Cidade do Vaticano (RV) - “Não podemos imaginar
o Oriente Médio sem os cristão que ali, há dois mil anos, confessam o nome de Jesus.
Os últimos acontecimentos, principalmente no Iraque e na Síria, são muito preocupantes.
Assistimos a um fenômeno de terrorismo de dimensões jamais pensadas... Isto acontece,
infelizmente, em meio à indiferença de muitos”. Palavras pronunciadas na manhã da
última segunda-feira pelo Papa Francisco introduzindo no Consistório o momento dedicado
ao drama dos cristãos perseguidos no Oriente Médio.
Um drama que se arrasta
e se amplia para outras realidades do planeta. Francisco destacou a vontade comum
de resolver os conflitos com o diálogo e ajudar de toda forma possível as comunidades
cristãs a permanecerem naquela região. Mas o divagar da perseguição contra os cristãos
está se tornando uma constante. Tempos atrás o próprio Santo Padre afirmara que nunca
na história os cristãos – nem mesmo no início do cristianismo – foram tão perseguidos,
tão marginalizados. Nesta primeira parte do novo milênio, 75% das violências perpetradas
contra uma minoria religiosa se refere aos cristãos.
Os dados de um relatório
do Centro para Estudos do Cristianismo Global nos Estados Unidos publicado recentemente
também reiteram as palavras de Francisco: cerca de 100 mil cristãos morrem a cada
ano devido à sua crença religiosa; ou seja, um a cada cinco minutos. Não bastasse,
em vários países diversas outras minorias religiosas sofrem violências e perseguições.
Os lugares onde os cristãos enfrentam hoje a dura realidade da perseguição, somente
porque professam o amor em Cristo, são os mais variáveis: vão do Iraque à Síria, do
Sudão à Somália, Egito e Paquistão onde viver como cristão é um tormento, uma vida
circundada de medo, terror e falta de esperança. Sim, porque a qualquer momento grupos
extremistas com a “delicadeza” da força "convidam" os cristãos a abandonar a casa,
a cidade e muitas vezes o País. Batem à porta para acabar com a vida e os sonhos de
famílias inteiras que ali vivem há gerações: são culpados por seguirem Jesus. São
expulsos de suas casas, em muitos casos presos sob a acusação de blasfêmia, assassinados
brutalmente; as igrejas não devem ficar em pé, são queimadas.
Também nos últimos
dias foi apresentado em Paris um volume com o título “O livro negro sobre a condição
dos cristãos no mundo”. Este texto chama a atenção para a seguinte cifra: pelo menos
150 milhões de cristãos correm risco de vida por causa das perseguições anti-religiosas.
Entre 150 e 200 milhões – a população do Brasil – não podem viver a sua fé livremente
no mundo de hoje. Podemos notar que o martírio por causa de Jesus não é uma recordação
do passado, mas um fato do presente.
Mas por que tudo isso, em um momento em
que a civilização moderna atinge com as novas tecnologias a possibilidade de encurtar
distâncias, de fazer o homem progredir, de fazer o homem ser parte de um todo? O processo
parece inverso: evidencia-se que estamos criando cada vez mais barreiras, muros, indiferença,
egoísmo. Os cristãos perseguidos vivem – e devemos recordar – em países onde geralmente
são minorias: a presença deles é frequentemente sufocada pelas vozes da violência
e da exclusão. Sim, vivem marginalizados, são consideradas pessoas de segunda classe.
Mas também em certos países onde os cristãos são maioria, alguns segmentos da sociedade
buscam fazer com que a religião, a fé seja somente uma questão privada. Porque chamar
a atenção para os valores sobre os quais a mesma sociedade foi construída pode parecer
ingerência: é preciso – afirmam –, separar religião e Estado.
É o momento de
tomar decisões corajosas que vão contracorrente no combate à violência que atinge
milhões de cristãos e não cristãos somente pelo fato de professarem a sua fé. É preciso
– e o Papa Francisco chama a atenção – que esta situação injusta receba uma resposta
adequada também da Comunidade Internacional. É preciso uma reação veemente às flagrantes
e maciças violações dos direitos humanos que são cometidas em várias partes do mundo:
hoje de forma ainda mais gritante pelo autodenominado Estado Islâmico, no Iraque.
Chegou o momento da Comunidade Internacional tomar decisões fortes diante da incapacidade
em deter os recentes horrores do genocídio que podemos seguir pelos meios de comunicação.
Foram inúmeras as pessoas que morreram nas mãos de fundamentalistas em países como
a Síria e o Iraque.
A Santa Sé e o Papa insistem no respeito pelo direito
dos cristãos, das minorias e de todos os refugiados. A ONU e a Comunidade Internacional
devem trabalhar juntas para dar dignidade às minorias perseguidas no mundo. E os líderes
religiosos devem trabalhar como promotores e defensores do diálogo, seja inter-religioso,
seja cultural, contribuindo assim para erradicar também o uso da religião como justificação
para a prática da violência.
Ao que parece, disse o Papa nos dias passados,
perdeu-se a consciência do valor da vida humana; é como se as pessoas não contassem
mais e pudessem ser sacrificadas em nome de outros interesses. “Isto acontece, infelizmente,
em meio à indiferença de muitos”. Esta situação injusta requer, além de uma resposta
adequada da Comunidade Internacional, também a nossa constante oração. Muitos dos
perseguidos hoje no mundo nos ensinam como amar a Deus e como ser perseverante. (Silvonei
José)