2016-04-06 11:45:00

Moçambique - faleceu D. Jaime Pedro Gonçalves


Faleceu na madrugada deste dia 6 de Abril, na sua residência em Moçambique, vítima de doença prolongada, D. Jaime Pedro Gonçalves, Bispo emérito da Beira. Ele foi um dos principais mediadores, em representação da Igreja moçambicanas, para os  Acordos de Paz que puseram termo aos longos anos de guerra pós-independência em Moçambique, Acordos assinados em Roma a 4 de Outubro de 1992.

Em entrevista à Rádio Vaticano, a 4 de Julho de 2012, D. Jaime, já na altura Bispo emérito da Arquidiocese da Beira, evocava as principais etapas do seu longo percurso na vida da Igreja em Moçambique e em África.  Falava também do descanso, já livre de grandes preocupações,  e recordava, sem fazer promessas,  os diversos pedidos que lhe chagavam de vários lados para pôr por escrito o processo que levou ao Acordo Geral de Paz para Moçambique e os 35 anos que passou à frente da (arqui) Diocese da Beira.  Eis as suas palavras:

A experiência de emérito é caracterizada sobretudo pelo descanso, uma vez que se é emérito; a gente se liberta de tantas preocupações que a gente anda a viver durante o tempo em que, de facto, tem responsabilidades da Diocese ou da Arquidiocese. Portanto, o descanso livre das grandes preocupações de tal maneira que a gente até pode ter a sensação de que já não tem nada a fazer neste mundo, senão descansar despreocupadamente. Um aspecto bastante bom, sobretudo para aqueles bispos que durante muito tempo se agitaram para resolver problemas da Diocese, como foi no meu caso. De facto, durante 35 anos estive à frente da Diocese e depois da Arquidiocese. Tive responsabilidades na Conferência Episcopal de Moçambique, fui Presidente por mais de 10 aos; passei depois para a organização da Associação Regional das Conferências Episcopais da África Austral – IMBISA – e fui Presidente durante 9 anos. Enquanto estava na IMBISA, passei também a ser segundo vice-presidente do SECAM, o Simpósio das Conferências Episcopais da África. Isto implicou muito movimento da minha parte, muitas saídas e, depois, com o processo de paz não sabíamos bem onde realizar [os encontros] e acabamos por ir até Roma e concluiu-se com o Acordo Geral de Paz” em Moçambique. Então, tudo isso me agitou muito. Então agora estou a experimentar o descanso”.

- Um descanso merecido?!

(riso) Dizem que sim”.

- E quais são os seus projectoS de vida agora, pois está ainda cheio de energia e tem muito a dar ao seu país, à Igreja universal?

Projectos pessoais ainda não os fiz, na medida em que não queria prometer fazer alguma coisa que depois não poderei fazer. É consistente o pedido de várias pessoas de que eu ponha por escrito todo o processo de paz em Moçambique. Há pessoas que também pedem as actividades realizadas como bispo na Arquidiocese da Beira durante tanto tempo: 35 anos. Isto poderia, de facto, ajudar também a história tanto pastoral como a história do pessoal, dos bispos da Beira… Portanto, há de todos os lados pedidos para que eu faça alguma coisa por escrito. Mas eu não posso prometer porque muita coisa foi feita não com apontamentos, com datas, mas fomos fazendo à medida que era preciso fazer alguma coisa. Por isso, fazer a História duma coisa que não está muito escrita é difícil. Por isso, não vale a pena prometer."

- Mas somos um continente de oralidade e a oralidade tornou-se uma fonte histórica muito importante. E o Senhor está ainda com boa memória, graças a Deus, então é preciso pôr-se à obra, não é?

“Neste sentido, se houve uma actividade nessa linha de pedir que eu diga alguma coisa do que sei e se grave e depois alguém mais tarde põe isso por escrito, talvez pudesse fazer, como agora que estou a falar à Rádio Vaticano, pode ser que eu fale a um gravador e então as pessoas mais competentes poderiam pôr isso por escrito mais tarde. Isto talvez fosse mais viável, sim “.      

D. Jaime acabou, no entanto, por escrever o livro sobre o processo de paz, livro que foi lançado em  Outubro de 2014, com o título: "A Paz dos Moçambicanos".

Notas biográficas sobre D. Jaime

Dom Jaime Gonçalves, arcebispo Emérito da Beira, nasceu em Nova Sofala, a 26 de Novembro de 1938. É filho de Pedro Gonçalves e de Luísa Laurinda. Depois dos estudos primários ingressou no Seminário de Zóbue em Tete. Findo o curso do seminário menor, frequentou os Seminários Maiores de Namaacha e Malhangalene, em Maputo, onde estudou a filosofia e teologia.

Dom Jaime Pedro Gonçalves trabalhou pela Paz em Moçambique, em nome da Conferência Episcopal de Moçambique e do Vaticano, tendo-se envolvido directamente no processo de busca da paz em Moçambique, de 1985 a 1992, processo que culminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz a 4 de Outubro de 1992, em Roma.

Impressões do P. Sandro Faeda

Em conversa na manhã deste dia 6 com a Rádio Vaticano, a partir de Guiua (Inhambane) em Moçambique, o P. Sando Faeda, Missionário da Consolata, enalteceu a figura de D. Jaime, dizendo que correu muitos riscos pela paz naquele país da África Austral. 

(DA) 

 








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