2016-04-14 09:58:00

Família em caminho: dois Sínodos e uma Exortação


“Amoris laetitia” é a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a família e foi apresentada na passada sexta-feira dia 8 de abril. Nela é dada substância a um caminho sinodal que reuniu os bispos do mundo em 2014 e em 2015. Recordamos aqui esse caminho percorrido nos dois sínodos e o essencial do texto de Francisco que escreve sobre “a alegria do amor”.

Sínodos para caminhar

O Papa Francisco convocou os bispos do mundo para dois Sínodos sobre a família. Um primeiro com caráter extraordinário em 2014 sobre “os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”, e um Sínodo Ordinário em 2015 sobre “a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

Foram momentos de encontro, de diálogo, de testemunho e de abertura de uma Igreja, fiel à doutrina de Cristo, tal como afirmou o Papa Francisco no discurso final do Sínodo Extraordinário de 2014:

“Esta é a Igreja: a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas e os publicanos. A Igreja que tem as portas abertas de par em par para receber os necessitados, os arrependidos, e não somente os justos ou aqueles que pensam de ser perfeitos”. (Discurso Final do Papa Francisco no Sínodo Extraordinário de 2014)

Parresia para dialogar

Logo no Sínodo de 2014 Francisco pediu aos padres sinodais sinceridade e frontalidade, recordando a expressão “parresia”, para que olhassem com “zelo pastoral” para as mudanças nas condições culturais de uma sociedade em constante mutação.

Em particular, o Santo Padre quis que os questionários enviados às dioceses fossem respondidos com uma ampla participação das paróquias e dos fiéis. Para que nada deixasse de ser tratado no caminho sinodal.

Evangelho para testemunhar

No Discurso Final no Sínodo Ordinário de 2015 o Papa Francisco afirmou que “a experiência do Sínodo fez-nos também compreender melhor que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão.”

Segundo o Papa “isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, a importância das Leis e Mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos, mas unicamente segundo a generosidade ilimitada da sua misericórdia”.

O Santo Padre recordou também que o Evangelho é a fonte viva da “eterna novidade” para a Igreja, e que não permite ser doutrinado em “pedras mortas”:

“Significa ter testemunhado a todos que o Evangelho continua a ser para a Igreja a fonte viva, de eterna novidade, contra aqueles que querem doutriná-lo em pedras mortas para lançar contra os outros. Significa também ter despojado os corações fechados que muitas vezes se escondem até mesmo por trás dos ensinamentos da Igreja ou por trás das boas intenções, para se sentarem na cátedra de Moisés e julgar, por vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”. (Discurso Final do Papa Francisco no Sinodo Ordinário de 2015)

Amar, acompanhar e discernir

No dia 8 de abril de 2016 na apresentação aos jornalistas da Exortação Apostólica do Papa Francisco: “Amoris Laetitia” – A Alegria do Amor, estiveram na Sala de Imprensa da Santa Sé o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, o Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena e ainda o Casal Miano, Francesco e Giuseppina.

Em particular, o Cardeal Christoph Schönborn destacou na sua intervenção as palavras amor, acompanhamento e discernimento e declarou que estas são as palavras-chave do texto do Santo Padre:

“A palavra-chave é amor: Amoris Laetitia.  É significativo que o Papa não fale da  caridade, mas do amor.  Toda a plenitude dos sentimentos, das atitudes no casal e na família,  de facto toda esta riqueza  encontra-se no centro. Eu diria que  este documento é, antes de mais,  um grande hino  ao amor familiar e no centro do texto, geograficamente no centro,  mas também espiritualmente  no centro encontra-se o IV capítulo. Sei que todos vão ler  o VIII capítulo onde  são tratadas as questões difíceis, controversas, mas o IV capítulo  é, verdadeiramente,  o coração do texto, porque é uma longa  meditação sobre o Hino de S. Paulo.”

“A outra palavra-chave do documento é acompanhamento:  o acompanhamento que fazem os pais com os seus filhos, que fazem os pastores com os fiéis, que faz o Papa com a Igreja. Acompanhamento  numa estrada em que estão todos. E eu, que venho de  uma  família muito ferida, de uma dita “patchwork family”,  sofri, quando jovem,  desta quase separação que se faz muitas vezes na Igreja:  aqui estão aqueles  “em ordem”, que se comportam bem, e aqui estão os outros que são irregulares: os bons, aqueles em regra, e os outros que são um problema. O Papa Francisco,  na linha de Jesus, da Bíblia e do Novo Testamento,  mostra-nos  que todos nós estamos em caminho.”

“E ainda a terceira e última palavra-chave: discernimento. O discernimento é aquilo que cada um de nós deve fazer:  o que Deus quer de mim na vida quotidiana, nas grandes escolhas  da vida, etc. Discernimento  também nas situações difíceis. E aqui há um ponto que se deve fortemente sublinhar: isto está em continuidade  com S. João Paulo II,  porque este documento baseia-se, em grande parte, na “Familiaris Consortio”. S. João Paulo II dizia: os pastores,  por amor da verdade, são obrigados a discernir as situações.”

A propósito dos divorciados recasados o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, o Cardeal Lorenzo Baldisseri, salientou o discernimento que deve ser feito caso a caso. “O que interessa é o discernimento e a integração das pessoas que necessitam, amadurecendo a consciência e a relação com a Igreja”– afirmou o purpurado.

Em família olhar em frente

De destacar ainda na conferência de imprensa de apresentação da Exortação “Amoris laetitia”, a intervenção do casal Miano, Francesco e Giuseppina, que afirmaram que a leitura da Exortação foi “um momento de grande comoção e de profunda alegria”.

O casal Miano destacou a linguagem direta, simples e dirigida a todos da Exortação e colocaram um acento tónico na dimensão do caminho, fundamental para entender o Sínodo mas também a família.

“ A categoria do caminho é fundamental para perceber a conversão pastoral e missionária tantas vezes desejada pelo Papa Francisco e é fundamental para perceber o sentido da vida da família que transparece destas páginas.”

“Que a vida da família seja um caminho é repetido com clareza; um caminho em que não se deve cansar de olhar em frente, de ter grandes horizontes, não deixar de sonhar e aprender a apreciar cada passo sem temer as transformações que o caminho traz consigo, em particular, o sentido da imperfeição e do crescimento.”

O casal Miano, Francesco e Giuseppina, evidenciaram que o Papa pede às famílias de acreditarem na cultura do encontro e de não se fecharem no “individualismo do seu pequeno ninho” mas de terem um coração grande que saiba encontrar o “gosto de relações autênticas”.

Após dois Sínodos dos Bispos e uma Exortação Apostólica, as famílias católicas retomam o seu caminho e a sua missão para viverem o amor fazendo crescer a fé em comunidades que sejam famílias de famílias.

Para esse caminho, as famílias contam com pastores disponíveis para construírem caminhos de discernimento que não só acolham mas acompanhem, na verdade e na esperança, as famílias com as suas alegrias e as suas feridas.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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