2016-07-29 16:07:00

Padre Lombardi: Hoje o Papa se encontra com o mistério da dor


O director da Sala de Imprensa do Vaticano, Padre Federico Lombardi, numa entrevista à Rádio Vaticano, repercorre as actividades do Papa na quinta-feira (28/07), em Jasna Gora e Cracóvia, e comenta os eventos de hoje: um dia de encontro com a dor e o sofrimento nos seus diversos aspectos.

Padre Lombardi, na cerimónia de acolhimento dos jovens com o Papa Francisco - que, mais uma vez, mostrou como tem o desejo de diálogo com os jovens - mais uma vez se destacou frequentemente do texto para dialogar, fazer perguntas aos jovens. Que impressão teve desta cerimónia muito aguardada também pelos jovens polacos?

Eu diria que também era aguardada do Papa, porque são meses se tem preparado para esta viagem, e para o encontro com os jovens. Existem  outras dimensões importantíssimas desta viagem; aquela que vivemos  ontem à tarde e esta manhã para o baptismo da Polónia, e a visita aos campos de concentração de Auschwitz. Mas devo dizer que também estes momentos são parte de um discurso mais amplo se, em particular, considerarmos também o momento histórico que estamos a viver. E então, tudo aquilo que vivemos nestes dias tem um significado de contribuição para a paz, para o diálogo entre os povos de todo o mundo. Hoje vimos 178 bandeiras de diferentes países a desfilar diante do Papa, trazidas por jovens de todos estes países que estão aqui presentes. Isto é já, em si mesmo, uma grande mensagem: estar juntos, estar juntos para grandes valores, para anunciar a misericórdia, para anunciar a alegria de construir um mundo novo, "de empenhar-se para fazer mudar as coisas" -  como dizia o Papa na sua homilia, fazê-las mudar para melhor, fazê-las mudar na linha do serviço da solidariedade e do amor.

Hoje, nos dias em que vivemos, temos uma enorme necessidade desta mensagem. Os jovens da Jornada Mundial da Juventude, guiados pelo Papa com o seu entusiasmo, com a sua capacidade de envolvê-los, são verdadeiramente protagonistas deste serviço de esperança para o mundo, o mundo que é aquele que conhecemos. A meditação que faremos amanhã em silêncio, e rezando e chorando com o Papa no campo de concentração de Auschwitz é terrível, mas nos faz pensar não apenas ao passado, mas nos faz pensar em  tudo aquilo que pode ser a presença do mal no mundo,  hoje e também amanhã. Portanto, é um aviso  extraordinário, uma advertência fortíssima para a qual  também os outros passos que vamos viver juntos com o Papa na Via Sacra  de  amanhã à noite e na Eucaristia que nos lança para uma nova missão, serão, certamente, elementos de uma grande resposta coral que aqui procuramos dar com a ajuda do Senhor para o mundo que tanto precisa dela.

Esta manhã a grande Missa para os 1050 anos do Baptismo da igreja polaca. Voltou de alguma forma a memória boa de que se referia o Santo Padre no primeiro discurso no Castelo de Wavel. Aqui também era impressionante a intensidade do Papa quando olhava a Virgem Negra como sinal também dos sofrimentos do povo polaco, que sempre as superou com a fé …

É verdade. Como sabemos é a primeira vez que o Papa vem à Polónia e é a primeira vez que se prostra diante da imagem da Virgem de Czestochowa. São momentos de grande experiência espiritual. Lembro-me para mim também, a primeira vez que vi o desvelamento desta imagem - estava com João Paulo II numa das suas viagens - foi um momento de emoção extraordinária, porque senti realmente que esta Virgem é a Mãe deste povo, como ela o acompanhou e apoiou em toda sua história, ajudou-o a continuar a esperar, mesmo nas maiores dificuldades e é sentida como a via principal para chegar a Cristo e encontrar, portanto, o sentido da fé, da esperança, da caridade cristã. Portanto, certamente, viver  o Baptismo da Polónia que é o encontro com Cristo, e vivê-lo sob os olhos da Mãe que nos deu Cristo, era absolutamente fundamental  para o Papa Francis aqui em Czestochowa.

Também  hoje alguns pequenos gestos mas que, no entanto, contêm grandes mensagens: ontem a comemoração comovente deste voluntário que morreu e que não pôde viver a JMJ que tanto desejava, hoje aquele estar no trem que o levava ao parque Błonia com jovens portadores de deficiência que claramente por si sós não poderiam ir à JMJ, pois precisam de acompanhantes. Aqui também vê-se fortemente este sentido de estar não apenas com as palavras, mas também com gestos, próximos dos mais fracos, das periferias, dos necessitados.

Claro. Hoje, para além deste gesto que recordaste das pessoas com deficiência no trem para Błonia, houve também a visita ao Cardeal Macharski, esta manhã, uma  pessoa no limiar do encontro com Deus, um grande pastor que está para encontrar-se com Senhor. O Papa ontem à tarde recordou aos bispos o dever das obras de misericórdia espirituais, corporais, visitar os doentes e visitar uma pessoa como este grande pastor que dedicou a sua vida à diocese de Cracóvia e à Igreja na Polónia e estar-lhe próximo no momento da passagem. Isto foi muito bonito, muito eficaz. Quando em Roma existem Cardeais doentes normalmente o Papa vai visitá-los nas clínicas ou em casa. Aqui também ele foi encontrar o Cardeal Macharski. Parece-me muito significativo, muito característico da espontaneidade e rapidez da decisão com que ele põe em prática estas exigências fundamentais da caridade cristã. Mesmo esta viagem de trem com os deficientes foi muito emocionante. Tem uma capacidade de proximidade, de ternura, de estar próximo deles e de seus parentes, os familiares que os acompanham, que é de grandíssimo conforto. Portanto, a chegada ao encontro com todos os jovens, juntamente com alguns jovens em sofrimento, foi certamente um sinal muito bonito, muito significativo: vê-se como se vive a misericórdia, concretamente, na vida de cada dia e em em tantos aspectos concretos de cada momento.

Peço-lhe uma última reflexão olhando para a sexta-feira desta viagem. É um dia dedicado especialmente à dor, ao sofrimento. Naturalmente, a visita a Auschwitz, mas depois também a visita a um hospital pediátrico, portanto a crianças que sofrem e, depois, a Via Sacra desta noite. Esta dimensão estará presente muito fortemente amanhã …

De facto, também eu hoje ao reflectir sobre o programa de amanhã disse para mim mesmo: "Mas olha, mesmo no dia do encontro com a dor nos seus diferentes aspectos": de manhã nos campos de Auschwitz, a dor provocada pelo ódio, pelo absurdo homicida mais terrível que jamais houve na história da humanidade, ou que possa haver e na qual devemos fazer uma grande meditação sobre o mistério do mal que o Papa quer fazer, compreensivelmente, em silêncio e chorando. A compaixão por tudo isto a que não se dão fáceis respostas evidentemente. Ao mesmo tempo, depois, continuando com o dia, o encontro com um outro tipo de sofrimento, o sofrimento com as crianças doentes, com as crianças inocentes que sofrem … Também  este é um grande mistério. E encontrar o sentido deste sofrimento para elas e para as pessoas que lhes querem bem não é fácil.

Neste sentido, creio que a Via Sacra  da noite sobre as obras de misericórdia corporais e espirituais coloca-nos explicitamente diante do Mistério da Cruz de Cristo para pedirmos a Ele, sofredor, para que nos ajude a enfrentar os sofrimentos do mundo que nos vêm de muitas causas diversas. Na Via Sacra estes sofrimentos são todos eles um pouco evocados e resumidos. Eu acho que é um dia extremamente central, especialmente neste momento que estamos a viver, em que as preocupações, os sofrimentos, os ataques, as mortes e os conflitos nos circundam continuamente, fazem parte do nosso horizonte quotidiano, da nossa experiência de cada dia. Então, viver meditando com o Papa e acompanhando-o nestas estradas de confrontação com a dor mais absurda e causada pelo ódio mais louco e mais injustificável, como o da visita desta manhã, e a dor que, pelo contrário, tem outras causas, mas para nós também misteriosas, à tarde, e a resposta na fé, e pedir para que Deus nos ajude a responder na fé contemplando-o e acompanhando-o não caminho da Cruz: Eu acho que é um grande dia.








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