Pastoral da Criança nas Filipinas: saúde e evangelização
Manila (RV) – “Misericórdia
e compaixão” é o lema da viagem do Papa às Filipinas, em janeiro do próximo ano. As
palavras escolhidas não poderiam ser mais apropriadas, vistas as condições em que
vivem os “descartados” da sociedade filipina, como os chamaria Francisco.
É
difícil descrever, mas vamos tentar. Imaginem ter como lar um único cômodo, improvisado,
pequeno, sem janelas, na maioria das vezes sem móveis, só com um colchão, mas com
muita, muita umidade. Para entrar no barraco, é preciso abaixar a cabeça, pois as
roupas ficam todas penduradas em cabides para não mofarem. Durante seis meses ao ano,
chove todos os dias. Água há por todo lugar, limpa e suja. Sempre. É um elemento imprescindível.
Mesmo nessas condições, como medo de doenças, tentam manter a higiene da casa e também
a pessoal. E as pessoas num cubículo são muitas. Um único colchão de casal pode abrigar
até oito membros de uma mesma família. Pai, mãe e filhos. Tantos filhos. As meninas
começam a engravidar cedo, aos 13, 14 ou 15 anos. E com 30 anos, já podem ter seis
crianças.
Recentemente, o Papa Francisco disse que as sociedades contemporâneas
se habituaram ao termo “meninos de rua”, como se fosse possível crescer sem um contexto
cultural e familiar. Engana-se quem pensa que esta seja a realidade aqui nas Filipinas.
Não obstante o alto índice de natalidade, aliado à pobreza, o cuidado, a atenção,
a ternura e o carinho são elementos cruciais para uma família filipina. Por parte
da mãe e também do pai. Os filhos vão à escola e fazem a lição de casa ali mesmo,
no chão, sem nenhuma comodidade. O contexto para o crescimento de uma criança, todavia,
não é o ideal. Os problemas existem e a desnutrição infantil é um deles. E aí que
entra em ação a Pastoral da Criança. Um projecto que nasceu no Brasil, no norte do
Paraná, e que dá seus frutos mundo afora, até do outro lado do planeta. Na Ásia, a
Pastoral está presente nos dois países de maioria católica: Timor-Leste e Filipinas,
onde está completando 10 anos de fundação.
Na Diocese de Cubao, sufragânea
de Manila, as voluntárias acompanham dezenas de famílias. O método é o mesmo consolidado
pela Dra. Zilda Arns: os cuidados começam já na gravidez, nos primeiros meses, até
os seis anos de idade. Com os ingredientes locais, fabrica-se a e distribui-se gratuitamente
a multimistura, para prevenir a desnutrição, e também outros produtos, como óleo,
sabão, pomadas – que podem ser vendidos pelas voluntárias, constituindo uma pequena
fonte de renda para as voluntárias. Resultado: aumento de auto-estima das mulheres,
com o consequente beneficio de toda a família. Mas há um ingrediente especial que
garante o sucesso da Pastoral da Criança: as voluntárias saem das próprias comunidades,
não para fazer simples caridade, mas para partilhar o pouco que tem, para dedicar
a vida ao outro, reconhecendo nele um irmão.
Uma voluntária, Natalin da Gloria,
conta que a Pastoral da Criança mudou a sua vida. Antes, ela simplesmente participava
da missa, sem se envolver com a comunidade. “Um católico morno”, diria Francisco.
Agora, Natalin diz que aprendeu o que é a verdadeira vida. “Não vivemos como os ricos,
afirmou, mas nos sentimos abençoados.”
De Manila para a Rádio Vaticano, Bianca
Fraccalvieri