2017-08-01 10:04:00

Moderação e diálogo para a paz no Médio Oriente


No Angelus de domingo dia 23 de julho o Papa Francisco pediu moderação e diálogo para Jerusalém. Nesta edição de “Sal da Terra, Luz do Mundo” procuramos refletir sobre as tensões no Médio Oriente. Recordamos as palavras do Santo Padre e propomos as reflexões do padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa e do padre David Neuhaus, vigário patriarcal para os católicos de expressão hebraica.

Foi no dia 23 de julho, na mensagem após a oração mariana do Angelus no XVI Domingo do Tempo Comum, que o Papa Francisco apelou para o fim da violência em Jerusalém pedindo moderação e diálogo. Referindo-se aos confrontos ocorridos nos dias anteriores entre palestinianos e a polícia israelita, o Santo Padre pediu a todos “propósitos de reconciliação e de paz”:

“Acompanho com preocupação as graves tensões e as violências destes dias em Jerusalém. Sinto a necessidade de expressar um premente apelo à moderação e ao diálogo. Convido-vos a unirem-se a mim na oração, para que o Senhor inspire em todos, propósitos de reconciliação e de paz” – disse o Papa.

Nesta mensagem o Santo Padre refere-se ao clima de tensão que tem percorrido o Médio Oriente nas últimas semanas e que provocou mortos e feridos palestinianos e israelitas. Tudo começou após o assassinato de dois polícias israelitas no dia 14 de julho.

Sobre esta situação a Rádio Vaticano ouviu o padre David Neuhaus, vigário patriarcal para os católicos de expressão hebraica que afirma ter “esperança” que os “líderes políticos possam ouvir e acolher” as palavras do Papa e possam “fazer alguma coisa”:

“Porque nós estamos ainda num ciclo de violência muito forte. Nós estamos na tristeza, na angústia e nós queremos muito que estas palavras sejam acolhidas.”

O padre David Neuhaus sublinhou ainda nas suas declarações à Rádio Vaticano que “todo o mundo árabe olha com muita angústia para aquilo que está a acontecer em Jerusalém, porque Jerusalém é querida por todos”.

O sacerdote jesuíta que acompanha os católicos de expressão hebraica na Terra Santa referiu também que a principal palavra neste momento deve ser o perdão e acredita que “a Igreja nesta situação tem um papel muito importante.”

“O Papa, os nossos bispos, os padres, todos os fiéis, porque nós devemos adotar um discurso que mostre que nós somos verdadeiramente um povo que pede a justiça e a paz no amor e no desejo de reconciliação” – disse o padre David Neuhaus.

Entretanto, ao mesmo tempo que os acontecimentos cresciam em tensão e conflito, tinha lugar em Jerusalém um fórum inter-religioso dedicado ao valor da cidade para judeus, cristãos e muçulmanos. Um encontro onde se procuravam caminhos de paz e reconciliação.

Tratou-se de uma iniciativa da Universidade Europeia de Roma em colaboração com a Associação Diplomatas que decorreu no âmbito da escola de verão “História Viva: Israel e Territórios Palestinianos”. O tema deste fórum foi: “Jerusalém e as religiões monoteístas: símbolos, atitudes e vida real”.

Sobre este evento e ainda antes dos violentos acontecimentos em Jerusalém, o padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa falou à Rádio Vaticano. Transmitimos aqui excertos das suas declarações:

“Cada uma das três comunidades tem a sua própria narração da história e está ligada aos lugares. Por isso, por exemplo, o caso emblemático é aquele da Esplanada do Templo, que é também a Esplanada das Mesquitas. Na narração islâmica diz respeito ao terceiro lugar sagrado do Islão, mas na narração hebraica refere-se ao lugar no qual estava o Templo e, portanto, o lugar que na história era o mais sagrado para o hebraísmo. Para nós Jerusalém quer dizer sobretudo o Santo Sepulcro, o Calvário. Portanto, as narrações de cada uma das comunidades devem ser de qualquer modo partilhadas, de modo tal para se sair de uma espécie de convicção de ter o exclusivo ou o monopólio sobre a história da cidade ou sobre a cultura da cidade. Deste ponto de vista, as religiões monoteístas com os seus símbolos, com as suas atitudes, mesmo a vida concreta que estamos a viver, são chamadas a dar um contributo fundamental.”

“A arte maturada nesta cidade é uma arte muito antiga. O mesmo vale para a cultura: é uma cultura que deve ser absolutamente conhecida e cada um deve, de qualquer modo, conhecer a própria, porque a esta está ligada também a própria identidade, mas cada um, um pouco de cada vez, deve conhecer a cultura do outro e portanto a sua identidade, porque é impossível pensar num diálogo sério, que não seja superficial, se não existe esta interação entre as identidades. Mas diria que são importantes também as iniciativas de caráter cultural a um nível mais simples: as iniciativas ligadas à ligação com as escolas no conhecimento daquilo que há em Jerusalém. Por exemplo, abrimos uma exposição multimédia do Museu da Terra Santa ao longo da Via Dolorosa e a maior parte dos estudantes que vêm visitar são muçulmanos; assim estamos a fazer noutros santuários, assim estamos a fazer sobre pedaços de arte específica como são os mosaicos. Assim também com o mundo hebraico há figuras de contacto e de união.”

Neste fórum inter-religioso de Jerusalém esteve presente o presidente do Conselho Internacional de Cristãos e Judeus, o Rabino David Rosen, protagonista do diálogo judaico-cristão desde o pontificado de João Paulo II; também esteve o filósofo palestiniano Sari Nusseibeh, presidente da Universidade al Quds; ainda o estudioso de língua e tradições judaicas, Cyril Aslanov, e o analista do mundo islâmico, Alexander Greenberg. Estiveram presentes neste fórum especialistas de geopolítica e foram também apresentados testemunhos de experiências de diálogo inter-religioso.

Entretanto, foi divulgado na semana passada pelo site do Patriarcado Latino de Jerusalém a notícia de que teve lugar no Centro Nossa Senhora de Jerusalém nos dias 12 e 13 de julho, um outro evento inter-religioso, que agora foi dado a conhecer. Tratou-se de uma conferência inter-religiosa para a paz com o título “Ver mais além da tempestade”.

Mais uma iniciativa que só agora é dada a conhecer e que segundo a agência AsiaNews fez encontrar representantes de relevo das três religiões monoteístas da Terra Santa: o cardeal Luis António Tagle, arcebispo de Manila, o doutor Adamou Ndam Kjoya, professor da Universidade de Yaoundé, o rabino Jonathan Henry Sacks, rabino emérito de Inglaterra, Dom William Shomali, vigário episcopal do Patriarcado Latino de Jerusalém para a Jordânia, e ainda o ministro para os assuntos religiosos da Autoridade Palestiniana Mahmoud al-Habbash. Estes e outros oradores aprofundaram o significado do perdão.

Também nos últimos dias a Universidade de Al Azhar, maior centro académico-teológico do Islão sunita, anunciou a sua intenção de promover uma conferência internacional sobre Jerusalém, em princípio no mês de setembro.

Todas estas são belas razões para acreditarmos sempre na força do diálogo para a paz no Médio Oriente.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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