2015-04-03 16:30:00

Governo do Quénia promete combater firmemente o terrorismo


É de 147 mortos e 79 feridos o balanço do ataque lançado pelo grupo insurreccional somali al Shabab  contra o Campus Universitário de Garissa , no nordeste do Quénia, perto da fronteira com a Somália.

Este triste balanço foi anunciado pelo Ministro queniano do Interior, Joseph Nkaissery, acrescentando que foram necessárias mais de 15 horas para se pôr termo ao ataque. Os quatro assaltantes foram mortos pela polícia. Traziam ao corpo explosivos e estavam equipados com armas de fogo – disse o Ministro, declarando que o Governo do Quénia não se deixará intimidar pelos terroristas e que está determinado a combate-los, confiante de que vencerá esta guerra contra os inimigos.

Entretanto, o Governo impôs cessar-fogo desde o pôr do sol ao amanhecer em Garissa e reforçou a segurança na região.

Por seu lado os Estados Unidos condenaram firmemente este ataque contra a Universidade de Garissa.

O facto  aconteceu Quinta-feira Santa de madrugada. Seguiram-se  horas de disparos e explosões na batalha entre os atacantes e as forças de segurança que tentavam libertar os reféns.

A acção reivindicada pelo grupo al Shabab somali terá sido orquestrada – segundo o correspondente da Rádio Vaticano, P. Giulio Albanese - pelo ex-director queniano de uma escola corânica. Os extremistas, segundo testemunhos dos sobreviventes teriam separado os estudantes católicos dos de religião islâmca cometendo depois atrocidades inauditas: decapitações, mutilações e assim por diante.  O aspecto inquietador é - segundo Albanese -  o facto de os terroristas terem conseguido ultrapassar diversos postos de controlo e mesmo os guardas do Campus Universitário sem que nas averiguações por parte dos militares e da polícia fosse detectada nenhuma arma. O que significa que as armas usadas no ataque já se encontravam no interior do Campus, podendo os extremistas islâmicos contar com cúmplices internos. Tudo parece, portanto, ter sido planificado desde há tempos, pese embora a inteligência queniana estivesse já em estado de alerta”

Contactado telefonicamente por Linda Bordoni da Secção inglesa da RV, o Pároco de Garissa, P. Nicolas Mutua confirmou de que tinha havido ameaças…

“Sim, como sabe, eu estava à espera disso, porque nós tínhamos sido ameaçados. Tinham dito para estarmos atentos, porque o teriam feito, e aconteceu ontem. Fomos à estação da polícia para informar sobre os nossos horários das missas, porque normalmente mandam-nos forças de segurança para a nossa protecção pessoal durante a missa. Normalmente somos sempre protegidos quando há missa: não podemos celebrar missa sem uma protecção, porque  eles chegam enquanto estamos na Igreja. Não estou tranquilo quando trabalho, porque não sei o que pode acontecer. E não é só porque sou cristão, mas também porque condeno estes actos. Há colegas meus e amigos, também muçulmanos, que foram assassinados porque denunciaram, porque falaram do que está a acontecer, e nada foi feito! Não se pode matar em nome de Deus”

Mas o que estará na base deste ataque?  Eis a opinião de Marco di Liddo, analista italiana do Centro de Estudos Internacionais, entrevistado pela colega Giada Acqulino:

“Para os Alshabab o Quénia tornou-se num território estratégico da ofensiva de matriz jihadista na região do Corno de África. As razões são de ordem militar e político: o aspecto militar está ligado à avançada que a missão internacional da União Africana está a levar avante na Somália e que obriga, portanto, al Shabab a estender a sua acção para além dos confins da Somália. O aspecto político é que al Shabaab já não é apenas uma realidade somali, mas sim uma realidade amadurecidamente internacional da jihad e que procura, portanto, atingir territórios em todo o Corno de África de levar adiante a agende internacional do jihad.”

Os ataques de al Shabaab não são, infelizmente, uma novidade no Quénia. Em 1998 um atentado contra a Embaixada dos Estados Unidos em Nairobi provocou a morte de 213 pessoas e em 2013 um outro sangrento atentado contra um dos centros comerciais da capital provocou também muitos mortos. O que visam os extremistas islâmicos com isso tudo?

“Visam a desestabilização do Quénia, que é dos países que mais se tem empenhado na luta contra o terrorismo jihadista no Corno de África. Mas trata-se também dum país com um equilíbrio étnico-religioso muito frágil e uma situação económica precária. A agenda de Al-Shabaab é a de cooptar as exigências das faixas mais débeis e mais expostas da sociedade e utilizá-las contra o governo do país como instrumento de pressão política. Não nos esqueçamos de que a faixa setentrional do Quénia hospeda muitas representações somalis: há, portanto, a possibilidade de se servir duma rede tribal consolidada, na tentativa de imitar ou, de qualquer modo, de procurar “territorializar” o movimento. A ideia do Califado de criar realidades estatais ou para-estatais jihadistas, tornou-se no novo objectivo, o denominador comum desses movimentos todos, mesmo que se encontrem geograficamente muito distantes um do outros. Al Shabaab ainda não declarou nenhuma afiliação oficial ao chamado Estado Islâmico; faz parte da rede de Alquaeda, mas não se pode excluir que, para relançar a sua imagem e a própria atracção, alguma das facções de Al Shabaab decida mudar de rota e de se declarar fiel ao chamado Estado Islâmico, isto na tentativa de revigorar as próprias fileiras e os próprios objectivos político-militares.”

Acenou à situação geral do Quénia. E em relação à Somália, qual é a situação hoje?

“A Somália é hoje um país que procura arduamente de se reconstruir. Há finalmente um Governo e uma Presidência da República que, de certo modo, são representativos de algumas realidades tribais e da vontade do povo. Em Mogadíscio procura-se viver com normalidade, embora seja difícil, pois os ataques do al Shabaab são quotidianos. No resto do país está em curso uma guerra silenciosa, porque contrariamente a outras situações idênticas, não goza da mesma atenção por parte dos media. Trata-se, no entanto, dum país que necessita do apoio político, antes de mais da comunidade internacional, para poder tornar a fazer parte, a pleno título, do concerto das nações, depois de ter sido definido ao longo de 20 anos como um “Estado Falido”, um buraco negro geopolítico em que proliferaram terrorismo islâmico, pirataria e outros fenómenos de instabilidade”.

O Ministro do Interior do Quénia declarou que o Governo do seu país não se deixará vencer pelos terroristas. Mas qual será a sua atitude em relação à Somália? - perguntou a colega francesa, Marie du Hamel a Rolan Marshal, especialista do Corno de África

“Não será por causa destas mortes que vai abandonar a missão na Somália (…). O que é necessário é que tome iniciativas verdadeiramente políticas em relação às suas comunidades muçulmanas e, se possível, em relação à Somália, porque na Somália continua-se a dizer que al Shabaab está praticamente derrotado, mas na realidade continua activo e cada vez mais perigoso. Talvez, seja necessário pôr-se a questão: tem-se uma boa política para resolver o problema que al Shabaab comporta”?

E com esta pergunta terminamos a rubrica “África Global” desta Sexta-feira Santa, na esperança de que a morte e ressurreição de Cristo desperte nos corações humanos, sentimentos de verdadeira irmandade e, por conseguinte, dum mundo melhor para todos. 








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