2017-02-23 15:55:00

Não oficializar o crioulo é violar um direito do cidadão - Manuel Veiga


Terça-feira 21 de Fevereiro foi Dia Internacional da Língua Materna. Na sua mensagem a Directora Geral da UNESCO, Irina Bukova, frisou que a educação e informação na língua materna são primordiais para melhorar a aprendizagem, desenvolver a auto-estima e auto-confiança que são motores potentes de desenvolvimento.

Um pouco por todo o lado houve actividades relacionadas com o Dia da Língua Materna. Em Cabo Verde, por ex., onde desde há anos se discute sobre a oficialização da língua crioula, o linguista, Manuel Veiga, escreveu na sua página fbacerca das ambiguidades da Constituição caboverdiana quanto à oficialização do crioulo.

Em poucas palavras, diz qu, se por um lado, a Lei Magna do país afirma que o português é língua oficial, por outro afirma que os cidadãos têm o dever de cultivar, de saber as línguas oficiais e o direito de se exprimir nelas. O que, implicitamente, é reconhecer o crioulo como língua oficial. Para este Professor jubilado da Universidade de Cabo Verde, o que é necessário estabelecer  - através do ensino, da comunicação social, da literatura - é a paridade entre o português e o crioulo:

O Prof. Manuel Veiga admite ainda que a revisão da Constituição que deverá acontecer ainda este ano, poderá debruçar-se sobre a questão. Tudo leva a crer, diz, que se está perto da atribuição do justo valor ao crioulo mesmo que não esteja na Constituição como aliás acontece também com o inglês nos Estados Unidos …

No caso de Cabo Verde, há todavia, que fazer a precisão, na Constituição, de que o crioulo e português são línguas oficiais

O Prof. Manuel Veiga foi Ministro da Cultura no governo anterior. Como linguista e perito na língua crioula, em que chegou mesmo a escrever um romance – Odju d’Agu - todos esperavam que envidasse esforços para a clara elevação do crioulo a língua oficial de Cabo Verde. Mas tal não aconteceu. Ele admite que as dificuldades foram muitas, pois que a questão da língua mexe com muita gente. Além disso, muitos pensaram que a oficialização do crioulo significava desoficialização do português. Mas nunca se pensou nisso, garante, pois Cabo Verde precisa do português.

Ambos, crioulo e português, são patrimónios do país, embora a identidade cabo-verdiana tenha sido moldada no crioulo, como língua materna:

Por isso é, segundo o Prof. Manuel Veiga um contra-senso estar a falar em oficialização do crioulo, pois que é um direito fundamental e caso o Estado não o oficializar estará a ir contra um direito fundamental do cidadão caboverdiano.

E o artigo 79 da exige do Estado, a valorização da língua também de forma escrita…

Também as bases do sistema educativo  incentivam à promoção do crioulo, o que leva o linguista Manuel Veiga a afirmar que há actualmente no país todo um movimento cada vez mais orientado para um consenso sobre a necessidade de dar ao crioulo o seu devido lugar e valor. E o Dia Mundial da Língua Materna foi um barómetro disso:

No entanto, o recente anuncio da parte da Ministra da Educação, de que a partir do próximo ano lectivo o português será ensinado em Cabo Verde como língua segunda suscitou polemicas. Mas o Prof. Veiga considera que se trata de uma louvável iniciativa. E acrescenta que em linguística língua primeira é a língua que se aprende primeiro. E em Cabo Verde é o crioulo que a criança aprende já do ventre da mãe. Por isso não se pode usar a mesma metodologia para ensinar o português e o crioulo se quer ter bons resultados.

E é isto que a Ministra da Educação entende, rematou o Professor Manuel Veiga. 

(DA) 








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