Deus consola o seu Povo. Este o mistério da Igreja - Papa aos padres e religiosos,
recordando os tempos de perseguição
O penúltimo momento
do programa da viagem teve lugar na catedral de Tirana, com padres, religiosos, seminaristas
e leigos empenhados. O Papa Francisco voltou a elogiar a história dos cristãos na
Albânia e a sua coragem durante a perseguição religiosa do último século, que confessou
ter estudado antes da viagem ao país. “Para mim foi uma surpresa, não sabia que
o vosso povo tinha sofrido tanto”, declarou, numa intervenção espontânea na qual recordou
as fotografias dos mártires que tinha visto ao longo do percurso através da cidade,
sinal de “memória” de um “povo de mártires”. O Papa ouviu o testemunho dos tempos
de perseguição religiosa por parte do regime comunista no século XX, da boca de um
sacerdote e de uma religiosa, já idosos. Visivelmente comovido com os testemunhos
deste tempo das “catacumbas” em que a comunidade cristã enfrentou o ateísmo de Estado
inscrito na constituição, o Papa não conteve as lágrimas ao abraçar o padre Ernest,
que esteve preso durante 18 anos, 10 dos quais de trabalhos forçados. “Aquilo que
posso dizer-vos é aquilo que eles disseram com a sua vida”, assinalou. O Papa falou
sobre a “consolação” recebida de Deus nos momentos de dificuldade, através de toda
a comunidade cristã. “Sabeis bem que se procurardes consolação noutro lado, não sereis
felizes”, advertiu. O Papa entregou o discurso escrito que estava preparado, no
qual assinalava que depois dos totalitarismos do século XX, o mundo e a Igreja enfrentam
hoje outras “ditaduras” como o individualismo, as rivalidades e “conflitos exacerbados”,
frutos de uma “mentalidade mundana” que pode contagiar os cristãos. “Conheço e
aprecio o empenho com que vos opondes a novas formas de «ditadura» que acabam por
manter escravas as pessoas e as comunidades. Se o regime ateu procurava sufocar a
fé, estas ditaduras, mais subtis, podem sufocar a caridade”, pode ler-se no texto,
que recorda aqueles que, durante o regime comunista, pagaram o “caro preço” da sua
“fidelidade a Cristo” e da “decisão de permanecer unidos ao sucessor de Pedro”.