2016-02-09 10:01:00

Londres. Celebração em rito latino 450 anos depois do cisma


Uma celebração litúrgica, segundo o rito latino da Igreja Católica, será realizada na Capela Real do Hampton Court Palace, em Londres, mais de 450 anos após o cisma anglicano. O histórico evento foi organizado graças à colaboração entre a “Genesis Foundation” e a “Choral Foundation”, duas entidades voltadas à tutela da arte e dos artistas, e que desejaram dar um tom ecuménico à celebração. As Vésperas, quase que totalmente em latim, serão celebradas pelo Arcebispo de Westminster, Cardeal Vincent Nichols, enquanto o Rev. Richard Chartres, Bispo de Londres e Decano da Capela de Sua Majestade, pronunciará um sermão. O Cardeal Nichols contou aos microfones da Rádio Vaticano a origem desta celebração:

“Como os eventos em si mesmos, e como grande parte da nossa história, tem uma origem complexa. Penso que em parte a inspiração para este evento surja da iminência do aniversário dos 500 anos do início da Reforma, e em parte reflecte o desejo de encontrar uma justa colocação à exploração da música daquele período e também reside no facto de que o Bispo de Londres é o Decano da Capela Real de Hampton Court, e portanto, existe uma ligação pessoal entre nós”.

RV: A celebração das Vésperas será dedicada a São João Batista e será desenvolvida em latim, na maior parte da liturgia. Pode fornecer algum detalhe sobre a liturgia?

“Na realidade segue a fórmula normal das Vésperas, as mesmas Vésperas que celebramos na Catedral em cada domingo. A música foi escolhida em consonância com a história da “Chapel Royal”, e este é um dos aspectos mais intensos do evento. A música, na maior parte, é de Thomas Tallis e de William Byrd, compositores entre os séculos XV e XVI. Primeiro nasce Tallis, que depois se torna o tutor de Byrd. Ambos viveram as turbulências do início da Reforma em 1535 e depois dos anos sucessivos, quando a situação na Inglaterra era ainda muito instável e pouco consistente. Obviamente, a rejeição do papado por parte de Henrique VIII, havia aberto as portas para uma grande mudança cultural, mas a imposição da liturgia anglicana reformada ocorreu gradualmente, e quer Tallis como Byrd, escreveram músicas quer “católicas” como “anglicanas”, também em inglês. Souberam assim mover-se de uma margem à outra. De qualquer forma, “Chapel Royal” recolheu este tipo de “fluidez”, de incerteza e também das ambiguidades da época”.

RV: É importante recordar que a “Chapel Real” faz referência não à construção, ao edifício, mas ao coral, aos músicos que seguiam o soberano onde quer que ele fosse. Torna-se, portanto, um ponto de referência chave para o desenvolvimento da tradição coral inglesa…

“Sim, é absolutamente verdade. De facto, os cantores da “Chapel Royal” cantaram em diversos lugares e de muitos destes lugares se fala hoje simplesmente como de “Chapel Royal”. Por “Chapel Royal” na realidade, se entende o corpo dos músicos, está absolutamente correcto. Neste sentido, o facto de que hoje nos encontramos com uma tradição musical que se sobrepõe é muito importante no que diz respeito à busca daquilo que temos em comum. Recordo, por exemplo, que em uma recente visita do Coral de Westminster Abbey, ao Vaticano, eles cantaram, acredito, o “Ave Verum” de Byrd, na Basílica de São Pedro. Portanto, naquela ocasião houve o coral de uma Igreja que tem suas raízes na Reforma, e que cantou peças clássicas da música litúrgica romana na Basílica de São Pedro.. Neste sentido, a música pode nos ajudar a redescobrir as nossas raízes e o nosso património comum. E isto é muito importante”. (JE/BS)








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