2014-10-03 13:31:13

Dom Paglia: o desafio da família


Cidade do Vaticano (RV) – Falta pouco para o início da III Assembléia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos dedicada à Família, que terá início neste domingo, 5 de outubro com a Santa Missa presidida pelo Santo Padre e que se encerrará no dia 19 de Outubro. Um evento muito esperado, que se desenvolverá seguindo o Instrumentum laboris, o documento de trabalho do Sínodo, que se baseia em três âmbitos: a família diante do Evangelho, das dificuldades e da transmissão da vida e da fé. Mas qual é o problema que hoje ameaça a família? A Rádio Vaticano ouviu Dom Vincenzo Paglia, Presidente do Pontifício Conselho para a Família:

R. - Eu acredito que, pela primeira vez na história, estamos diante de uma mudança radial de civilização, a partir de certo ponto de vista, porque nunca tinha acontecido até agora que aquele tríplice complexo matrimônio-família-vida, fosse jamais rompido. Hoje é como se tivesse sido desestruturado e cada indivíduo o reconstrói a seu gosto. Poderíamos dizer que ocorre “uma espécie de criação às avessas. O Senhor diz à criação: não é bom que o homem esteja só. Hoje vivemos sob a convicção oposta que rompe este trítico: é bom que o homem esteja só, ou melhor, é bom que todo mundo pense em si mesmo. Aqui se encontra o problema básico, que diz respeito certamente à família mas muito, muito mais, porque nesse ato criativo confirmado por Jesus e enriquecido ainda mais, na verdade, está em jogo o futuro da sociedade. Aqui, na minha opinião, é preciso dar uma atenção absolutamente extraordinária, e a tarefa da Igreja é de dizer à sociedade de hoje que a união entre homem e mulher, e a geração que dela deriva, é um patrimônio da humanidade, que não pode ser atingida, caso contrário, teremos a decomposição da própria sociedade.

P. – O que mais lhe chama a atenção nas frases, conceitos, que o Papa Francisco expressou sobre a família em geral?

R. – Aparece evidente a sua preocupação com as dificuldades que as famílias estão enfrentando: o problema do trabalho, o problema dos filhos, o problema do desemprego, o problema da pobreza. E então, também as muitas famílias que se separaram, que estão feridas, que estão lutando para se recompor. Aqui, eu percebi imediatamente que mais de uma espécie de debate de salão sobre essas questões teóricas, seria necessário dar início a uma espécie de luta corpo a corpo com as famílias. Portanto, sair das salas, neste caso, do Pontifício Conselho e realizar um caminho ideal para se confrontar com todas as problemáticas das famílias, mas também acredito que o Sínodo deva exortar também todas as realidades eclesiais do mundo a fazerem o mesmo. Mudou a realidade das famílias, mudou a cultura que as circunda e é essencial que a Igreja, seguindo a inspiração do Papa Francisco, realmente saia e entre em todas as casas e em todas as situações para discutir e dar alguma ajuda às famílias hoje.

P. - Qual é o maior desafio hoje para a Igreja? Os divorciados, os recasados, os matrimônios mistos entre católicos e membros de outras religiões ...

R. – “Eu acho que o primeiro desafio em absoluto é o individualismo, porque o indivíduo, hoje, se exalta a ponto de dobrar todas as instituições na direção de si mesmo, inclusive a família. E isso se torna a regra, tudo é possível, tudo se pode romper. Qualquer relação estável torna-se muito pesada. Então, há também a crise de matrimônios religiosos, como também civis e de casais de fato. Portanto, o que vemos crescer especialmente nos países ocidentais, é o estar sozinho. Agora, esse - na minha opinião - é o grande desafio, que é um desafio espiritual, cultural, antropológico e é resolvendo ou curando este desafio que depois se consegue também a cura para todo o resto. Se se assume essa responsabilidade de vínculo, que começa na família, então é possível também resolver todo o resto, sem grandes alterações. A verdadeira questão hoje é que o vírus não está em casais não casados ou casais do mesmo sexo ou em outro lugar: o vírus encontra-se antes. Já envenenou antes a vida. Hoje se diz: todas as formas de estar juntos pode ser família. Se "tudo" pode ser família, nada é família e o que permanece é somente o Eu.. Sobre o altar do Eu se sacrifica tudo: família, afetos, até mesmo a própria vida”. (SP)







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