O Pio Brasileiro e os Bispos no Concílio Vaticano II
Cidade do Vaticano
(RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II -,
vamos continuar a tratar, na edição de hoje, da relação entre o Colégio Pio Brasileiro,
os bispos brasileiros e o evento conciliar.
Na edição passada vimos como o
Pio Brasileiro tornou-se um local aglutinador dos brasileiros durante o Concílio e
como a sua proximidade com a Domus Maria permitiu o estabelecimento de estreita
relação e colaboração entre estudantes, bispos e cardeais.
Na sua tese de doutorado
“Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II”, o Pe. José Oscar Beozzo,
então estudante do Pio Brasileiro, conta:
"A cada dia no refeitório, na
hora do jantar, eram lidos os boletins da Sala de Imprensa em língua italiana e em
português. Era possível perceber nítidas diferenças entre os dois comunicados: o boletim
brasileiro era muito mais direto e substancioso, deixando transparecer claramente
os conflitos e divergências na sala conciliar, talvez por ser muito menos vigiado
do que o comunicado italiano. Diariamente cinco bispos brasileiros vinham ao Colégio,
para almoçar conosco. Terminada a refeição, reuniam-se com os alunos no pátio externo,
ou numa sala quando fazia frio e chovia, para falar sobre a Congregação Geral daquela
manhã, e era então possível estabelecer um diálogo franco e aberto sobre o desenrolar
do Concilio, seus avanços e dificuldades. Os comunicados de imprensa lidos no jantar
com suas divergências ou simplesmente omissões, eram reinterpretados ou melhor compreendidos
à luz do anterior relato dos bispos, e serviam muitas vezes, para se reiniciar a conversa
do dia seguinte".
A riqueza desta experiência de encontros cotidianos durante
as quatro sessões, acabou por preparar uma geração de jovens sacerdotes brasileiros.
Aos domingos, por exemplo, iam ao Colégio todos os bispos de determinado regional
da CNBB para uma manhã de encontros com os estudantes e onde se falava da realidade
daquela região ou das dioceses abrangidas por aquele regional. Mas muitas vezes, também
se tratava dos temas conciliares da semana.
Teólogos e peritos do Concílio
proferiam palestras aos bispos reunidos na Domus Mariae. Os estudantes, inicialmente
em menor número, acompanhavam as palestras e os debates do alto das galerias do salão
principal. Uma proibição da Sagrada Congregação para os Seminários suspendeu a presença
de seminaristas nestes encontros. No entanto, alguns bispos passaram a gravar as conferências,
repassando-as, no dia seguinte, ao Pio Brasileiro.
O Colégio também serviu
de espaço para a realização de várias atividades dos Bispos durante o Concílio. A
CNBB realizou no local algumas importantes reuniões, como a das eleições, durante
a VI Assembléia, de 26 a 28 de setembro de 1964. Também a cada 12 de outubro, dia
de Nossa Senhora Aparecida, era celebrada uma Missa Solene, com a participação da
comunidade brasileira em Roma. (JE)
Fonte: “Padres Conciliares Brasileiros
no Concílio Vaticano II - Participação e Prosopografia 1959 – 1965”. Pe. José Oscar
Beozzo.