2014-09-15 08:41:47

A Caminho do Sínodo dos Bispos


Rio de Janeiro - (RV) - Foi publicada a lista dos participantes do Sínodo Extraordinário sobre a Família, que acontecerá no Vaticano no próximo mês de outubro. É uma boa ocasião para conhecermos um pouco mais sobre essa estrutura da Igreja, tão importante para discussão dos grandes temas hodiernos.
O Sínodo dos Bispos é uma reunião de trabalho de vários dias que o Papa convoca, chamando alguns bispos de cada país para analisarem algum assunto importante da vida da Igreja. Neste ano, de 5 a 19 de outubro, o Papa Francisco convocou um Sínodo sobre a Família. É a III Assembleia Geral Extraordinária. Essa Assembleia prepara o Sínodo Ordinário que será realizada em outubro do próximo ano. Portanto, temos sínodos ordinários e os extraordinários.
O último Sínodo sobre a Família foi realizado pelo Papa São João Paulo II em 1981, de onde saiu a importantíssima Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, de 22 de novembro de 1981, que colocou a doutrina básica e permanente da Igreja sobre a família e o casamento; é o texto de referência para este assunto.
O Sínodo tem um secretário geral que organiza a sua preparação. Para essa preparação, depois de uma ampla consulta, foi apresentado o Documento de Trabalho que ajudará na reflexão do tema. São muitas perguntas e muitos questionamentos sobre o tema. O secretário geral do Sínodo disse que a Igreja, como mãe, promoverá uma “pastoral de misericórdia” para aqueles casais que estão em situações de irregularidade canônica. Sem dúvida esses temas são os que causam mais expectativa hoje. Mas também devemos nos preocupar com a situação que a diminuição da celebração do matrimônio e da natalidade fazem mudar a cultura familiar nestes tempos de transformações. Além disso, a própria contestação sobre o sentido do que é Família é um tema que a imprensa mais costuma discutir.
O Documento de Trabalho do Sínodo foi baseado nas respostas que as Conferências Episcopais, após longa consulta, enviaram para a Secretaria do Sínodo. Desta vez, e devido ao interesse do assunto, a atenção dos fiéis foi despertada para uma maior participação. Isso fez com que um maior número de respostas chegasse ao Vaticano.
O Cardeal Secretário Geral do Sínodo afirmou que despertaram muita atenção de todos as discussões sobre as situações pastorais difíceis, que se referem, entre outras, às situações de “convivência e uniões de fato, casais desquitados e divorciados que casaram pela Igreja e voltaram a se unir”, aqueles que se encontram em condições de “irregularidade canônica”, ou os que pedem para casar-se pela Igreja “sem ser crentes ou praticantes”.
Sobre os casais que se uniram em matrimônio religioso e após o divórcio estão impedidos de casar pela Igreja e receber os sacramentos, o Secretário do Sínodo reconheceu que estes “vivem com sofrimento sua situação de irregularidade na Igreja”, e afirmou que a Igreja “sente-se interpelada a encontrar soluções “compatíveis com sua doutrina”, que guiem uma vida serena e reconciliada”. Ele manifestou a “relevância de simplificar e agilizar os processos judiciais de nulidade matrimonial”. De fato, em alguns Tribunais da Igreja, o Processo de Declaração de Nulidade demora muito. Por isso, o processo precisa ser agilizado, sem deixar de ser justo. Particularmente, penso que a Igreja deveria encontrar uma maneira de simplificar a complexa praxe processual para a instrução dos processos de nulidade matrimonial.
Na apresentação do Instrumento de Trabalho foi falado também sobre os que se casam “sem fé explícita”, e se pediu “maior atenção da pastoral eclesiástica” e uma “melhor qualidade” nos cursos de preparação do matrimônio. Outro assunto que preocupa a Igreja é uma realidade da qual não se tem como fugir hoje, do cuidado dos filhos adotados por pessoas do mesmo sexo em união civil.
Por isso, “urge permitir às pessoas feridas curar-se e reconciliar-se, encontrando de novo confiança e serenidade”, evidentemente respeitando-se a lei de Cristo. “A Igreja sente o dever de acompanhar os casais em união de fato na confiança de poder sustentar uma responsabilidade como é a do matrimônio”.
O Documento de Trabalho, segundo o relator oficial do Sínodo, oferece “uma panorâmica da situação da pastoral da família”, a partir da perspectiva do nível da consciência, “dos ensinamentos de Cristo e da Igreja sobre o matrimônio” e do nível relativo “ao comportamento real das pessoas”, onde se apresentam as “situações críticas”. Ele constatou que muitas das respostas dos bispos mostram que as pessoas, em geral, “casam-se cada vez menos, também de maneira civil”. “Tal fenômeno se insere no contexto do individualismo e do subjetivismo prático”, acrescentou.
Portanto, fica o desafio de encontrar caminhos para fortalecer o matrimônio nestes atuais tempos e para também, respeitando a lei de Cristo, acolher os que vivem uma situação difícil em relação à vida familiar.
É muito importante que toda a Igreja esteja unida em oração, suplicando a inspiração do Espírito Santo sobre os Apóstolos de hoje para que soluções e itinerários sejam clareados para a renovação da Pastoral Familiar e da sua ação no mundo moderno. Temos certeza de que a ação do Espírito Santo nos fará corajosos e animados para ouvir o que o Senhor hoje nos fala.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ








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