2015-11-27 18:17:00

Uganda pérola da África e terra dos mártires de Namugongo


Uganda tem sido muitas vezes definido a pérola da África pela sua beleza natural e pelas suas potencialidades agrícolas. Com efeito, a agricultura é o pilar da sua economia, pois que o seu clima ameno e a fertilidade dos seus solos favorecem o cultivo do café  e do chá de que é um dos maiores exportadores mundiais, mas também de algodão, cana de açúcar, óleo de palma, etc.

O território do Uganda, mais de 241 mil quilómetros quadrados, estende-se por um vasto planalto banhado por diversos lagos, entre as quais o Lago Vitória e o lago Kyoga. É também atravessado pelo Rio Nilo Branco.

Cerca de um milhão e meio dos 241 milhões de ugandeses, vive na capital do país, Kampala. Há notícias de que há mais de dois mil anos, o actual território do Uganda já era povoado por pigmeus e bantus twas.

A partir do século XV formaram-se reinos, o mais conhecido dos quais é o reino dos Buganda. No século XIX tanto árabes como europeus já frequentavam a região da África oriental, interessados no comercio de marfim e escravos, até que em 1860, dois exploradores britânicos descobrem as nascentes do Rio Nilo e inicia a colonização europeia da África oriental. A partir de 1894, o Uganda é transformado em protectorado britânico e como tal permanece até à independência em 1962. Alguns anos antes do início do protectorado, já tinham chegado ao país os primeiros missionários protestantes (1977) seguidos, dois anos depois, de missionários católicos que, em pouco tempo, converteram diversas faixas da população.

Durante o período de protectorado, foram postas as bases para a divisão do país, entre a zona norte e sul do Nilo. Os meridionais foram orientados para a agricultura, enquanto que os do sul  (da etnia acholi e langi) para o Exército.

Com a independência, a Constituição prevê um sistema semi-federal e concede espaços importantes à elite política tradicional. Mas, o delicado equilíbrio entre o rei dos Buganda, primeiro Presidente do país independente, e o seu primeiro ministro Milton Obote dura pouco e em 1966 Obote toma de assalto o exercito e o palácio presidencial.

Em 1971, Idi Amin Dada, Chefe de Estado Maior do Exercito, destitui Obote e, temendo o predomínio dos membros das etnias acholi e langi no Exército, inicia persecuções e matanças. Expulsa do país os numerosos asiáticos que ali viviam e nacionaliza as plantações e outras actividades comerciais dos britânicos.

Entretanto, cresce a tensão entre o Uganda e a Tanzânia, país que tinha dado asilo político a Obote e recebido outros refugiados ugandeses. O conflito desemboca em guerra em finais dos anos 70.

Apoiados pelos rebeldes da “Uganda National Liberation Army” (UNLA), os tanzanianos ocupam Kampala e depõem Idi Amin Dada em 1980. Milton Obote volta ao poder e tem início um período de represália contra os apoiantes de Idi Amin Dada.

No início dos anos 80, o actual Presidente Yoweri Museveni cria o “National Resistance Army” (NRA)  e inicia a guerrilha, à qual Obote responde com massacres em massa. A Cruz Vermelha  denuncia a morte de umas 300 mil pessoas durante a chamada “Operação Bonanza” em 1983. Obote é novamente destituído, desta vez pelo general acholi, Tito Okello Lurwa. Estava-se em 1985 e um ano depois o NRA de Yowere Museveni ocupa Kampala, enquanto que as forças da UNLA pró Obote se reorganizam no Sudão e no norte do país assumindo o nome de “Exercito Democrático do Povo do Uganda”. Em 1988 as partes em conflito chegam a um acordo de paz que prevê amnistia para todos os combatentes.

Entretanto surge uma outra figura no complicado cenário ugandês : Joseph Kony que se declarou, em finais de 1987, dotado de poderes sobrenaturais e fundou o próprio movimento, o chamado “Lord’s Salvation Army”, (Exercito de Salvação do Senhor) que, em 1994 mudou de nome para “Exercito de Resistência do Senhor” (LRA). O objectivo dele era tomar poder e governar segundo os dez mandamentos da Lei de Deus e alguns preceitos do islão.  O LRA foi acusado de atrocidades terríveis contra a população civil e de ter recrutado para as suas fileiras crianças-soldado. Nos anos 90 dão-se muitos recontros armados entre o Uganda e países vizinhos, entres os quais o Sudão, apoiante do LRA. Aliás, pensa-se, que Joseph Kony, que a um dado momento desapareceu do mapa, esteja algures no Sudão. O seu movimento desintegrou-se e alguns dos seus generais entregaram-se ao Tribunal Penal Internacional.

Em 1995, uma nova Constituição introduz o multipartidarismo no Uganda. Contudo, só se tornará efectivo 10 anos depois. O actual Presidente Yoweri Museveni é, então, eleito formalmente em 1996 e reconfirmado outras três vezes, 2001, 1006 e 2011.

Em 1999 o Uganda, o Quénia, e a Tanzânia criaram a Comunidade Económica da África oriental.

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O Uganda, dizíamos, é também conhecido como o país dos mártires. E uma das razões que levaram o Papa Francisco a este país da África Oriental é a comemoração dos 50 anos da beatificação dos mártires  de Namugongo: este é de facto o nome do lugar onde, entre 1885 e 1886, foram martirizados 22 jovens católicos (o mais célebre dos quais é  Carlos Lwanga) e numerosos anglicanos, assim como também muçulmanos.   

A vicissitude desses jovens teve lugar durante o reinado de Mwanga, um jovem rei que, embora tendo sido educado no cristianismo, acabou por ver em católicos e anglicanos o maior perigo para o seu reino. Assim, em 1885, dá inicio a uma tremenda persecução de cristãos, que levará à morte na fogueira de Carlos Lwanga e os seus 21 companheiros, o mais novo dos quais é Kizito que tinha apenas 14 anos. Todos foram beatificados pelo Papa Bento XV em 1920 e canonizados por Paulo VI em 1964. Foi também o Papa Montini que, na sua viagem ao Uganda, em 1969, dedicou o Santuário de Namugongo, construído no lugar onde se deu o martírio de São Carlos Lwanga, a esses mártires. Eles foram os primeiros fiéis católicos africanos da África sub-sahariana a ser proclamados santos. O Martyrologium Romanum comemora cada um deles no dia da sua morte, enquanto que a 3 de Junho é a memória conjunta de São Carlos Lwanga e dos companheiros.

De salientar que os mártires anglicanos não foram canonizados por não pertencerem à Igreja católica, mas o Papa Paulo VI, na sua homilia, fez menção a eles, assim como aos mártires muçulmanos.

A Igreja no Uganda tem também na sua história, a primeira reunião do Simpósio das Conferências Episcopais da África, o SCEAM, razão que levou o Papa Paulo VI ao país em 1969, o primeiro Papa a visitar a África subsaariana. Depois, em 1993, o Papa João Paulo II visitou o país e elevou a Basílica menor a Santuário Nacional dos Mártires do Uganda. 

(DA) 








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