Novo Catecismo: O desejo de Deus no coração do homem
Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso espaço dedicado aos 20 anos da publicação do Novo Catecismo, vamos
tratar na edição de hoje sobre desejo de Deus inscrito no coração do homem.
O
Catecismo nos diz, no número 27, que "o desejo de Deus está inscrito no coração do
homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o
homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que
não cessa de procurar". A vocação do homem à comunhão com Deus é justamente a reflexão
que o Pe. Gerson Schmidt nos traz no programa de hoje:
“Amado ouvinte!
Estamos
refletindo, no primeira parte do Catecismo da Igreja Católica, nas páginas iniciais,
sobre o tema da Fé. O que é, afinal, a Fé? A Dei Verbum 8afirma que
"pela fé o homem livremente se entrega todo a Deus, prestando 'ao Deus revelador o
obséquio pleno do seu intelecto e da sua vontade', e dando voluntário assentimento
à revelação feita por Ele”. Pela fé, portanto, conforme os padres conciliares, há
uma entrega do homem a Deus que se revela, pela inteligência, vontade, num consentir
pleno à revelação.
O Catecismo aponta, no número 26, que a fé é uma resposta
do homem a Deus que se revela ao ser humano e ao mesmo tempo lhe confere uma luz extraordinária
e superabundante respondendo a cada um de nós sobre o sentido último de nossa vida.
Afinal, por que existo? Por que estou no mundo? Qual o sentido da minha vida? Por
que eu e você estamos aqui nessa terra? Para comer, beber e dormir e passar o tempo?
No ponto seguinte, no número 27 do Catecismo, já existe uma resposta a essas afirmativas,
digo, perguntas, que fazemos da razão de nosso existir. Diz ali que o homem é criado
por Deus e para Deus e Deus não cessa de atrair o homem a si. Então existe em nós,
intrinsecamente, por essência ontológica e criatural, porque assim Deus nos fez, um
desejo de infinitude depositado pelo Criador e Pai de cada um de nós. O homem tem
o desejo de Deus e, afirma Santo Agostinho, que nosso coração andará irriquieto, insatisfeito
enquanto não repousar em Deus. Ou como o mesmo santo continua a declarar, como desabafo,
no Livro das confissões: “Agora eu te reconheço e confesso, a ti que tiveste compaixão
de mim, quando eu não te conhecia. Tu estavas mais dentro de mim do que a minha parte
mais íntima”.
Há um convite do Criador a cada um de nós, como afirma o constituição
conciliar Gaudium et Spes número 19:
“Este convite que Deus dirige
ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe,
é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem
só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar
ao seu Criador”.
Portanto, amado ouvinte, diferentemente do que os filósofos
pré-socráticos afirmavam que Deus fosse inacessível, o catecismo deixa claro que o
homem é um ser religioso e que é capaz de Deus. Como afirma os Atos dos apóstolos
que Deus não está longe de cada um de nós: “Pois nele vivemos, nos movemos e somos”
9. Esse desejo de Deus é tão expressivo no salmo 63 (algumas bíblias 62 – mas
eu aqui vou sempre ter a referência da Bíblia de Jerusalém – que é salmo 63) quando
o salmista reza com toda a sua alma e que rezamos na Liturgia das Horas de Domingo
da Primeira semana:
“Ó Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro.
Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anseia como
a terra árida, sedenta e sequiosa, sem água. Minha alma se agarra em vós,
com poder vossa mão me sustenta”. 10
Ou ainda como no salmo
42 em que se faz a belíssima comparação do ser homem como Corça que é um animal dotado
de olfato privilegiado que lhe possibilita sentir cheiro de água a quilômetros. Olha
só que poético, que oração fantástica do salmista:
“Como uma corça suspira
pelas correntes das águas, Assim a minha alma suspira por ti, ó Deus. A
minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; Quando terei a alegria de ver
a face de Deus? As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de
noite, enquanto insistente repetem os inimigos: Onde está o teu Deus”.
A
paz e a benção, amado irmão”. 8 DV, n° 5 9 Cf. At 17,23-28 10
Sl 63, 2s.