Sínodo: Relatório sinodal é documento de trabalho, não é definitivo
Cidade do Vaticano (RV) - O "Relatório após discussão" do Sínodo extraordinário
dedicado à família é um documento de trabalho, não definitivo, que a partir de então
é submetido à discussão dos Círculos menores: foi a declaração difundida esta terça-feira
pela Secretaria Geral do Sínodo na coletiva realizada na Sala de Imprensa da Santa
Sé, moderada pelo porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi.
Participaram da
coletiva também o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal
Fernando Filoni; e o arcebispo de Durban (África do Sul), Cardeal Wilfrid Fox Napier,
na qualidade de moderadores dos Círculos menores em italiano e inglês.
De fato,
a coletiva foi aberta com a seguinte declaração feita por Pe. Lombardi:
"A
Secretaria Geral do Sínodo, após as reações e discussões que se seguiram à publicação
da Relatio post-disceptationem e ao fato de a sua natureza nem sempre ter sido corretamente
compreendida, reitera que tal texto é um documento de trabalho que resume os pronunciamentos
e o debate da primeira semana e que agora é proposto à discussão dos membros do Sínodo
nos Círculos menores, como prevê o Ordo do Sínodo."
Portanto, o Relatório
não é um documento definitivo. Agora se trabalha nos Círculos menores, que apresentarão,
cada um, uma reflexão própria e, depois, se fará o esboço dos documentos finais. O
Cardeal Filoni disse ter havido alguma surpresa nos Círculos menores ao ler as primeiras
reações que surgiram na mídia:
"Houve reações em que alguém manifestou inclusive
uma certa perplexidade, como se o Papa tivesse dito, como se o Sínodo tivesse decidido...
Naturalmente, isso não é verdade."
O prefeito de Propaganda Fide disse
não ter sido um erro publicar o Relatório, o que foi feito em continuidade com os
Sínodos precedentes e segundo o procedimento sancionado pelo Ordo do Sínodo dos Bispos.
Porém, observou, o essencial é entrar na perspectiva dinâmica, sem expectativas excessivas,
mesmo porque o Sínodo atual é um caminho de preparação para a Assembleia Geral Ordinária
de outubro de 2015:
"Espero que se colha bem, sobretudo, esta dinâmica,
em que toda a Igreja é envolvida – em vários níveis, de vários modos, em vários aspectos
–, porque parece quase que tratamos de um tema ou de outro, quando, ao invés, há uma
riqueza extraordinária."
Na mesma linha, o Cardeal Napier se disse "confiante"
de que possa emergir a visão do Sínodo em seu conjunto, e não a posição de um grupo
particular.
A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou também o conteúdo dos pronunciamentos
livres feitos na manhã desta segunda-feira na Sala do Sínodo, após a apresentação
da "Relatio post-disceptationem" feita pelo relator-geral do Sínodo, Cardeal Peter
Erdő. Em geral, o Relatório foi apreciado em sua capacidade de colher o espírito da
Assembleia.
Além disso, foram sugeridas ulteriores reflexões. Por exemplo,
falar mais difusamente também sobre as famílias fiéis aos ensinamentos do Evangelho,
a fim de que possa emergir com mais clareza que o matrimônio indissolúvel, feliz,
fiel para sempre, é bonito, é possível e está presente na sociedade.
Outras
sugestões: dar maior atenção à tutela da mulher e da sua importância para a transmissão
da vida e da fé, fazer mais referências à família como "Igreja doméstica", valorizando
sua perspectiva missionária no mundo de hoje.
Aprofundar e esclarecer melhor
o tema da "gradualidade", que pode ser motivo de uma série de confusões. No que tange
ao acesso aos Sacramentos para os divorciados recasados, por exemplo, foi dito que
é difícil acolher exceções sem que na realidade se tornem uma regra comum.
Foi
também destacado que a palavra "pecado" quase não está presente no Relatório. No que
diz respeito aos homossexuais, o necessário acolhimento deve ser acompanhado pela
justa prudência, a fim de que não se crie a impressão de uma avaliação positiva de
tal orientação por parte da Igreja. A mesma atenção foi solicitada em relação às convivências.
No
que concerne à simplificação dos procedimentos das causas de nulidade matrimonial,
foi manifestada alguma perplexidade em relação à proposta de confiar maiores competências
ao bispo diocesano, colocando um peso a mais em suas costas. Além disso, foi auspiciada
uma reflexão mais aprofundada no caso da poligamia e da difusão da pornografia na
web, risco real para a unidade familiar.
Por fim, em relação à abertura para
a vida por parte dos casais foi ressaltada a necessidade de abordar de modo mais aprofundado
e decidido não somente o tema do aborto, mas também o da maternidade substitutiva.
(RL)