2017-05-23 11:26:00

Fátima: um manto de Luz que alimenta a esperança


O Papa Francisco esteve em Fátima nos passados dias 12 e 13 de maio como peregrino da paz e da esperança. Nesta nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo” fazemos uma análise das mensagens do Santo Padre na sua peregrinação ao Santuário de Fátima em Portugal no comentário do docente de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, José Carlos Carvalho.

“Quereis oferecer-vos a Deus?” – com esta pergunta de Maria aos pastorinhos repetida por Francisco aos doentes reunidos na colunata do Santuário de Fátima, podemos sublinhar a inquietação lançada pelo Santo Padre às centenas de milhares de peregrinos no Centenário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria nos dias 12 e 13 de maio deste ano.

Pela esperança e pela paz, o Papa fez-se peregrino, foi recebido com grande emoção e alegria, envolveu-se no clima de oração e recolhimento, canonizou os pastorinhos Francisco e Jacinta e propôs pistas de reflexão e discernimento para a vida dos que procuram o Senhor caminhando com Maria.

O nosso programa pediu a José Carlos Carvalho, docente de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, que fizesse um comentário às principais mensagens do Papa Francisco. Desde logo, a mensagem do Santo Padre proferida na noite de sexta-feira 12 de maio antes da recitação do Terço: nesse momento o Papa afirmou que através do “Terço” o “Evangelho retoma o seu caminho na vida de cada um, das famílias, dos povos e do mundo”. Foi esta a análise de José Carlos Carvalho:

“Percebe que a oração do Terço é ela própria pedagógica, que na sua simplicidade é um meio pelo qual o povo de Deus na recitação dos mistérios reencontra o Evangelho. Por essa via simples de uma oração muito simples, numa fórmula breve, repetida, que é a oração do Terço, nós recentramos a atenção em Maria e com ela no Filho. Portanto, de facto o rezar o Terço é voltar a pôr Deus no centro, porque nós quando rezamos o ave maria estamos a pedir a Jesus que volte ao nosso seio, à nossa história. Dizemos bem de Maria por ser a mãe, mas dizemos bem porque ela foi a mãe do Filho. Não é uma maternidade isolada.

Portanto, numa oração pedagógica, que na sua simplicidade é pedagógica, é fácil, a Igreja está nesse momento a colocar-se como disse o Papa no caminho do Evangelho. E nesse sentido, entendemos que é um meio privilegiado: sem grandes fórmulas complexas, sem termos muito codificados, mas da experiência da história de Nossa Senhora, nós somos colocados aí, com a ajuda de Maria, reencontramo-nos na condição de peregrinos, de indigentes da salvação, de quem necessita da graça da misericórdia de Deus, então por aí, com essa oração e com o auxílio de Maria, ela volta-nos a colocar o olhar em direção a Deus.

E penso que o Papa tem toda a razão em dizer: com o Terço, com Maria, ela ajuda-nos a voltar a olhar para o seu filho. Esse é o sentido que eu encontro nas palavras do Papa nessa passagem. E depois no resto da sua intervenção na sexta-feira eu julgo que vai nesse sentido: ao avisar a Igreja de que a piedade popular mariana não tem um fim em si mesma, mas ela existe com a intercessão de Maria, para nos ajudar a centrar a atenção, o coração, a inteligência, no seu Filho. E também avisar que, por vezes, é necessário corrigir algumas imagens que se criam dessa piedade. Sobretudo aquele mentalidade de troca que é transversal à história da Igreja: eu dou se tu me deres e só te dou se tu me deres, ou então, porque tu me deste eu dou-te. Ora a relação com Deus não pode ser meramente baseada nesta relação de favor de troca quase que de pagamento.

Eu considero que o resto da mensagem do Papa Francisco vai nesse sentido. Chamar a atenção para uma misericórdia que nos precede, que é maior do que isso e quando nós damos, nós não estamos a retribuir, estamos apenas a reconhecer alguém que é maior do que nós e que nos dá aquilo que não podemos obter.”

No dia 13 de maio, sábado, na homilia da Missa que o Santo Padre celebrou na Cova da Iria, Francisco referiu a experiência de Fátima como um “manto de Luz” e afirmou que os cristãos “agarrados a Maria” devem viver da esperança que assenta em Jesus. Eis a reflexão, a este propósito, de José Carlos Carvalho, professor de Teologia da Universidade Católica Portuguesa:

“Esse manto de Luz! É verdade que é a imagem que está nas aparições e que os pastorinhos experimentaram… eles depois de facto atestam da alegria que é viverem envolvidos nessa Luz… e essa Luz não é Maria, dizem eles: ‘Maria irradiava a Luz e a Luz era Nosso Senhor’. Portanto, esse manto de Luz que é Fátima, não apenas pelo espaço, que é um espaço luminoso, amplo, aberto à Luz; pela própria arquitetura cuja cor branca quer transmitir isso. A pedra de calcário, aquela pedra de Fátima é, precisamente, até de um ponto de vista geológico, a matéria que é usada para tentar dar cor a essa experiência. E a própria mensagem é uma mensagem que ilumina a vida e que tenta refletir a Luz da qual ela quer ser a tradução e a expressão. E a própria Luz é Cristo, obviamente.

Portanto, a Luz que irradiava das mãos de Nossa Senhora não era dela, Maria é nesse momento apenas mais um canal através do qual Deus quer no seu Filho vir ao nosso encontro iluminar a nossa vida. Na aparição de outubro ela manda-nos olhar para a Luz e o sol… e quem é o sol? O sol é o Filho no seu imaculado coração no seu sagrado coração. E essa Luz, como confessa o Francisco, era Deus.

A aparição mariana é apenas uma ocasião e uma intercessão para dirigir novamente o nosso olhar para o centro. E o centro não está em Maria. Como é constante nos Evangelhos, ela não é o centro, o centro é o Filho.

Estou convencido que o Papa saiu mais iluminado do que quando chegou. Ele quando sai do avião vinha assim algo triste, parecia cansado, mas ele regressou iluminado e reconfortado por essa Luz. Ele percebeu que aquela multidão está ali porque Nossa Senhora conseguiu pôr aquelas centenas de milhares de pessoas a olhar como peregrino para o Filho. E nesse sentido é uma mensagem de esperança. Ele veio na esperança de um Deus que não abandona a história. Não abandona desde 1917. Nunca abandonou. Naquele momento difícil continuou a não abandonar e ele (Papa) como peregrino da esperança e da paz… e é uma expressão feliz: é um manto de Luz… E ele até teve sorte porque até o céu se associou e fez com que a Luz iluminasse, porque mal ele saiu do recinto começou a chover.

De facto é um manto de Luz quer o espaço, quer a mensagem, quer aquela experiência de beleza, de conforto, que alimenta a esperança, que ela própria é uma esperança para nós e, nesse sentido, é pacificadora. Porque consegue, quando eu lá vou, refazer as contas da história.”

O Papa Francisco esteve em Portugal nos passados dias 12 e 13 de maio como peregrino da esperança e da paz visitando o Santuário de Fátima e encontrando-se com cerca de um milhão de pessoas que o acolheram e saudaram efusivamente no início das celebrações do Centenário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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