Cidade do Vaticano (RV) - Mais uma
vez a liturgia nos corrige quando dizemos que aquelas coisas boas que nos acontecem
ou com os nossos amigos, são consequências dos méritos a que fizemos jus. Do mesmo
modo, quando ocorre algum acontecimento infausto, perguntamos o que fizemos para recebermos
tal castigo. Por outro lado, se isso acontece com alguém que não nos é simpático,
comentamos que essa pessoa deve ter aprontado e, por isso, recebe essa punição.
Toda
essa maneira de pensar está errada e não é cristã. O Cristianismo trabalha com a gratuidade,
isto é, com a ação de Deus, e Deus é Pai, é Amor. Deus nos ama não por aquilo de bom
que fizemos e nem nos deixa de amar pelas coisas erradas que praticamos. O Amor ama
por amar e, mesmo vendo nossas culpas, continua nos amando. Essa é a grande eterna
verdade. Somos amados gratuitamente por Deus!
Quando Deus nos criou não existíamos,
Ele nos amou primeiro sem nenhum mérito nosso. E assim continua, porque Ele é Deus!
Isso
nos diz Isaías na primeira leitura: “Meus pensamentos não são como vossos pensamentos
e meus caminhos não são como os vossos caminhos, diz o Senhor!” (Is 55, 8) Essa
idéia é retomada e referendada por Jesus com a parábola do patrão generoso. O patrão
dá a mesma quantia como pagamento tanto aos que começaram pela manhã, quanto aos que
foram contratados no final do dia. Ao ouvir as reclamações dos que se achavam mais
cheios de méritos que outros, ele responde: “Por acaso não tenho o direito de fazer
o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?”
(Mt 20,15) A justiça do Reino de Deus é dar a cada um o que precisa para viver
e viver abundantemente, ainda nesta terra. Não faz parte da justiça de Deus a realidade
na qual alguns que não trabalham tanto ganham quantias enormes, e outros que trabalham
muito como empregadas domésticas, como professores de escola média, e como outros
profissionais ganham insuficiente para uma vida decente. Todos são filhos de Deus
e a igualdade deve acontecer já nesta vida, e não apenas na outra. O amor deverá superar
todas as desigualdades e fazer justiça a todos, isto é, todos deverão ter o necessário
para uma vida tranquila com direito ao que precisam. Está errado e não é justo alguns
terem tanto e outros, nem o necessário para sobreviver.CAS