2015-10-07 09:30:00

Burkina Faso: Depois da tentativa de golpe Igreja apela à reconciliação


Uma exortação para a construção da paz, justiça e reconciliação veio a toda a população de Burkina Faso do Cardeal Philippe Nakellentuba  Ouédraogo, arcebispo de Ouagadougou e do Núncio Apostólico no país, Dom Piergiorgio Bertoldi, após a tentativa de golpe de estado militar da ex-guarda presidencial, e que terminou com a rendição do general golpista Gilbert Diendéré. "Nós podemos realmente reconciliar-nos  na justiça, para uma paz verdadeira e duradoura", disse o purpurado na missa dominical celebrada no Santuário mariano de "Notre Dame de Yagma", segundo informa a agência de notícias Fides. Por seu lado, o Arcebispo Bertoldi convidou  a "ter confiança na justiça" e a trabalhar – informou a agência MISNA - também para a realização de eleições pacíficas, inicialmente previstas para 11 de outubro, mas adiadas, por causa das recentes tensões, talvez para inícios de dezembro. Mas qual é agora a situação no Burkina Faso, que já tinha experimentado uma profunda crise no fim de 2014, com a saída da cena política do ex-presidente Blaise Compaoré, no poder há quase três décadas? Responde Marco Di Liddo, analista de questões africanas no Centro de Estudos Internacionais, entrevistado por Giada Aquilino:

O país encontra-se quase como se encontrava na sequência da expulsão do ex-presidente Compaoré, portanto feliz por ter feito um gesto de ruptura com um passado caracterizado sobretudo por uma gestão muito corrupta e muito personalista do poder, mas ao mesmo tempo preocupado com as perspectivas de desenvolvimento político e económico do futuro. Claro, o facto de ter resistido a uma tentativa reaccionária de contra-revolução por parte das forças ligadas àquilo que era o poder do passado, mostrou que existe unidade de propósitos entre o povo de Burkina Faso e o actual Governo Nacional de Transição, que é expressão de mudança. Mas ainda há muitas incógnitas sobre o que vai ser a gestão do futuro e como reintegrar no processo político de decisão todos os que partilhavam as ideias políticas de Compaoré.

Como se chegou à rendição do general Diendéré? Que papel tiveram as forças estrangeiras nesta crise?

Diendéré rendeu-se e, com ele, rendeu-se o regimento da Guarda Presidencial, porque perceberam que estavam sozinhos e não eram apoiados de forma alguma pela população. O papel das potências estrangeiras foi importante, sobretudo em relação aos países africanos, porque a CEDEAO conseguiu  fazer entender a Diendéré, de forma muito honesta e precisa, que não havia absolutamente nenhum espaço para qualquer legitimação de uma tal acção nos contextos regionais da África Ocidental e que, se ele não tivesse abandonado esta irrealista tentativa de golpe, teria contra si países do calibre da Nigéria, Senegal e Chade.

Como se tinha desenvolvido esta tentativa de golpe?

As razões eram puramente política. Depois da demissão de Compaoré, havia o risco de que os seus partidários perdessem a influência e os privilégios que tinham caracterizado a sua temporada política. Portanto, estes leais de Compaoré, postos perante o risco de serem totalmente expulsos do mecanismo de tomada de decisões, tentaram reverter e parar a transição: não tendo sido capazes de fazê-lo politicamente, porque são uma minoria, tentaram um efémero gesto de força.

O Presidente Michel Kafando, restabelecido nas suas funções, interveio na Assembleia Geral das Nações Unidas, um sinal,  talvez, que em parte a distensão começou em Burkina Faso. Mas o que falta ainda para normalizar a situação?

Faltam eleições legítimas que permitam ao povo burquinês de exprimir aquilo que é o seu valor democrático. Porque, embora Kafando é "o homem da mudança" ele é contudo um líder que ascendeu à presidência da República não através de eleições; assim também o premier Yacouba Isaac Zida, que é um militar. Hoje Burkina Faso é um país cheio de recursos humanos. E também de recursos naturais mas, como muitas vezes aconteceu em África, esta riqueza tem sido explorada por alguns poucos privilegiados que deixaram o resto da população em condições de terrível subdesenvolvimento. Portanto, o desafio para Kafando, ou para aquele que assumir  o seu lugar no vértice do Estado, será o de garantir um futuro melhor para a população. (BS)








All the contents on this site are copyrighted ©.