2015-02-25 12:48:00

Ucrânia: Shevchuk, diálogo de encontros contra preconceitos


"Os desafios pastorais da Igreja Greco-Católica Ucraniana, no contexto de guerra" – foi o tema da conferência de imprensa de Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, Arcebispo-Mor da Igreja Grego-Católica ucraniana, realizada na sede da nossa estação emissora da Rádio Vaticano. Na sexta-feira o Papa Francisco, ao receber em audiência os bispos ucranianos em visita "ad limina", havia exortado os bispos a serem atentos aos valores característicos do seu povo: "o encontro, a colaboração, a capacidade de recompor as controvérsias. Em poucas palavras: a busca da paz possível".

Toda a sociedade ucraniana está ferida, física e psicologicamente. Não poderia ser senão de guerra o quadro traçado por Sua Beatitude Shevchuk. Os dados oficiais fornecidos pela ONU não dão suficiente ideia da realidade no País: mais de um milhão de deslocados e refugiados, mas - diz ele - "o número real é o dobro". Uns 600 mil estão em busca de refúgio noutros Estados; entre os refugiados, 140 mil são crianças, um número também entregue ao Papa durante a visita "ad Limina" dos bispos ucranianos na semana passada. Na ocasião, foi apresentado um convite ao Santo Padre "para visitar a Ucrânia": um "passo profético", definiu-o o Arcebispo Shevchuk. No Vaticano, os bispos sublinharam  a necessidade de "um apelo à uma acção humanitária internacional". O Pontífice, informou Sua Beatitude Shevchuk, desejou que os bispos provenientes das áreas de Donetsk e Crimeia relatassem a sua vida quotidiana, que na realidade - disse o Arcebispo-Mor - não é a de "fazer política", mas de "estar ao lado do nosso povo, sentir o cheiro das nossas ovelhas", como solicitado várias vezes pelo Santo Padre. É claro que o capítulo da liberdade religiosa hoje na Ucrânia  é de grande actualidade: os Tártaros da Crimeia, muçulmanos, dizem de ser perseguidos, continuou o arcebispo Shevchuk; os "irmãos judeus" fugiram de Donetsk. E na Crimeia, 5 paróquias receberam o pedido para renovar o seu registo: eles fizeram isso, explicou o arcebispo, mas por três vezes foi rejeitado. O convite agora é para o respeito da verdade e o empenho efectivo, como o da Igreja greco-católica ucraniana ou como o empenho levado a cabo recentemente pelo Conselho Mundial das Igrejas. Eis, pois, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk:

Estamos a trabalhar pela paz, para fazer parar a guerra e, certamente, devemos usar todos os meios para isso. Esperamos que, mesmo a nível diplomático e internacionalmente, se chegue a um acordo. Vemos que este acordo de Minsk não levou a um sucesso, porque não houve um cessar-fogo (real). Esperemos que este apelo do Santo Padre seja ouvido por todos, não apenas pelas vítimas na Ucrânia, mas também pelos poderosos do mundo.

Disse que o Papa será o porta-voz da dor dos ucranianos: qual  mensagem vos confiou para levardes à Ucrânia?

O Papa disse-nos: "Eu estou convosco!". É importante que o povo ucraniano tenha a garantia da proximidade e da atenção paterna do Santo Padre. Esta é a mensagem que estamos a levar à Ucrânia para os nossos fiéis.

Confidenciou dizendo que o conhece desde os tempos em que estava em Buenos Aires: O que espera daí?

Em Buenos Aires conheci-o como uma pessoa de poucas palavras, mas de grandes e profundas acções. Portanto é, sim, importante ouvir as palavras, mas elas certamente não esgotam tudo o que o Santo Padre deseja.

Na vossa ‘Carta aos sacerdotes sobre a pastoral em condições de guerra' escrevestes que os ucranianos estão feridos fisicamente, mas também moralmente. O que quer isso dizer?

Quer dizer que, nesta situação de guerra não é apenas o corpo que sofre, mas também sofre a alma: todos nós estamos feridos também psicologicamente. A experiência das outras zonas de conflito nos diz que esta síndrome pós-traumática mata, e fá-lo mesmo depois do fim dos ataques militares propriamente ditos. Sabemos que muita gente que sofreu deste fenómeno começa a usar álcool, drogas, comete suicídios. É preciso tratar as almas. É preciso procurar realmente um medicamento para salvar não apenas aqueles que são feridos no campo de batalha, mas também aqueles que sofrem desta ferida psicológica, como resultado da guerra.

80% da população  ucraniana agora ajuda e está empenhada em acções de solidariedade: como se faz, também através da Caritas?

Existem várias iniciativas. Agora estimo a tentar criar um forum das iniciativas civis para coordenar estas acções, porque muitos estão – por exemplo – a comprar roupa, procuram comprar medicamentos, procuram também ajudar na reconstrução das casas nestas zonas. A sociedade aprendeu, já desde anos, a não esperar que alguém de fora ou que mesmo o próprio governo comece a trabalhar. Penso que é um sinal de maturidade por parte da sociedade civil: e até nós mesmos tomamos a nossa responsabilidade para ajudar, para salvar as vítimas e também para defender o nosso País.

Falou da mediação do Conselho Mundial das Igrejas: quais são as vossas expectativas?

Esperamos que esta mediação possa verdadeiramente ajudar a abri rum diálogo, um diálogo não feito através dos meios de comunicação, que muitas vezes representam uma imagem um pouco distorcida daquilo que sucede. Os encontros pessoais ajudam a fazer cair os preconceitos e certas ‘imagens falsas’. Esta * a metodologia do Santo Padre João Paulo II, que dizia que “os encontros pessoais fazem cair os muros”. Isto é aquilo que nós queremos também para esta mediação do Conselho Mundial das Igrejas. (BS)








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