2017-03-03 12:06:00

Participação da Igreja no FESPACO - Considerações do P. Yameogo


Está quase a chegar ao fim a 25ª edição do FESPACO, o Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou. Iniciou no passado sábado 25 de Fevereiro e ao longo de uma semana cerca de 150 filmes de diversas categorias, seleccionadas entre um quase um milhar de propostas, são projectadas em nove salas cinematográfica da cidade. E são mais de dez mil os participantes só do estrangeiro. Um desafio para a segurança, visto o país ter sido em 2015 alvo de um mortífero ataque terrorista.

O tema deste edição do FESPACO é o constante desafio da formação para as profissões ligadas ao cinema.  E sobre isto se desencola  o principal colóquio do Festival, ao lado doutros encontros, debates e espectáculos.

A Igreja, como nos disse o P. Janvier Yameogo, a vez passada, celebrou a chamada “Missa dos Cineastas” no domingo a seguir à abertura e, além disso, tem as chamas “Jornadas Cristãs de Cinema”  sobre o tema “Cinema e Construção da Memória Colectiva da Igreja, Família de Deus”, na sequência do centenário da evangelização do país que se está para celebrar.

Mas para além disso, e para além da Associação Católica Internacional de Cinema e audiovisuais, SINGIS, qual é participação da Igreja Católica a nível do Continente no FESPACO?  

O P. Janvier Yameogo, membro da SPC, Secretaria do Vaticano para as Comunicações Sociais responde, retomando a questão da Missa dos Cineastas…

Nessa Missa participam quadros do FESPACO, os Ministros da Cultura e da Informação e haverá também ateliês sobre o mesmo tema com intervenções do Secretário Geral e do Director Geral do FESPACO, do Responsável do Desk Cinema da SIGNIS, Guido Convents, eu próprio e alguns outros… e  nos debruçaremos sobre muitos temas para recordar a importância da imagem  na construção da identidade, da memória, dos valores em que assentam a nossa cidadania e a nossa vida cristã hoje.”

- Toca assim um assunto que queria também abordar, isto é que visitando o site do FESPACO não vi nada relativamente à Igreja ou ao SCEAM, o organismo que representa a Igreja católica a nível de toda a África e perguntava-me se a Igreja passa ao lado do FESPACO?

Bom, a Igreja não fica ao lado, pois tem participado mesmo como Presidente do Júri SIGNIS durante o FESPACO, porque desde o tempo da OCIC, Organização Católica Internacional de Cinema, até à SIGNIS, houve sempre um prémio católico entre os prémios especiais  do FESPACO como, aliás, aconteceu também recentemente no Festival de Berlim, por exemplo. SIGNIS dá prémios na maior parte dos festivais de cinema do mundo. Não há, portanto, razão para que não se faça o mesmo no FESPACO.  A tradição sempre foi respeitada em Ouagadougou”.

- Então a Igreja está presente sobretudo através da SIGNIS, não do SCEAM enquanto organismo da Igreja católica do Continente africano?

Na realidade este é um caminho que resta ainda por percorrer a nível do FESPACO. Não se pode sublinhar apenas a ausência do SCEAM, enquanto Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar. Quero com isto dizer que também a União Africana que tem um departamento cultural brilha pela ausência, mas há a UEMOA (União Económica e Monetária da África Ocidental), a CEDEAO (Comunidade Económica para o Desenvolvimento da África Ocidental), a Francofonia, e assim por diante. Portanto, através dos prémios especiais há diversos organismos e grupos que intervêm e penso que, dado os temas que temos, as minhas expectativas é que os conferencistas possam, talvez, interpelar seja o SCEAM, a nível da Igreja, seja a UA a nível dos Estados para que contribuam de algum modo. Pode ser, por ex., com bolsas de estudo, ou então com o financiamento de seminários de estudo para cineastas cristãos ou para todos, e no que toca aos Estados, evoluir pouco a pouco em direcção a um prémio da UA a fim de apoiar este festival Panafricano de Ouagadougou. Vou participar em diversos encontros e farei passar esta ideia”.

- E a SPC, Secretaria do Vaticano para a Comunicação, de que forma está presente, ou tudo se reduz à SIGNIS?

Bem, de momento, para ser franco, é a Conferência Episcopal do Burkina-Faso que, apoiada pela SIGNIS, organiza essas jornadas cristãs de cinema. Por isso é que o tema é centrado sobre a Igreja católica no Burkina-Faso. E, durante esse tempo, os diversos responsáveis das Comissões  Cultura e Comunicação das Dioceses se reunirão em Ouagadougou ao longo do Festival para participar e dar o seu ponto de vista em apoio ao Júri  oficial do Prémio SIGNIS. E acrescentaria que, além disso, a Igreja está presente, em cada edição do Festival, através das Escolas de Comunicação ligadas à produção televisiva e jornalística, quer dizer o ISCOM, Instituto de Ciência e Comunicação que é ligado à Universidade Católica de Abidjan e há também a Universidade de Bamako que tem uma Escola de Jornalismo e de Comunicação; os estudantes dessas duas entidades vêm com alguns professores e participam realmente no Festival. A contribuição é enorme, porque como digo, em pouco tempo vêem-se os sonhos de todos os cantos da África – eu às vezes passo 8 horas ou mais por dia em salas para ver 4, 5, 6 filmes, porque é uma ocasião a não perder de ver filmes da África que noutros lugares não se vêem”

- Um dos grandes desafios do cinema africano tem sido precisamente a distribuição por forma a que os filmes realizados por africanos possam ser vistos em todo o mundo e também nas salas dos próprios países africanos para além dos períodos de festivais. Ora, sabemos que há também um problema de salas, pois muitas foram, ao longo dos tempos, transformadas em salas para outros fins. Qual é o cenário em Ouagadougou depois do Festival, as novas salas à disposição para projecções permanecem abertas todo o ano?

“O Festival serve todo o continente africano, mas traz frutos imensos ao Burkina-Faso. E, na realidade, há todo um florescimento de cineastas. Actualmente, a produção cinematográfica no Burkina não faz muita onda como é o caso, por exemplo, de Noliwood (da Nigéria), mas os jovens cineastas do Burkina criam regularmente, tanto é, que temos uma boa percentagem de filmes locais nos nossos canais televisivos… e se vir TV5Monde e mesmo Canal +, há--de ver que também eles difundem filmes desses territórios: Burkina-Faso, Costa do Marfim… mas limitando-me ao Burkina-Faso, há realmente toda uma geração de cineastas que produzem e ocupam efectivamente as salas, o que faz com que haja uma sede cada vez maior de cinema no Burkina-Faso. Há mesmo uma das salas mais antigas, do tempo da independência - o “Cinema Oubri” - que está a ser renovada. Fica ao lado do grande Mercado de Ouagadougou e há todo um projecto com contribuições voluntárias para reconstruir essa sala”.

- Então não há esse problema de salas no Burkina-Faso?

De momento, na cidade de Ouagadougou, não há problema. Em Bobo Dioulasso, também não. Nas outras cidades as salas não são muito confortáveis, o que faz com que as pessoas prefiram ir aos videoclubes ou aos cineclubes… Como dizia, a partir do FESPACO, houve muitas iniciativas, há, por exemplo, um minifestival que se faz antes ou depois do FESPACO e que é chamado Cinema dos Direitos Humanos e da Liberdade e é apoiado pelos diferentes movimentos citadinos para promover a liberdade e os direitos e se reúnem regularmente em Ouagadougou.” 

(DA)








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