O Conselho da Europa existe há 65 anos, é composto pelos representantes da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, os representantes dos Países membros, os juízes do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e das várias instituições que compõem o mesmo Conselho. No seu discurso o Papa começou por lembrar a crueldade da Segunda Guerra Mundial e a divisão da Europa em dois blocos que dela surgiu, como ponto de partida do projecto dos "Pais Fundadores" de reconstruir a Europa num espírito de serviço mútuo. Neste contexto, disse o Papa, o Conselho da Europa tornou-se um instrumento significativo para caminhar no tempo, para privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade.
Papa Francisco falou a este propósito da importância de gerar a paz em todo o tempo,
uma paz fundada na reconciliação. E para conquistar o bem da paz é preciso, sublinhou
o Papa, educar para a paz, desterrando uma cultura do conflito que visa amedrontar
o outro, marginalizar quem pensa ou vive de forma diferente. Infelizmente, reconheceu
o Papa, a paz é ferida ainda muitas vezes em muitas partes do mundo, onde enfurecem
conflitos de diverso género, mas também na Europa, onde não cessam as tensões; a paz
é posta à prova também por outras formas de conflito, como o terrorismo religioso
e internacional que nutre profundo desprezo pela vida humana e ceifa, de forma indiscriminada,
vítimas inocentes.
O Conselho da Europa deseja alcançar o objetivo da paz por meio da promoção dos direitos
humanos, aos quais está ligado o desenvolvimento da democracia e do estado de direito.
É um trabalho particularmente precioso, com implicações éticas e sociais significativas.
De uma correta compreensão destes termos e de reflexão constante sobre eles dependem,
de facto, o desenvolvimento, a convivência pacífica e o futuro das sociedades. E tal
estudo é uma das grandes contribuições que a Europa ofereceu e oferece ainda hoje
ao mundo, disse o Papa.
O Papa falou em seguida de uma Europa ferida pelas muitas provações do passado, mas também pelas crises do presente que já não parece capaz de enfrentar com a vitalidade e a energia do passado. Uma Europa um pouco "cansada e pessimista, que se sente assediada por pelas novidades que chegam dos outros continentes. E o Papa convidou a Europa a reflectir se o seu imenso património humano, artístico, técnico, social, político, económico e religiosa é um simples material de museu do passado, ou se pelo contrário ainda é capaz de inspirar a cultura e abrir os seus tesouros à humanidade inteira. E da resposta a esta questão, disse o Papa, o Conselho da Europa e as suas instituições terão um papel de primária importância.
O Santo Padre prosseguiu o seu discurso referindo-se dos atuais desafios do continente,
particularmente os desafios da multipolaridade e da transversalidade. A história da
Europa leva-nos a pensá-la – disse o Papa - como uma bipolaridade, ou no máximo uma
tripolaridade (segundo uma antiga concepção: Roma - Bizâncio - Moscovo), mas hoje
a situação mudou, e as tensões (tanto aquelas que constroem, como as que desagregam)
se verificam entre vários pólos culturais, religiosos e políticos. E a Europa enfrenta
hoje o desafio de "globalizar" de uma forma original, com multipolaridade. Mas é importante
que a unidade harmoniosa de todos preserve a singularidade de cada uma das partes,
como um poliedro e hoje, não se pode pensar nem construir a Europa sem assumir esta
realidade multipolar.
O outro desafio é a transversalidade, disse o Papa Francisco, o que significa privilegiar
o diálogo também entre as gerações, uma transversalidade de opiniões e reflexões ao
serviço dos povos. Uma Europa que dialoga apenas dentro de grupos fechados de pertença
permanece só à metade da estrada, é preciso investir no diálogo intercultural por
meio de encontros sobre a dimensão religiosa do diálogo intercultural. Isso pode servir
na busca de um próprio rosto para combinar com sabedoria a identidade europeia que
se formou ao longo dos séculos com as solicitações que vêm dos outros povos que agora
chegam ao continente.
E por último o Papa assinala a disponibilidade da Igreja Católica, através do Conselho
das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), para colaborar com o Conselho da Europa,
sobretudo no campo da reflexão ética sobre os direitos humanos e em relação aos temas
da tutela da vida humana, questões delicadas sensíveis que precisam ser submetidas
a um exame atento que tenha em conta a verdade de todo o ser humano, sem limitar-se
a âmbitos médicos, científicos ou jurídicos específicos. E mencionou os problemas
das migrações ligadas ao reconhecimento da dignidade das pessoas, do tema do trabalho,
e a colaboração na defesa do meio ambiente, se bem que na separação dos âmbitos e
na diversidade das posições, mas no desejo da verdade e de edificar o bem comum (BS).
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