Em “Sal da Terra, Luz do Mundo” destacamos a grande vigília de oração pela reconciliação nacional e a paz na Colômbia presidida pelo Santo Padre que teve lugar na cidade de Villavicencio na sexta-feira dia 8 de setembro.

Sobre o processo de paz e reconciliação em curso registamos as declarações à Rádio Vaticano de Dom Óscar Urbina Ortega, arcebispo de Villavicencio, recentemente eleito Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia e ainda as declarações de Mons. Hector Henao, Diretor da Caritas da Colômbia.

No dia 8 de setembro encontraram-se, lado a lado, vítimas da violência, militares e ex-guerrilheiros, numa celebração que reuniu cerca de 6 mil pessoas no Parque Las Malocas em Villavicencio a cerca de 100 km da capital colombiana Bogotá. Nesta vigília presidida pelo Papa foram evocados os sofrimentos, a dor e o sangue derramado de milhões de vítimas.

A abraçar este momento de oração pela paz, o Cristo negro de Bojayá, uma imagem de Cristo sem pernas nem braços. Uma imagem com “um forte valor simbólico e espiritual” – disse Francisco – o “Crucificado de Bojayá que a 2 de maio de 2002 presenciou e sofreu o massacre de pessoas refugiadas na igreja”:

“Ao fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nas últimas décadas. Ver Cristo assim, mutilado e ferido, interpela-nos” – afirmou o Papa. 

No seu discurso o Santo Padre começou por afirmar estar consciente de estar numa “terra sagrada”, tal como Moisés, porque é uma “terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes”.

Foram vários os testemunhos nesta celebração: Juan Carlos Murcia Perdomo, antigo combatente das Farc; Deisy Sanchez Rey, recrutada pelas ‘Autodefesas Unidas da Colômbia’; Luz Dary Landazury, vítima de uma mina; Pastora Mira García, que assistiu ao assassínio de familiares. O Papa Francisco ouviu, agradeceu e saudou os vários intervenientes e afirmou que estas são “histórias de sofrimento e amargura, mas também, e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração.”

No final de seu discurso Francisco pediu aos colombianos para abrirem o coração à reconciliação sem terem medo de pedir e dar perdão. Tempo para “apagar os ódios, renunciar às vinganças e abrir à convivência baseada na justiça, na verdade e na criação duma autêntica cultura do encontro fraterno” – declarou o Papa no final da sua intervenção.

A propósito do caminho de reconciliação nacional e o processo de paz que está a viver a Colômbia, prestou declarações à Rádio Vaticano, na reportagem da enviada especial Giada Aquilino, o arcebispo de Villavicencio Dom Óscar Urbina Ortega, recentemente eleito Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia. Eis um excerto das suas declarações:

“O caminho da reconciliação não é fácil, necessita de tempo, de paciência, de experiência, de coragem. É preciso ter tempo também para o processo de reconciliação com cada uma das vítimas e isso não assim fácil. Este é o compromisso maior, mas nós temos a força do Evangelho que nos ajudará, sem dúvida, mas temos que nos empenhar todos, padres, bispos e leigos.”

“Agora está a terminar o tempo da transformação dos membros das Farc num novo partido político, para participar nas eleições para o Parlamento e para o Presidente da República, que decorrerá no próximo ano em maio. Tudo isto não será fácil, mas existe vontade.”

O momento que se vive na Colômbia é de transformação como bem atesta a mudança da guerrilha Farc em movimento político que mantendo a mesma sigla se designa agora “Força Alternativa Revolucionária Comum”. Sobre a atual situação política e social da Colômbia, a jornalista da Rádio Vaticano, Giada Aquilino, ouviu o Diretor da Caritas daquele país, o Mons. Hector Henao:

“Foi feito um grande trabalho seja por parte do governo seja por parte das Farc e, em geral, pela sociedade colombiana, para procurar um caminho que levasse à reconversão deste grupo num grupo político: isto significa uma grande mudança. Se calhar no início será difícil para os ex-guerrilheiros perceber toda a dinâmica da democracia, porque estiveram envolvidos em tantas atrocidades e em tantas ações de guerra. Mas creio que seja uma oportunidade para eles e também para a sociedade, em particular, para aquelas regiões que sofreram o conflito armado. Cada uma destas regiões, no próximo ano, por ocasião das eleições presidenciais e parlamentares, terá a oportunidade de eleger um membro do Parlamento de entre as organizações sociais presentes no território.”

“As vítimas tiveram, há algum tempo atrás, uma lei especial para a reparação e a retribuição. O caminho a percorrer é ainda longo, porque de um lado há 8 milhões de vítimas, mas do outro lado falta o dinheiro para concluir o projeto da reparação. Depois há muita gente que não sabe quais são os mecanismos para receber os benefícios da lei. Eu recordo muito bem uma pessoa, uma vítima, que encontrei no caribe colombiano: durante um grande encontro depois de ter narrado toda a sua história de sofrimento, a da sua comunidade e da sua família, terminou colocando uma pergunta: ‘Como posso eu continuar a viver com este sofrimento tão grande?’. Ou seja, a sociedade não foi capaz de acompanhar e talvez de dar o alívio que estas pessoas procuravam.”

“Quando se chega a um acordo de paz começam sempre a emergir novos riscos. Nós temos uma violência que provém de todas as situações que têm que ver com o narcotráfico e as outras atividades ilegais. Como Igreja continuamos a trabalhar mesmo nas regiões mais difíceis, continuamos a estar ali, nas paróquias, onde a violência é ainda muito forte.”

A visita do Papa Francisco à Colômbia assentou em 4 etapas temáticas em 4 cidades: em Bogotá o tema da vida, em Villavicencio a reconciliação, em Medellin a vocação e em Cartagena o tema dos direitos humanos.

De destacar que foram beatificados dois mártires colombianos: o bispo de Arauca, Jesus Emilio Jaramillo Konsalve, assassinado no dia 2 de outubro de 1989 e o padre Pedro Maria Ramirez Ramos, assassinado a 10 de abril de 1948.

Na Colômbia são muitos os riscos no atual momento político e social que decorre do processo de paz e de reconciliação nacional. Recordemos que aconteceram vários escândalos de corrupção envolvendo políticos e também juízes. Ao mesmo tempo, não obstante o acordo de paz assinado entre o governo e as Farc, a verdade é que existe ainda um outro movimento de guerrilha a Eln, Exército de Libertação Nacional. O caminho é ainda longo e difícil.

A visita do Papa Francisco à Colômbia foi um grande acontecimento para o país e poderá ter sido um momento gerador de motivação e de coragem para o futuro. Foram dias de fé e de esperança na paz e na reconciliação que o povo colombiano tanto deseja.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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