2014-12-01 12:52:00

A Semana do Papa de 24 a 30 de novembro


Esta semana foi particularmente intensa para o Papa Francisco: visitou o Parlamento Europeu e o Conselho da Europa e esteve três dias na Turquia em Visita Apostólica. A nossa redação selecionou os principais momentos de uma semana repleta de atividades do Santo Padre

Dia 25

No dia 25 de novembro o Papa Francisco viajou até Estrasburgo onde discursou no Parlamento Europeu e no Conselho da Europa.

Foi uma mensagem de esperança e de encorajamento que o Papa Francisco levou aos Parlamentares Europeus.  Pondo em realce o mundo em mutação, menos eurocêntrico e uma União Europeia cada vez mais alargada, o Papa chamou, no entanto atenção para o envelhecimento deste continente, onde não obstante o projeto inicial de pôr a pessoa humana, dotada de dignidade transcendental, no centro de tudo, encontra-se hoje numa situação, onde persistem situações em que o ser humano é tratado como objeto que pode ser descartado quando não é útil.

O Papa sublinhou também o paradoxal abuso do conceito de direitos humanos ligado a uma reivindicação cada vez maior dos direitos individuais a despeito da conexão entre direitos e deveres e do contexto social em que as pessoas vivem.

A dignidade transcendente do ser humano leva a ver nele antes de mais um ser relacional. Mas hoje na Europa tende-se a difundir a solidão, agravada pela crise económica e pela falta de confiança nas instituições - afirmou o Papa – acrescentando:

“Tem-se uma impressão geral de cansaço e de envelhecimento, de uma Europa avô que já não é fértil nem vivaz. Os grandes ideais que inspiraram a Europa parecem ter perdido força de atração em favor do tecnicismo burocrático das instituições” .

Chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa amedrontada e debruçada sobre si mesma para suscitar uma Europa protagonista, portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé; uma Europa que olha, defende e tutela a pessoa humana.

Logo de seguida o Papa Francisco visitou o Conselho da Europa onde proferiu um discurso aos membros desta instituição que reúne os representantes dos 47 países membros, os juízes do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e das várias instituições que compõem este Conselho.

No seu discurso o Papa começou por lembrar a crueldade da Segunda Guerra Mundial e a divisão da Europa em dois blocos que dela surgiu, como ponto de partida do projeto dos "Pais Fundadores" de reconstruir a Europa num espírito de serviço mútuo. Neste contexto, disse o Papa, o Conselho da Europa tornou-se um instrumento significativo para caminhar no tempo, para privilegiar as ações que geram  novos dinamismos na sociedade.

Papa Francisco falou a este propósito da importância de gerar a paz em todo o tempo, uma paz fundada na reconciliação. E para conquistar o bem da paz é preciso, sublinhou o Papa, educar para a paz, desterrando uma cultura do conflito que visa amedrontar o outro, marginalizar quem pensa ou vive de forma diferente. Infelizmente, reconheceu o Papa, a paz é ferida ainda muitas vezes em muitas partes do mundo, onde enfurecem conflitos de diverso género, mas também na Europa, onde não cessam as tensões; a paz é posta à prova também por outras formas de conflito, como o terrorismo religioso e internacional que nutre profundo desprezo pela vida humana e ceifa, de forma indiscriminada, vítimas inocentes.

O Papa assinala a disponibilidade da Igreja Católica, através do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), para colaborar com o Conselho da Europa, sobretudo no campo da reflexão ética sobre os direitos humanos e em relação aos temas da tutela da vida humana, questões delicadas sensíveis que precisam ser submetidas a um exame atento que tenha em conta a verdade de todo o ser humano, sem limitar-se a âmbitos médicos, científicos ou jurídicos específicos. E mencionou os problemas das migrações ligadas ao reconhecimento da dignidade das pessoas, do tema do trabalho, e a colaboração na defesa do meio ambiente, se bem que na separação dos âmbitos e na diversidade das posições, mas no desejo da verdade e de edificar o bem comum.

Dia 26

Quarta-feira, 26 de novembro –audiência geral do Papa Francisco. Tema da catequese: a Igreja que peregrina em direção ao Reino.

“A Igreja não é uma realidade estática, imóvel, finalizada em si mesma, mas vive na história caminhando continuamente para a meta última e maravilhosa que é o Reino dos Céus, do qual a Igreja na terra é o gérmen e o início.”

 

Esta citação do Concílio Vaticano II – continuou o Santo Padre – permite-nos dizer que a meta para a qual caminha a Igreja é a:

 

“…nova Jerusalém, o Paraíso: este, mais do que um lugar, é um «estado de alma no qual se hão de realizar, de forma superabundante, as nossas expectativas mais profundas e alcançará pleno amadurecimento o nosso ser de criaturas e filhos de Deus.”

 

Então contemplaremos a Deus face a face – afirmou o Papa Francisco.

 

Dia 28

Na sexta-feira, dia 28 de novembro o Papa Francisco iniciou a sua Viagem Apostólica de três dias à Turquia. Na altura da sua chegada foi acolhido pelas autoridades turcas, nomeadamente, pelo Presidente Erdogan e nessa ocasião pronunciou um discurso do qual destacamos a seguinte mensagem: muçulmanos, judeus e cristãos, irmãos e companheiros. Na tarde desse dia um momento inter-religioso importante. O Santo Padre referiu-se à situação trágica no Médio Oriente:

“Verdadeiramente trágica é a situação no Médio Oriente, especialmente no Iraque e na Síria. Todos sofrem com as consequências dos conflitos, e a situação humanitária é angustiante. Penso em tantas crianças, nos sofrimentos de tantas mães, nos idosos, nos deslocados e refugiados, nas violências de todo o género.”

 

O Papa Francisco considerou particularmente preocupante a ação de um “grupo extremista e fundamentalista” que está a fazer sofrer comunidades inteiras “especialmente de cristãos e yazidis” e não só, “por causa da sua identidade étnica e religiosa”. Especificamente sobre o sofrimento de cristãos e yazidis o Santo Padre disse o seguinte:

 

“Foram expulsos à força das suas casas, tiveram de abandonar tudo para salvar a sua vida e não renegar a fé. A violência abateu-se também sobre edifícios sagrados, monumentos, símbolos religiosos e o património cultural.”

 

O Santo Padre afirmou então que a responsabilidade dos chefes religiosos é a de “denunciar todas as violações da dignidade e dos direitos humanos”. O Papa Francisco considerou ainda que “a denúncia deve ser acompanhada pelo trabalho comum para se encontrarem soluções adequadas. Isto requer a colaboração de todas as partes: governos, líderes políticos e religiosos, representantes da sociedade civil e todos os homens e mulheres de boa vontade.”

 

Dia 29

No dia 29 de novembro o Papa Francisco celebrou na Catedral de  Istambul uma Eucaristia na presença do Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I. Mensagem principal do Santo Padre: “O Espírito Santo é a alma da Igreja”, dá vida, suscita os diversos carismas e cria a unidade. Ele é a harmonia.

“ O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre os crentes: de muitos faz um único corpo, o corpo de Cristo. Toda a vida e missão da Igreja dependem do Espírito Santo.”

Após a Missa na Catedral de Istambul, o Papa Francisco partiu para a sede do Patriarcado de Constantinopla, para participar na Oração de vésperas da Festa de Santo André com o Patriarca Bartolomeu.

 “Sinto que a nossa alegria é maior porque a fonte está mais além, não está em nós, não está no nosso compromisso e nos nossos esforços – que também existem, como de dever –, mas está na comum entrega à fidelidade de Deus, que lança as bases para a reconstrução do seu templo que é a Igreja”.

“Está aqui a semente da paz está aqui a semente da alegria. Aquela paz e aquela alegria que o mundo não pode dar, mas que o Senhor Jesus prometeu aos seus discípulos e lha deu como Ressuscitado, no poder do Espírito Santo.”

 “André e Pedro – prosseguiu ainda o Papa - ouviram esta promessa, receberam este dom.”

(André e Pedro) eram irmãos de sangue, mas o encontro com Cristo transformou-os em irmãos na fé e na caridade. E nesta noite jubilosa, nesta oração de vigília, quero sobretudo dizer: irmãos na esperança.

Dia 30

O domingo dia 30 foi o último da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Turquia.

Neste último dia da sua viagem apostólica à Turquia, o Papa Francisco esteve presente, na igreja patriarcal de São Jorge, em Istambul, à solene Divina Liturgia da festa de Santo André, presidida pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I. Uma celebração quase inteiramente cantada, segundo a rica tradição comum a todas as Igrejas de tradição bizantina (ortodoxas e católicas) da Grécia, do Médio Oriente, do Leste europeu e mesmo do sul da Itália. 

Intervindo no final da celebração, o Papa Francisco sublinhou a importância da experiência do encontro pessoal, tanto na vida cristã como no caminho ecuménico e recordou três “vozes” que as Igrejas cristãs não podem deixar de ouvir: a voz dos pobres, das vítimas dos conflitos e dos jovens.

No final da celebração da Divina Liturgia teve lugar a assinatura da declaração conjunta do Papa Francisco e do Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I:

A Declaração conjunta refere expressamente a preocupação comum pela situação no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente, declarando-se “unidos no desejo de paz e estabilidade e na vontade de promover a resolução dos conflitos através do diálogo e da reconciliação”.

“Não podemos resignar-nos com um Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois mil anos. Muitos dos nossos irmãos e irmãs são perseguidos e, com a violência, foram forçados a deixar as suas casas.”

“A dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que sofrem no Médio Oriente exige não só uma oração constante, mas também uma resposta apropriada por parte da comunidade internacional.

“Os grandes desafios, que o mundo enfrenta na situação atual, exigem a solidariedade de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, reconhecemos a importância também da promoção dum diálogo construtivo com o Islão, assente no respeito mútuo e na amizade. Como líderes cristãos, exortamos todos os líderes religiosos a continuarem com maior intensidade o diálogo inter-religioso e fazerem todo o esforço possível para se construir uma cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos.”

E com a Declaração Conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu terminamos esta síntese das principais atividades do Santo Padre que foram notícia de 24 a 30 de novembro. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa. (RS)








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