Bicentenário da restauração dos Jesuítas constitui momento para voltar às origens,
diz Pe. Bottaro
Cidade do Vaticano (RV) - No último sábado, o Papa Francisco presidiu na "Chiesa
del Gesù" (Igreja de Jesus) – igreja-mãe dos Jesuítas – à celebração das Vésperas
e de Ação de Graças, por ocasião do bicentenário de reconstituição da Companhia de
Jesus por obra de Pio VII em 1814, após a supressão por parte do Papa Clemente XIV
em 1773. Para um testemunho sobre este momento em que se celebra este bicentenário,
a Rádio Vaticano ouviu o coordenador do Setor de Comunicação dos Jesuítas na Itália,
Pe. Flavio Bottaro. Eis o que disse:
Pe. Flavio Bottaro:- "É um momento
para recordar, para, de certo modo, reconduzir nossa história ao presente, um evento
que, certamente, vem de um momento de sofrimento, de fadiga para nossos coirmãos daquele
tempo, que para nós se configura hoje como um evento de morte e de ressurreição. Neste
evento vemos como a história de Jesus tornou-se mais de perto a nossa história e,
portanto, nos sentimos ainda mais companheiros do Senhor."
RV: Algo
que impressiona é o fato de esta reconstituição ter-se dado 41 anos após a supressão,
como a dizer que sob as cinzas ardia a chama da fé...
Pe. Flavio Bottaro:-
"Com certeza. Diria que foi também a ocasião, de certo modo, para renascer, reencontrar
um pouco nossas origens, a ponto de ser difícil dizer se se trata de restauração,
reconstituição ou renascimento. Porém, aquilo que experimentamos foi um retornar de
modo mais decisivo às nossas origens e recuperar um pouco mais profundamente a nossa
espiritualidade."
RV: Francisco disse em reiteradas ocasiões que o jesuíta
é um descentrado, porque no centro deve estar sempre Jesus Cristo. Como vê, neste
aniversário, esta exortação, estas palavras do Papa?
Pe. Flavio Bottaro:-
"Em primeiro lugar, diria que, para nós, ser descentrado é ter Cristo no centro do
nosso coração e do nosso modo de agir; significa, hoje, sobretudo, abertura ao mundo,
sem preconceitos, sem medos, buscando – como diz o Papa Francisco – ir às periferias,
e não levar as periferias para o centro. Portanto, voltar-se, de modo decidido, para
quem está ao nosso redor, para quem se encontra necessitado, para o pobre, para aquele
mundo que não é evangelizado, no sentido que não conhece a Palavra de Deus como fonte
de renascimento e de salvação."
RV: Certamente um Papa jesuíta e um
Papa com um carisma, uma capacidade de atração inclusive em mundos nem sempre próximos
à Igreja, pode, de certo modo, também relançar ou fazer apreciar novamente a espiritualidade
inaciana, a partir de um texto tão fundamental como os Exercícios de Santo Inácio?
Pe.
Flavio Bottaro:- "Sim, diria que a espiritualidade inaciana goza hoje de boa saúde,
propriamente pelo modo como o mundo é hoje. Nossa espiritualidade nos impele a apreciar
todas as expressões do humano, quando se tornam forma de cura, forma de ajuda, forma
de crescimento para o próprio humano, para o homem, para as mulheres de hoje. Certamente
o fato de este Papa encontrar-se em sintonia conosco ajuda muito mais a difundir essa
sensibilidade." (RL)