2017-06-03 17:00:00

Vaticano e Wim Wenders preparam filme com o Papa Francisco


Domingo 28 de Maio 2017 caiu o pano sobre a 70ª edição do Festival de Cannes, no Sul da França. É um dos mais importantes festivais de cinema, no mundo.

A Igreja participa nela desde 1974 com um júri ecuménico que este ano atribuiu o seu prémio ao filme japonês, “Hikari”, história de uma jovem mulher, Misako, que torna os filmes acessíveis a cegos através da áudio-descrição.

Mas este ano, a Igreja teve uma presença especial no Festival: um enviado do Papa: Mons. Dário Viganó. Ele é o Prefeito da Secretaria da Santa Sé para a Comunicação Social.

Segundo o P. Janvier Yameogo que o acompanhou, esta participação surgiu no âmbito do chamado Festival Sacré de La Beauté- Espiritualité et Cinema” “Off” da Alma, uma espécie de festival espiritual paralelo, a cargo de “A Diaconia da Beleza”, grupo criado em 2012 para fazer com que os artistas se tornem testemunhas da Beleza de Deus na arte. Foi este grupo que convidou o Vaticano a participar.

D. Dário Viganó sentia-se em Cannes como peixe na água, pois que é um especialista, um estudioso de cinema. Aliás, é sua a frase:  “cada campanário uma sala de cinema”; e já foi mesmo Presidente da Fundação italiana “Ente dello Spetacolo” que promove a cultura cinematográfica, de modo particular – recordou o P. Janvier Yameogo.

Mons. Dário Viganó foi a Cannes levar uma mensagem da Igreja e como perito em cinema

 “E dada a sua visão de cinema, que é, aliás, retomada pelo Papa Francisco – o cinema como lugar de revelação do Divino - aliás na mensagem que deu, D. Dário disse que o cinema conseguiu emergir nos traços do invisível de Deus e capturar mesmo  as manifestações de Deus e da sua misericórdia na História dos Homens. E citou vários filmes neste sentido. Portanto, ele ia neste quadro, providencialmente, o tema deste ano para o Dia Mundial da Comunicação Social que teve lugar domingo 28 de Maio, era “Não temas porque eu estou contigo: comunicar a esperança e a confiança no nosso tempo”. E justamente, a mensagem que foi transmitida por Mons. Dário Viganó era “Cinema: narração de Esperança”; ele terminava sublinhando que o cinema empenhado tem efectivamente ajudado o homem a encontrar Deus. E ele citou várias vezes a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Comunicação em que se diz que por detrás dos dramas humanos, por detrás do que é encenado no cinema, está algures o mistério da salvação, uma história de salvação que se desenrola entre o homem e Deus através da sua misericórdia, da sua compaixão.”

- Tudo vem, portanto, na linha da preocupação da Igreja de estar presente nos meios modernos de comunicação, de os evangelizar e de servir-se deles para evangelizar?!

Na realidade, há dois movimentos que são complementares nesta acção. Ir ao encontro desse mundo para, ao mesmo tempo, revelar-lhe que Deus está presente, já está ali, não o vemos, mas quem está atento ao Espírito Santo, os olhos do crente – disse Mons. Viganó – entrevê atrás dos dramas humanos um caminho de esperança, uma abertura em direcção à eternidade de Deus. É isto que ele foi levar”.

A missão de Mons. Viganó a Cannes durou apensas 24 horas, quinta-feira 25 de Maio. Não houve tempo para ver filmes, mas a missão teve vários momentos fortes  - disse-nos o P. Janvier: um encontro com o Presidente do Festival de Cannes, Pierre Lescure; com o Presidente da Câmara Municipal de Cannes; uma missa nesse dia da Ascensão de Jesus ao Céu, na Basílica Nossa Senhora da Boa Viagem; um encontro com o Júri ecuménico e duas conferências de imprensa em jeito de mesa redonda, uma em francês e outra em inglês. Momentos todos profícuos em que o enviado do Papa foi recebido com positividade e alegria – disse o P. Janvier, acrescentando um aspecto importante desta visita:

Wim Wender e Mons. Dário Viganó preparam film sobre e com o Papa Francisco

Falei antes de Mons. Dário Viganó e não falei de Vim Wenders que, na realidade, era o protagonista, ao lado de Mons. Dário, das duas mesas redondas. Sabe que durante o Festival foi anunciado que Wim Wenders está a preparar, há dois anos, em cooperação com Mons. Dário, um filme sobre o Papa Francisco. Não se trata de um filme biográfico. Trata-se  - disse Wim Wenders – de um diálogo do Papa com o mundo sobre questões de grande interesse para a humanidade, como a ecologia, a emigração, a economia. Ele disse estar contente por ter podido aceder a documentos do Centro Televisivo do Vaticano, sobre os quais vai trabalhar e o filme sairá certamente em Janeiro de 2018. E foi, justamente com este cineasta que é protestante e que obteve o prémio Cannes [em 1987, com o filmes “O Céu sobre Berlim”], que Mons. Dário Viganó, falou sobre a capacidade do cinema de orientar efectivamente o homem em direcção a Deus.” …

E que questões, de forma geral, punham os jornalistas?

Os jornalistas quiseram saber se o Papa vê filmes, se ia ao cinema… e assim por diante… É claro que as respostas não eram directas, mas quando o Papa se faz ele próprio protagonista na próxima produção, há realmente algo de especial, porque é a primeira vez que um Papa se presta, em primeira pessoa, a este exercício para o cinema. É realmente algo especial… “

Então vamos ter Francisco como actor no filme?!

“Ah sim, ah sim”

Expectativas

Para além deste filme, que outras expectativas em relação a esta missão da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé, ao Festival de Cannes?

É preciso dizer que é com confiança no Espírito Santo que se empreendem acções deste tipo. Dizia antes, que houve um acolhimento magnifico da parte das autoridades, dos cineastas, porque há o ambiente deste festival paralelo se chama “Off” da Alma, falei da “Diaconia da Beleza” que organizou este festival no seio do Festival de Cannes para que houvesse essa iniciativa na qual entramos, mas em diálogo com a Igreja em França e com a organização do Festival para marcar o interesse da Igreja e, para além desse interesse, há o interesse de Deus pelo homem, porque esta é a verdadeira missão da Igreja: ir por todo o lado e mostrar isto. E emergiu em todas as mensagens que dava Mons. Viganó: caminhar com o homem, encontrar os homens e ajudá-los a conhecer a misericórdia de Deus. Mons. Dário Viganó deu o exemplo do filme premiado o ano passado em Cannes: “Eu, Daniel Blake” de Ken Loach. E disse que esse filme é uma denuncia contra o rosto desumano da burocracia que esmaga, na maior parte dos casos, os que são já miseráveis, sem defesa, mas é também uma história de esperança que se acende, graças à misericórdia, ao dom de si, pelo bem do outro. E este esforço da Igreja em ir ao encontro da realidade do homem e o acompanhar a ver Deus que caminha com eles e não os abandona. É este esforço missionário. Não é que vamos impor um ponto de vista ou uma mensagem, Não! Trata-se de tomar consciência de que Deus está à obra, está já a agir e ajuda os homem a ver que através das encenações que fazem, Deus está já aí para os acompanhar. Mas compete-nos a nós empurrá-los através da luz do Espírito Santo para que vejam Deus já em acto nas suas vidas”.

Mons. Dário Viganó é um especialista do cinema ocidental. E o P. Janvier Yameogo, para além disso, é também um conhecedor do FESPACO (Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ougadougou) que, aliás, se passa no seu país natal, o Burkina-Faso. Embora a vossa missão a Cannes tenha sido de apenas 24 horas, que diferença viu entre estes dois festivais?

“O Festival de Cannes é muito elitista; é para especialistas, jornalistas e para compradores de filmes, para business. O FESPACO comporta estes elementos, mas é muito mais popular. E isto está ligado à origem dos dois festivais. O FESPACO nasceu num contexto de procura de autonomia, de reivindicação da parte dos africanos de poder, eles também, exprimir-se através da 7ª arte. Cannes nasceu noutro contexto. Critica-se o cinema africano de não estar maduro. Do ponto de vista técnico talvez, mas do ponto de vista humano, não. Por ex., o filme “Felicitité” de Alain Gomis, que venceu o grande prémio do FESPACO deste ano e mesmo o Urso de Prata no Festival de Berlim, é um filme de qualidade. Mas a selecção dos filmes é diferente no FESPACO. Há uma dezena de salas em toda a cidade de Ouagadougou e mesmo fora para fazer viver o cinema de forma popular. Em Cannes é o contrário. Vi jovens com cartazes a pedir quase como quem mendiga a possibilidade de entrar porque mesmo que tenham dinheiro, não podem. Em Ouagadougou fazem longas filas, mas entram e vêem o filme. Não há nada a ver com Cannes”

Africa na 70ª edição de Cannes

Nesta 70ª edição do Festival de Cannes a África esteve representada por dois filmes: “I’m not a Witch”, (Não sou uma feiticeira) da jovem realizadora zambiana Rungano Nyoni, e por  um filme documentário “Makala: uma odisseia congolesa” ambientado na República Democrática do Congo e realizado pelo francês Emmanuel Gras. Ambos foram projectados no sector “La semaine de la Critique” do Festival, em que o filme de Emmanuel Gras venceu o “Grande Prémio Nespresso”. O filme retrata o percurso que faz um vendedor de carvão de uma profunda aldeia da RDC até à cidade com todas as peripécias que tem de enfrentar para vender o carvão e melhorar a vida. Mostra o esforço de desenvolvimento vencendo enormes dificuldades.

(DA)








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