2016-09-21 08:23:00

Apelo pela Paz de Assis – Texto integral


Na cerimónia de encerramento do encontro em Assis e depois do discurso do Papa na Praça de São Francisco, no fim da tarde desta terça-feira (20/9), foi respeitado um minuto de silêncio em memória das vítimas das guerras e do terrorismo em todo o mundo. Em seguida, um representante do budismo japonês leu o Apelo pela Paz para toda a assembleia que acompanhava o encerramento.

Um grupo de crianças, então, recebeu uma cópia do documento que será doada para os representantes de países de todo o planeta no sentido de frutificar a mensagem de Assis no mundo. Para representar o momento, Papa Francisco fez a entrega do Apelo pela Paz envolvido num ramo de oliveira – símbolo da paz – a uma criança.

Na sequência da cerimónia, o Santo Padre foi quem começou a acender o candelabro para iluminar para a esperança e também foi o primeiro a assinar o documento. E, assim, sucessivamente, os representantes religiosos também acenderam as suas velas para compor o candelabro, e assinaram o apelo conjunto, acreditando nesse ato concreto de misericórdia, partilhado num grande abraço humanitário pela paz.

No texto do Apelo pela Paz, as primeiras referências remontam ao ano de 1986 quando, a convite do Papa João Paulo II, o encontro inter-religioso abraçou homens e mulheres de diferentes religiões e provenientes do mundo todo para “afirmar o vínculo indivisível entre o grande bem da paz e uma autêntica atitude religiosa”.

Com a guerra, todos perdem, incluindo os vencedores

“Daquele evento histórico, teve início uma longa peregrinação que, tocando muitas cidades do mundo, envolveu inúmeros crentes no diálogo e na oração pela paz; uniu sem confundir, gerando amizades inter-religiosas sólidas e contribuindo para extinguir não poucos conflitos. Este é o espírito que nos anima: realizar o encontro no diálogo, opor-se a todas as formas de violência e abuso da religião para justificar a guerra e o terrorismo. E todavia, nos anos intercorridos, ainda muitos povos foram dolorosamente feridos pela guerra. Nem sempre se compreendeu que a guerra piora o mundo, deixando um legado de sofrimentos e ódios. Com a guerra, todos perdem, incluindo os vencedores.”

A oração protege o mundo

O apelo, então, para que a oração pela paz seja uníssona e instrumento de conciliação e amor diante dos conflitos actuais que assolam o mundo:

“Dirigimos a nossa oração a Deus, para que dê a paz ao mundo. Reconhecemos a necessidade de rezar constantemente pela paz, porque a oração protege o mundo e ilumina-o. A paz é o nome de Deus. Quem invoca o nome de Deus para justificar o terrorismo, a violência e a guerra, não caminha pela estrada d’Ele: a guerra em nome da religião torna-se uma guerra contra a própria religião. Por isso, com firme convicção, reiteramos que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso.”

Um tempo novo, uma família de povos

O respeito à pluralidade para a construção de uma sociedade de paz também se faz presente no Apelo pela Paz, com pensamento especial a quem sofre por causa da guerra: os pobres, as crianças, os jovens, as mulheres. E é com eles que se clama: “Não à guerra!”, não caia no vazio o grito de dor de tantos inocentes. O Apelo implora “aos Responsáveis das nações que sejam desactivados os moventes das guerras: a ambição de poder e dinheiro, a ganância de quem trafica armas, os interesses de parte, as vinganças pelo passado” e que “cresça o esforço concreto para remover as causas subjacentes aos conflitos: as situações de pobreza, injustiça e desigualdade, a exploração e o desprezo da vida humana”.

“Abra-se, finalmente, um tempo novo, em que o mundo globalizado se torne uma família de povos. Implemente-se a responsabilidade de construir uma paz verdadeira, que esteja atenta às necessidades autênticas das pessoas e dos povos, que impeça os conflitos através da colaboração, que vença os ódios e supere as barreiras por meio do encontro e do diálogo. Nada se perde, ao praticar efectivamente o diálogo. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz; a partir de Assis, renovamos com convicção o nosso compromisso de o sermos, com a ajuda de Deus, juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade.”

Já a seguir o texto integral:

Apelo pela Paz (Assis, 20 de setembro de 2016)

Homens e mulheres de diferentes religiões, congregamo-nos, como peregrinos, na cidade de São Francisco. Aqui em 1986, há trinta anos, a convite do Papa João Paulo II, reuniram-se Representantes religiosos de todo o mundo, pela primeira vez de modo tão participado e solene, para afirmar o vínculo indivisível entre o grande bem da paz e uma autêntica atitude religiosa. Daquele evento histórico, teve início uma longa peregrinação que, tocando muitas cidades do mundo, envolveu inúmeros crentes no diálogo e na oração pela paz; uniu sem confundir, gerando amizades inter-religiosas sólidas e contribuindo para extinguir não poucos conflitos. Este é o espírito que nos anima: realizar o encontro no diálogo, opor-se a todas as formas de violência e abuso da religião para justificar a guerra e o terrorismo. E todavia, nos anos intercorridos, ainda muitos povos foram dolorosamente feridos pela guerra. Nem sempre se compreendeu que a guerra piora o mundo, deixando um legado de sofrimentos e ódios. Com a guerra, todos perdem, incluindo os vencedores.

Dirigimos a nossa oração a Deus, para que dê a paz ao mundo. Reconhecemos a necessidade de rezar constantemente pela paz, porque a oração protege o mundo e ilumina-o. A paz é o nome de Deus. Quem invoca o nome de Deus para justificar o terrorismo, a violência e a guerra, não caminha pela estrada d’Ele: a guerra em nome da religião torna-se uma guerra contra a própria religião. Por isso, com firme convicção, reiteramos que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso.

Colocamo-nos à escuta da voz dos pobres, das crianças, das gerações jovens, das mulheres e de tantos irmãos e irmãs que sofrem por causa da guerra; com eles, bradamos: Não à guerra! Não caia no vazio o grito de dor de tantos inocentes. Imploramos aos Responsáveis das nações que sejam desativados os moventes das guerras: a ambição de poder e dinheiro, a ganância de quem trafica armas, os interesses de parte, as vinganças pelo passado. Cresça o esforço concreto por remover as causas subjacentes aos conflitos: as situações de pobreza, injustiça e desigualdade, a exploração e o desprezo da vida humana.

Abra-se, finalmente, um tempo novo, em que o mundo globalizado se torne uma família de povos. Implemente-se a responsabilidade de construir uma paz verdadeira, que esteja atenta às necessidades autênticas das pessoas e dos povos, que impeça os conflitos através da colaboração, que vença os ódios e supere as barreiras por meio do encontro e do diálogo. Nada se perde, ao praticar efetivamente o diálogo. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz; a partir de Assis, renovamos com convicção o nosso compromisso de o sermos, com a ajuda de Deus, juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade.








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