2016-04-04 12:43:00

"Sou uma afro-optimista impenitente" - Ngozi Okondjo-Iweala, Nigeria


 A economista nigeriana Ngozi Okondjo-Iweala é considerada uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo. Orgulhosa da África e do seu país, ela considera-se uma afro-optimista impenitente e acha que em vez de estar a mendigar a África deveria empenhar-se mais em fazer frutar os seus recursos próprios; além disso, o continente deveria incrementar as trocas comerciais no seu seio e reunir esforços para enfrentar os riscos. Esta mulher de 61 anos, casada e mãe de quatro filhos, chefiou o Ministério das Finanças da Nigéria por duas vezes, procurando arrecadar recursos do petróleo para momentos de crise e combater a corrupção, esforço que lhe custou o rapto da mãe. Actualmente dirige a GAVI, Aliança Mundial de Vacinas e Imunização, e é membro da ARC, Agencia de Asseguração, criada em 2012 sob a égide da União Africana, para fazer face a riscos climáticos. Leia e/ou alguns aspectos da sua vida e pensamento na rubrica “África. Vozes Femininas”.

Uma das figuras femininas de relevo hoje em África é aeconomista nigeriana, Ngozi Okondjo-Iweala. Foi por duas vezes Ministra das Finanças da Nigéria: de 2003 a 2006, sobre a presidência de Olusegun Obasanjo, e de 2011 a 2015 sob a presidência de Goodluck Jonathan. No intervalo entre um e outro Governo foi Directora Geral do Banco Mundial. Actualmente é membro da Agência africana para o enfrentamento de riscos climáticos (ARC), Presidente do Conselho de Adminstração da GAVI, Aliança Global para as Vacinas e Imunização, com sede em Genebra,  e conselheira da Lazard, Banca internacional de Negócios, surgida no século XIX nos Estados Unidos.

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Galardoada em 2014 com o Doutoramento Honoris Causa pela  Universidade Yale dos Estados Unidos, pelo conjunto das suas realizações, e indicada em 2015 pela revista americana Forbes como uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo, Ngozi é da opinião de que a Nigéria e a África em geral devem melhorar a qualidade do seu crescimento económico para que possam reduzir realmente as desigualdades socio-económicas.

Em recente entrevista ao “Le Monde Afrique”, ela define-se uma afro-optimista impenitente e afirma que as décadas de 80 e 90 foram perdidas para a África, mas que depois houve 15 anos de crescimento de pelo menos 5%; o número de conflitos diminuiu e houve mesmo uma redução da pobreza. Reconhece, contudo, que esse crescimento não foi devidamente partilhado e não criou empregos suficientes, deixando os pobres desiludidos.  Mas em vez de se desesperar, como se se tratasse de um destino para a África, ela considera que é preciso tirar as lições do passado, ver o que funcionou bem e continuar.

A seu ver, há que melhorar a qualidade do crescimento por forma a reduzir as desigualdades, pois que é a pobreza relativa que choca as pessoas. E como exemplo de como combater as desigualdades, e ela refere que quando estava no Governo na Nigéria começaram a atribuir aos mais pobres uma segurança social: 500 mil dólares foram destinados a um sistema de ajuda condicionada, a exemplo do Brasil de do México: exemplo: dá-se cinco mil nairas a uma mãe de cinco filhos se ela matricular um deles na escola. Se vacinar os seus filhos, recebe outra remessa, e assim por diante. O método – disse – já foi experimentado em oito Estados  do país e, em Kano, por ex., levou ao aumento da escolaridade em 10%. Ela espera, portanto, que esse método seja continuado pelo novo Governo da Nigéria. Refere ainda que o seu Governo procurou criar postos de trabalho na agricultura, pois que os nigerianos não querem ser assistidos, mas trabalhar.

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Interpelada sobre em que assenta o seu afro-optimismo impenitente, ela responde que o crescimento económico da África tem sido superior à media mundial e que há países como a Etiópia, a Tanzânia, o Ruanda, o Senegal, a Costa do Marfim que têm tido um crescimento positivo. No plano político, evoca os sucessos na alternância política no Gana, na própria Nigéria… e tanto a leste como a sul do continente os governos começam a levantar as barreiras logísticas às trocas comerciais. Na África Ocidental – continua - os países fazem frente comum contra as ameaças à segurança e às violações das regras democráticas. É preciso que cada uma das partes da África – remata – se inspire das receitas da outra.

E no que toca à importância dos financiamentos para o desenvolvimento da África recorda que grande parte do desenvolvimento do continente é, hoje-em-dia, financiado pelos próprios africanos. Ngozi faz ainda notar que a ajuda aos países em desenvolvimento vai diminuir, pois que as ajudas vão ser orientadas para os migrantes e refugiados. Não deixa, no entanto, de sublinhar que há flagelos de que a África não é responsável, mas de que é a primeira vítima, como por ex. o aquecimento climático. Por isso, o resto do mundo deveria ajudá-la nisso, sublinha, mostrando-se, contudo, céptica de que o irão fazer. E isto é, na sua opinião uma chance para a África que – diz – em vez de perder tempo a mendigar deveria pensar mais em recolher recursos locais, como impostos e investimento do fundo das pensões no desenvolvimento. A África – prossegue - deve comercializar mais com ela própria. Para isso, os países africanos não podem continuar a produzir todos a mesma coisa, devem especializar-se em determinados sectores.

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Referindo-se depois à crise do petróleo, Ngozi diz que há um aspecto que lhe entristece: quando ela esteve pela primeira vez à frente do Ministério das Finanças, entre 2003 e 2006 sob a presidência de Olusegun Obasanjo, abriram, abriram na Nigéria uma conta para onde eram canalizadas as excedências petrolíferas, e foram recolhidos quase 22 mil milhões de dólares. Deste modo,  quando em 2008 o preço do barril de petróleo passou de 148 dólares para 38 não houve consequências para a Nigéria, porque pôde lançar mão desse fundo; mas ela quando voltou ao Governo em 2011, já sob a presidência de Goodluck Jonathan, o fundo tinha praticamente desaparecido. Ela quis retomar esse mecanismo, o Presidente Goodluck estava de acordo, mas os governadores opuseram-se, e agora são eles mesmo a acusaram-na de não ter poupado.

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Interrogada sobre os seus sucessos e insucessos na luta contra a corrupção naquela que é a maior economia africana, esta economista nigeriana diz que seria preciso muito tempo para falar disso e resume referindo-se ao livro “Reformar o irreformável” que escreveu sobre a matéria, no seu primeiro mandato à frente do Ministério das Finanças. O segundo foi já muito mais difícil – diz – pois, quis por termo às subvenções ao carburante, sector muito afectado pela corrupção. Resultado: raptaram a sua mãe de 83 anos e começaram, nos meios de comunicação, a pedir a sua demissão do Governo. Foi um momento de grande angústia, conta, pois ser responsável da morte da própria mãe não é algo a tomar de ânimo leve. Encorajada pelo pai e pelo próprio Presidente, ela não se demitiu e a mãe acabou por ser libertada. Ngozi conclui este ponto, dizendo que num país como a Nigéria, “se se luta contra a corrupção, é preciso estar ponto a pagar um preço muito pessoal”. E respondendo ao jornalista francês, ela sublinha que não é que os africanos sejam mais corruptos que os franceses, mas em França há mecanismos fortes que impedem a corrupção e, se mesmo assim houver roubos, há punição.  E remata, recordando que para acabar, por exemplo, com os pagamentos de salários a trabalhadores e pensionistas fantasmas, passou-se a fazer o pagamento não directamente em dinheiro, mas por transferência bancária. Devemos bloquear a corrupção pela raiz- conclui.

Para além de ter sido Ministra das Finanças na Nigéria, Ngozi Okondjo-Iweala desempenha actualmente o cargo de Presidente do Conselho de Administração da GAVI. Com sede em Genebra, este organismo desenvolve e apoia métodos inovativos no sentido de alargar os programas de vacinação nos países pobres. Uma aliança de parcerias publicas e privadas, países mais avançados e menos avançados e ainda de UNICEF, OMS, Banco Mundial por forma a atingir o objectivo da vacinação para todos. Em 15 anos, 500 milhões de crianças puderam ser vacinadas no mundo graças a isso.

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Outro cargo que Ngozi Okondji ocupa a tempo parcial é a de membro, nomeada pela UA, da ARC, African Risk Capacity. Trata-se de uma Agencia de Asseguração Africana para a gestão de riscos climáticos. Foi criada em finais de 2012, sob a égide da UA, por 18 países membros desta organização pan-africana, aos quais se juntaram depois outros oito. Goza de parcerias internacionais como a Alemanha e o Reino Unido que lhe concedem empréstimos sem juros. A sua direcção é composta por oito membros entre especialistas em questões climáticas, financeiras, etc. Ngozi foi nomeada pela UA na qualidade de perita económica. Ela refere-se ao ARC como um exemplo positivo de esforço comum em África para melhor gerir os riscos, mas também para explorar o saber-fazer internacional e os recursos financeiros existentes. É que, sublinha, “não podemos impedir o mau tempo, mas juntos, podemos proteger as populações mais vulneráveis”. ARC já está a dar resultados positivos: este ano disponibilizou mais de 24 milhões de Euros ao Senegal, Mauritânia e Níger para fazer face à seca… Isto ajudou famílias em dificuldade a permanecer nas própria  terras. As ambições deste organismo são elevadas, mas para que se realizem,  disse Ngozi ao jornal “Le Monde” é preciso que outros países da África adiram ao ARC.

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Eram apenas alguns aspectos do pensamento e actividades da economista nigeriana, Ngozi Okondjo-Iweala, que nasceu duma família pobre, mas foi singrando na vida e hoje é uma renomada africana, orgulhosa da sua Nigéria. E é com esse espírito que considera uma grande vitória o facto de o nigeriano, Akinwumi Adesina ter sido eleito Maio de 2015 Director Geral do BAD, Banco Africano de Desenvolvimento, um lugar que a Nigéria ambicionava, disse, há 35 anos. Um lugar para o qual concorreu também, ficando em terceiro lugar, de entre vários candidatos, Cristiana Duarte, Ministra das Finanças e Planeamento do actual Governo cessante de Cabo Verde.

(DA) 








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