2016-09-26 13:35:00

Uma mulher instruída deixa de ser humilhada e escrava


Há 50 anos atrás, Chiara Lubich, a italiana que fundou o Movimento dos Focolares, deslocava-se aos Camarões em ajuda ao povo Bangua na zona florestal do sudeste do país, que estava a braços com um tremendo surto da doença do sono, correndo o risco de desaparecer.

Não obstante as dificuldades iniciais, o Rei ou Fon de Lebialem, em Fontem, e Chiara entraram em sintonia. Com a ajuda do Movimento, foram para lá médicos e construíram-se hospitais e escolas, dando origem a uma bela cooperação, que perdura ainda hoje.

A colaboração acabou por estender-se a outros reinos daquela região camaronesa e, na semana passada, um grupo de reis e rainhas (Fons e Máfuas, respectivamente) da nova geração, veio a Roma para celebrar o Jubileu e para visitar os lugares de nascimento e vida de Chiara Lubich, Trento, onde ela nasceu, no norte do país, Florença no centro e Rocca di Papa, perto de Roma, onde desenvolveu a sua obra socio-espiritual, que se espalhou por várias partes do mundo.

Depois de participar na audiência geral a semana passada, oito Fons e Máfuas, participaram numa conferência de imprensa em que se detiveram sobre a história e a importância dessa cooperação agradecendo profundamente a Chiara Lubich e o Movimento.

No final conversamos com duas das participantes. Uma delas é Djengué Paulette, esposa dum dos chefes da região do litoral dos Camarões, onde os chefes não são chamado Fons, como em Fontem, mas sim Majestades. Ela é protestante e é vice-Presidente da União das Mulheres Baptistas dos Camarões, União que reúne umas seis mil mulheres e se ocupa da educação de meninas:

Educamos as meninas, tomamos conta de todas as meninas com dificuldades escolares e procuramos orientá-las, mas a nossa primeira missão é dar a conhecer a Palavra de Deus às mulheres porque estamos convencidas de que com a Palavra de Deus a mulher se forma e quando temos mulheres bem formadas, tem-se uma sociedade de pé. Portanto, ensinamos a Palavra de Deus e a pô-la em prática; através da educação cristã, de cânticos, ensinamos às que têm dificuldades, a ser autónomas, porque quando se é capaz de resolver os próprios problemas deixa-se de ser uma pessoa humilhada, uma pessoa escrava. Eis a missão da União das Mulheres Baptistas dos Camarões.”

Chiara Lubich costumava contar que quando falou ao Fon Defang de Fontem do Movimento que ela tinha fundado, ele perguntou-lhe como fazia para reger tudo isso uma vez que era mulher e as mulheres não valem nada. Chiara respondeu que visto que as mulheres não valem nada, então acima dela havia, certamente,  alguém mais potente que fazia tudo, isto é Deus.

Esta versão de que a mulher não valia nada foi amplamente sublinhada na conferencia de imprensa pela Máfua Christine Essong, filha do Fon Defang. No final perguntamos-lhe se realmente na tradição camaronesa a mulher não valia nada:

Isto era o que os homens diziam. E as mulheres aceitavam isso, porque não sabiam. Foi através da emancipação e dos ensinamentos de Chiara, através do amor, que todas agora iniciaram a ver que ah… nós mulheres somos alguma coisa e somos complementares aos homens, e isso é o desígnio de Deus”.

Insistimos, perguntando se na cultura tradicional a mulher não valia mesmo nada e a Máfua Christine replicou:

Na minha tríbu diziam que a mulher não valia nada. Diziam sempre isso, até que o meu pai deu início a uma campanha a favor da educação das meninas. Ele dizia sempre: mandem também as meninas para a escola, porque não sabeis quem é que vai suster a família. E quando as pessoas começaram a ver que o Rei mandava as princesas para a escola e que aprendiam muito, começaram a enviar as filhas para a escola e viram como elas têm sucesso e essa enão essa crença de que a mulher não vale nada, desapareceu”.

A opinião de Djengué Paulette sobre o valor ou não da mulher na tradição camaronesa é um pouco mais atenuada da da Máfua Chiristine Essong:

A mulher tinha o seu lugar e homem também tinha o seu. Hoje a mulher é um elemento positivo para o desenvolvimento  do País e, portanto, homem e mulher caminham juntos”.

À nossa observação de que se deu a entender na conferência de imprensa de que foi com a chegada de Chiara Lubich que a emancipação da mulher nos Camarões, pelo menos entre o povo Bangwa, começou, Paulette reage:

Não, a cultura tinha dado à mulher o seu lugar. Não se deve confundir a emancipação com a cultura. Não posso tomar a dianteira ao meu marido, mesmo em 2016. Fico atrás dele. É a minha cultura, porque o homem é o chefe de família no meu código civil”.

Mas isso quer dizer que a mulher não vale nada?

“A Mulher, como lhe disse, caminha com o homem e é um elemento de desenvolvimento e, portanto, sem mulheres não há uma sociedade de pé e a minha cultura aplica o código civil e por isso nós mulheres, somos parceiras”.

Então não é correcto dizer que a mulher não vale nada?

Não é, e nunca foi na minha cultura, porque é a mulher que dá a vida e não se pode dar vida se não se vale nada. E é a mulher que rege a sociedade africana”.

**

Oiça aqui as palavras de Benjamim Ferreira, português, focolarino, adido de impresna no Movimento. Ele fala destes 50 anos de relação entre o Povo Bangwa e o Movimento Focolar, traçando um balanço positivo e com o olhar posto no futuro e no intercâmbio do que ambas as partes têm de melhor. 

(DA) 








All the contents on this site are copyrighted ©.