2014-10-25 11:32:17

Editorial: A força da fé


Cidade do Vaticano (RV) - RealAudioMP3 “Não podemos imaginar o Oriente Médio sem os cristão que ali, há dois mil anos, confessam o nome de Jesus. Os últimos acontecimentos, principalmente no Iraque e na Síria, são muito preocupantes. Assistimos a um fenômeno de terrorismo de dimensões jamais pensadas... Isto acontece, infelizmente, em meio à indiferença de muitos”. Palavras pronunciadas na manhã da última segunda-feira pelo Papa Francisco introduzindo no Consistório o momento dedicado ao drama dos cristãos perseguidos no Oriente Médio.

Um drama que se arrasta e se amplia para outras realidades do planeta. Francisco destacou a vontade comum de resolver os conflitos com o diálogo e ajudar de toda forma possível as comunidades cristãs a permanecerem naquela região. Mas o divagar da perseguição contra os cristãos está se tornando uma constante. Tempos atrás o próprio Santo Padre afirmara que nunca na história os cristãos – nem mesmo no início do cristianismo – foram tão perseguidos, tão marginalizados. Nesta primeira parte do novo milênio, 75% das violências perpetradas contra uma minoria religiosa se refere aos cristãos.

Os dados de um relatório do Centro para Estudos do Cristianismo Global nos Estados Unidos publicado recentemente também reiteram as palavras de Francisco: cerca de 100 mil cristãos morrem a cada ano devido à sua crença religiosa; ou seja, um a cada cinco minutos. Não bastasse, em vários países diversas outras minorias religiosas sofrem violências e perseguições. Os lugares onde os cristãos enfrentam hoje a dura realidade da perseguição, somente porque professam o amor em Cristo, são os mais variáveis: vão do Iraque à Síria, do Sudão à Somália, Egito e Paquistão onde viver como cristão é um tormento, uma vida circundada de medo, terror e falta de esperança. Sim, porque a qualquer momento grupos extremistas com a “delicadeza” da força "convidam" os cristãos a abandonar a casa, a cidade e muitas vezes o País. Batem à porta para acabar com a vida e os sonhos de famílias inteiras que ali vivem há gerações: são culpados por seguirem Jesus. São expulsos de suas casas, em muitos casos presos sob a acusação de blasfêmia, assassinados brutalmente; as igrejas não devem ficar em pé, são queimadas.

Também nos últimos dias foi apresentado em Paris um volume com o título “O livro negro sobre a condição dos cristãos no mundo”. Este texto chama a atenção para a seguinte cifra: pelo menos 150 milhões de cristãos correm risco de vida por causa das perseguições anti-religiosas. Entre 150 e 200 milhões – a população do Brasil – não podem viver a sua fé livremente no mundo de hoje. Podemos notar que o martírio por causa de Jesus não é uma recordação do passado, mas um fato do presente.

Mas por que tudo isso, em um momento em que a civilização moderna atinge com as novas tecnologias a possibilidade de encurtar distâncias, de fazer o homem progredir, de fazer o homem ser parte de um todo? O processo parece inverso: evidencia-se que estamos criando cada vez mais barreiras, muros, indiferença, egoísmo. Os cristãos perseguidos vivem – e devemos recordar – em países onde geralmente são minorias: a presença deles é frequentemente sufocada pelas vozes da violência e da exclusão. Sim, vivem marginalizados, são consideradas pessoas de segunda classe. Mas também em certos países onde os cristãos são maioria, alguns segmentos da sociedade buscam fazer com que a religião, a fé seja somente uma questão privada. Porque chamar a atenção para os valores sobre os quais a mesma sociedade foi construída pode parecer ingerência: é preciso – afirmam –, separar religião e Estado.

É o momento de tomar decisões corajosas que vão contracorrente no combate à violência que atinge milhões de cristãos e não cristãos somente pelo fato de professarem a sua fé. É preciso – e o Papa Francisco chama a atenção – que esta situação injusta receba uma resposta adequada também da Comunidade Internacional. É preciso uma reação veemente às flagrantes e maciças violações dos direitos humanos que são cometidas em várias partes do mundo: hoje de forma ainda mais gritante pelo autodenominado Estado Islâmico, no Iraque. Chegou o momento da Comunidade Internacional tomar decisões fortes diante da incapacidade em deter os recentes horrores do genocídio que podemos seguir pelos meios de comunicação. Foram inúmeras as pessoas que morreram nas mãos de fundamentalistas em países como a Síria e o Iraque.


A Santa Sé e o Papa insistem no respeito pelo direito dos cristãos, das minorias e de todos os refugiados. A ONU e a Comunidade Internacional devem trabalhar juntas para dar dignidade às minorias perseguidas no mundo. E os líderes religiosos devem trabalhar como promotores e defensores do diálogo, seja inter-religioso, seja cultural, contribuindo assim para erradicar também o uso da religião como justificação para a prática da violência.


Ao que parece, disse o Papa nos dias passados, perdeu-se a consciência do valor da vida humana; é como se as pessoas não contassem mais e pudessem ser sacrificadas em nome de outros interesses. “Isto acontece, infelizmente, em meio à indiferença de muitos”. Esta situação injusta requer, além de uma resposta adequada da Comunidade Internacional, também a nossa constante oração. Muitos dos perseguidos hoje no mundo nos ensinam como amar a Deus e como ser perseverante. (Silvonei José)







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