2015-05-11 19:26:00

CODASC e o projecto mulheres ruarais - Norte dos Camarões


A rubrica “África. Vozes Femininas” leva-nos até à Diocese de Yagoua, no Norte dos Camarões, conhecida também por “Extreme Nord”. Ali se encontra desde há dias a jornalista italiana, Silvia Koch, colaboradora da Rádio Vaticano. Ela  entrou em contacto com a Cáritas local, chamada CODASC. Esta organização caritativa tem, entre as suas actividades, a assistência a refugiados, questões ligadas à educação, à saúde, à água, à energia, à promoção da justiça e da paz e ainda a cooperativas e grupos agrícolas de mulheres rurais. Neste âmbitoa Silvia entrevistou Helène Ngabana e Elisabeth Kidvou, animadoras rurais por parte da CODASC. Acompanhem então a rubrica, a cargo de Dulce Araújo…

Uma das actividades de relevo da CODASC, Cáritas da Diocese de Yagoua, no Norte dos Camarões, tem que ver com a coordenação de mulheres no meio rural. Uma das animadoras é Helène Ngabana que explicou a Silvia Koch o teor do projecto:

 “Temos grupos de mulheres que estamos a sensibilizar e que estão já em formação. Algumas já estão mesmo a levar avante actividades geradoras de rendimento, como a gestão de moinhos comunitários, gestão de moto-bombas de água, atrelagens agrícolas e muitas outras coisas como a criação de pequenos ruminantes, aves, etc. Antes, tudo isso era feito em grupo com muitas dificuldades, como podemos constatar. Então cada mulher passou a fazer tudo individualmente, mas têm uma caixa comunitária: cada mulher que obtém um lucro, põe uma parte desse lucro na caixa comum. E é essa caixa que as liga e que as leva a ficar juntas em grupo. Actualmente estamos a tentar incutir a ideia de cooperativa. É este, portanto, o projecto “Mulher Rural”.

“O Dia da mulher é muito intenso. Ela levanta-se às quatro da manhã ou mesmo antes, faz, antes de tudo, os trabalhos domésticos, depois vai à horta, volta com alguma coisas para vender ou então vai desempenhar algum serviço para arranjar um  dinheirinho para a família. E mesmo que esteja grávida, faz tudo isto enquanto o homem está sentado. O que quer dizer que toda a carga familiar recai sobre os ombros da mulher. Pode acontecer também que haja reuniões das mulheres da aldeia, as chamadas “Tontine” e se a mulher não parte disso, tudo torna-se mais difícil para ela. Tem de participar nas reuniões das “Tontine” porque deste modo pode ter algo pelo menos no fim do mês ou do ano. Este é, portanto, o dia da mulher do Extremo Norte”.

O que são as “tontine”? – perguntou Silvia Koch a Helène Ngabana

“São actividades que as mulheres fazem entre elas. Se forem, por exemplo, 5 mulheres, fixam uma quantia para constituir um fundo, cada uma põe a sua parte e uma das mulheres beneficia desse fundo, depois uma outra, e assim por diante, até completar o grupo. É isso a “Tontine”.

Quanto à Cáritas apoia a mulheres do ponto de vista material..

“Apoia de forma material. Quando as mulheres têm objectivos a atingir, a Cáritas ajuda a atingir esses objectivos. As necessidades são comunicadas ao CODASC e ela apoia com materiais”

Os resultados obtidos até agora são importantes:

“As mulheres antes não se punham em grupo como acontece agora. Já criaram grupos, estão a gerir projectos sozinhas. É o GIC, Grupo de Iniciativas Comuns, contrariamente a grupos oficiais, os GIC são grupos informais, locais. Mas enquanto Gic, já obtiveram um certificado passado pelo Estado. Este é um resultado palpável. Em segundo lugar, há mulheres que estão a criar outras actividades, projectos futuros, mas já começaram a realizar. Eis o que já temos feito”.

Esta acção da CODASC tem mudado muito na vida das mulheres – afirmou ainda Heléne Ngabana ao microfone di Silvia Koch:

“Posso dizer que com o projecto CODASC para as Mulheres, elas melhoram muito as suas condições de vida. Aquelas que não conseguiam ter nenhum lucro no fim do mês, agora conseguem fazer pequenos comércios. Conseguem associar-se entre elas no seio do grupo comunitário e a realizar muitas outras actividades.  Antes não conseguiam ter nenhum dinheiro no fim do mês. Agora conseguem fazer actividades geradoras de rendimento e obtém pequenos benefícios. Têm também possibilidade de participar nas reuniões com outras mulheres. Antes cultivavam a terra com a enxada simples, agora conseguem usar atrelagens agrícolas, mesmo que não sejam inteiramente da sua propriedade, beneficiam das acções da CODASC que as oferece. E mulheres que não queriam sair de casa, agora conseguem falar, tomar decisões no grupo. Hoje temos mulheres presidentes de grupo, secretárias, tesoureiras que gerem as finanças do grupo…. Eis, em poucas  palavras, o melhoramento que vemos no grupo de mulheres com o apoio da CODASC.”

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As nossas vozes são esta semana duas animadoras, por conta da Cáritas da Diocese de Yagoua, Norte dos Camarões, a grupos de mulheres rurais. Depois de  Heléne Ngabana nos ter ilustrado o projecto “Mulheres Rurais” e os benefícios que tem trazido as essas mulheres vamos agora ver com Elisabeth Kidvou as dificuldades que enfrentam…

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“Na realidade desde que trabalhamos no CODASC, encontramos muitas dificuldades no plano técnico. Por exemplo, quando vamos ter com os grupos de camponesas, às vezes a mensagem não passa. É sempre necessário a intervenção dum tradutor, nós falamos francês e ele traduz na língua local. Esta é uma das dificuldades… ou então tem-se de ser daquela mesma localidade para falar na língua dos nossos grupos femininos”

Silvia Koch que estrevistou Heléne e Elisabeth, quis também saber quem toma as decisões no âmbito do projecto?

“Nos projectos, são as próprias mulheres que tomam decisões. Lançamos as questões e elas tomam decisões. Já estão organizadas para isso. Do ponto de vista material, até agora nas aldeias, as mulheres pilavam o milho à mão e elas sublinhavam isso como uma dificuldade. Sublinhavam também a dificuldade da água. Não têm água potável na aldeia, vão procurá-la muito longe e é uma dificuldade.”

Elisabeth Kidvou explicou ainda à Silvia que o projecto é bem acolhido na comunidade não só pelas mulheres, como também pelos homens, pelos chefes religiosos… enfim por todos…

“Quando vamos em direcção à comunidade, é um orgulho para os líderes. Eles querem o desenvolvimento da sua localidades, mas não sabem como e por onde começar. Mas quando vêem uma iniciativa como esta, ficam contentes e todas gostariam que permanecêssemos ali para as ajudar a melhor reflectir, não a dar tudo, mas a reflectir, antes de mais. E quando reflectem, nascem muitos projectos e esperam então de nós alguma ajuda porque os seus recursos são limitados. É isto que constatamos. Eles são muito orgulhosas de acolher aquilo que levamos”.

São limitados, dizia a Elizabeth. Quais são então os limites maiores que que enfrentam?

“São limitadas financeiramente e quando têm algum dinheiro é para bens de primeira necessidade; a alfabetização também é um problema crucial, muitas não tiveram a sorte de ir para a escola. O que faz com que mesmo que queiram dizer algo têm de recorrer ao homem ou a algum filho que tenha sido escolarizado. Não conseguem exprimir o que lhes vai na alma e isto é um grande handicap; a relação com o mundo externo é um problema porque não conseguem exprimir-se, razão pela qual não conseguem posicionar-se” .

Mulheres rurais ajudadas pela Cáritas local na Diocese de Yagoua, Extremo Norte dos Camarões. Ouvimos aqui duas animadoras, Heléne Ngabana e Elisabeth Kidvou, entrevistadas localmente pela jornalista italiana, Silvia Koch, a quem agradecemos. África. Vozes Femininas volta no próximo domingo aqui na Rádio Vaticano, emissão em português para a África. (DA)








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