2017-04-27 09:29:00

Mensagem vídeo do Papa aos participantes do TED2017


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo aos participantes do TED2017, encontro que reúne expoentes mundiais do campo da economia, ciência e cultura, em Vancouver, no Canadá, sobre o tema “The future is you” (O futuro és tu).

“Num mundo em que a economia parece estar mais interessada com as coisas do que com as pessoas, a revolução da ternura é necessária para colocar as pessoas novamente no centro”, afirma o Papa na mensagem, sublinhando que “para mudar o mundo não devemos fechar-nos em nós mesmos, mas sair de nós mesmos e ouvir os outros, sobretudo o grito dos pobres e da Terra, nossa Casa comum.” 

 “A existência de cada um de nós, prosseguiu o Santo Padre, está ligada à existência dos outros. A vida não é tempo que passa, mas tempo de encontro”, disse ainda o Papa na sua mensagem de vídeo, dedicada sobretudo, à fraternidade e à solidariedade num mundo muitas vezes desfigurado pelo egoísmo, pelas guerras e por uma economia centrada nas coisas e nãos nas pessoas. 

“Espero que este encontro, prosseguiu Francisco, nos ajude a recordar que precisamos uns dos outros, que ninguém é uma ilha, um eu autónomo e independente dos outros. Podemos construir o futuro somente juntos, sem excluir ninguém. Muitas vezes não pensamos, mas na realidade tudo está interligado e precisamos de cuidar novamente das nossas ligações: até mesmo aquele julgamento duro que carrego no coração contra o meu irmão ou irmã, aquela ferida não curada, aquele mal não perdoado, aquele rancor que me fará somente mal, é um pedaço de guerra que carrego dentro de mim, uma chama no coração que deve ser apagada a fim de que não se transforme num incêndio e não deixe cinzas. Muitos, hoje não acreditam que seja possível um futuro feliz. Esses temores podem ser superados se não nos fecharmos em nós mesmos”. 

Francisco chamou em seguida a atenção para a necessidade de uma “maior equidade e inclusão social”. 

“Como seria bom, disse, se, enquanto descobrimos novos planetas distantes, redescobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que estão orbitando ao meu redor! Como seria bonito se a fraternidade, palavra tão bonita e às vezes incómoda, não se reduzisse somente a assistência social, mas se tornasse o comportamento principal nas escolhas políticas, económicas e científicas, nas relações entre pessoas, povos e países. Somente a educação para a fraternidade, para a solidariedade concreta, pode superar a cultura do descarte que não diz respeito somente ao alimento e aos bens, mas sobretudo às pessoas marginalizadas pelos sistemas tecnológico e económico que muitas vezes colocam no centro não o ser humano, mas os produtos do ser humano.”

 Quanto a solidariedade, o Papa recordou que ela “não é um mecanismo automático, não pode ser programada ou comandada: é uma resposta livre que nasce do coração de cada um. Se a pessoa entende que a sua vida, não obstante as contradições, é um dom, que o amor é fonte e sentido da vida, como pode reter o desejo de fazer o bem aos outros?” questionou.

“Precisamos sempre do outro, de um tu, um irmão do qual cuidar. A história do Bom Samaritano é a história da humanidade de hoje. No caminho dos povos existem feridas provocadas pelo fato de que no centro está o dinheiro, as coisas e nãos as pessoas. Há o costume muitas vezes de quem se considera ‘bom’ de não se importar com os outros, deixando muitos seres humanos, povos inteiros para trás, no chão pelas ruas. Há também quem dá a vida por um mundo novo, cuidando dos outros por conta própria. De fato, Madre Teresa de Calcutá dizia: «Não é possível amar a não ser às próprias custas»”. 

 “Graças a Deus, prosseguiu Francisco na sua mensagem vídeo, nenhum sistema pode anular a abertura ao bem, a compaixão, a capacidade de reagir ao mal que nasce do coração humano. Na noite dos conflitos que estamos vivendo, cada um de nós pode ser uma vela acesa que recorda que a luz prevalece sobre as trevas, não o contrário.”

É precisamente neste contexto que o Papa evidencia o valor da esperança, “virtude, disse, de um coração que não se fecha na escuridão, não para no passado, não vive sem um objectivo no presente, mas sabe ver o amanhã. A esperança é a porta aberta para o futuro. Basta um só homem para que haja esperança, e aquele homem pode ser você”, disse Francisco. 

Finalmente o Santo Padre concentrou a sua mensagem no tema da ternura: “ É, disse Francisco, o amor que se faz próximo e concreto. É um movimento que parte do coração e que chega aos olhos, aos ouvidos e mãos. A ternura é usar os olhos para ver o outro, usar os ouvidos para ouvir o outro, para escutar o grito dos pequenos, dos pobres, de quem teme o futuro; ouvir também o grito silencioso da nossa Casa comum, da Terra contaminada e doente. A ternura significa usar as mãos e o coração para acariciar o outro. Para cuidar do outro.
A ternura é a linguagem dos pequenos, de quem precisa do outro, das crianças e seus pais. Gosto de ouvir quando um pai ou uma mãe conversa com seu filho pequeno, quando se fazem pequenos, falando como a criança. É a ternura do abaixar-se ao nível do outro como Deus fez connosco. A ternura é o caminho que percorreram mulheres e  homens corajosos e fortes. A ternura não é fraqueza, é fortaleza: quanto mais és forte, mais as tuas acções têm um impacto sobre as pessoas e mais és chamado a ser humilde. Caso contrário, o poder acaba contigo e tu acabas com os outros. Na Argentina, se dizia que o poder é como o gim tomado em jejum: faz a cabeça girar, deixa a pessoa embriagada, faz perder o equilíbrio, leva a pessoa a fazer mal a si e aos outros se não for colocado junto com a humildade e a ternura. Com a humildade e o amor concreto, o poder, o mais alto, o mais forte, se torna serviço e difunde o bem” concluiu dizendo o Santo Padre, recordando mais uma vez, e nas sendas da filosofia africana do Ubuntu, que “o futuro da humanidade não está somente nas mãos dos políticos, dos grandes líderes e grandes empresas. Sim, disse, a responsabilidade deles é enorme, mas o futuro está sobretudo nas mãos das pessoas que reconhecem o outro como um ‘tu’, e a ‘si’ mesmos como parte de um ‘nós’”.








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