Cidade do Vaticano (RV) – Há necessidade de uma
Igreja que jamais esteja parada, que se sinta sempre mais movida: essa a síntese das
palavras que o Papa Francisco dirigiu nesta semana, durante uma audiência, aos membros
da Ação Católica Italiana. Partindo dessas palavras, nosso pensamento vai a todos
os missionários e missionárias dispersos em todas as partes do mundo, que através
de uma escolha radical, deixaram tudo, para encontrar todos. Pessoas movidas por uma
“santa inquietação”, pessoas jamais “mornas”, mas corajosas e despojadas de tudo.
Imediatamente
o pensamento corre ao trágico evento que se verificou no último domingo no Burundi
com o assassinato de 3 religiosas italianas. Um episódio dramático que chocou a opinião
pública mundial, não só pelo fato de serem religiosas de certa idade, mas porque eram
pessoas que se dedicavam totalmente ao bem do próximo e da comunidade onde viviam.
Deixaram seu país, no caso a Itália, para poder servir o irmão numa terra que sofre
o drama da violência cotidiana. Sim, porque a morte dessas três religiosas se insere
num drama cotidiano de um povo que não está sob os holofotes da mídia internacional.
Falando à Rádio Vaticano, Pe. Claudio Marano, missionário e Responsável do Centro
Juvenil de Kamenge, e que vive há mais de 20 anos no Burundi, afirmou que “pode parecer
estranho, mas merecemos o mesmo tratamento que merece o povo. Estamos tão inseridos,
com os nossos irmãos do Burundi, que merecemos o mesmo tratamento que é reservado
ao povo”.
Ele afirmou que ali é rotina as pessoas desaparecerem, é rotina
encontrar corpos no lago; é rotina pessoas serem colocadas na prisão porque disseram
uma palavra a mais. Esse acontecimento coloca os missionários diante de um fato: o
fato que eles, estrangeiros que estão ali, que vivem com aquela gente, merecem e “estão
merecendo o mesmo tratamento que é reservado à população”. São coisas que fazem pensar
muito, fazem pensar no povo do Burundi. Pe. Claudio afirma enfim que “devemos absolutamente
fazer a paz, devemos chegar ao ponto que estejamos todos prontos, também, para dar
o sangue pela paz.”
Quando o Papa Francisco soube do ocorrido expressou seu
profundo pesar pela morte das três missionárias xaverianas: Irmã Olga Raschietti,
Irmã Lucia Pulici, e Irmã Bernardetta Boggian. Em dois telegramas, um ao núncio em
Burundi – Dom Evariste Ngoyagoye – e outro à superiora geral das Missionárias Xaverianas
– Irmã Inês Frizza –, o Santo Padre se disse consternado pela trágica morte das religiosas
e fez votos de que “o sangue derramado se torne semente de esperança para construir
a autêntica fraternidade entre os povos”.
As três irmãs italianas estavam
em Kamenge há cerca de sete anos. Antes trabalhavam no Congo. Quando abriram uma comunidade
em Kamenge, decidiram se transferir para essa terra. A Polícia de Burundi prendeu
um homem que teria confessado o assassinato das três Irmãs. A morte das três missionárias,
em Kamenge provocou e continua a provocar grande dor, consternação, pois mais uma
vez constatamos o quanto difícil é hoje ser homens e mulheres de paz, quanto é difícil
viver em certas realidades, mesmo se o objetivo maior é o bem do próximo. No mundo
de hoje são muitos os missionários e missionárias que, com dedicação total, consomem
suas vidas procurando dar alivio aos que sofrem, como é o caso do continente africano.
Pessoas impulsionadas por um amor incondicional a terras e povos distantes, mas acima
de tudo animadas pelo amor a Jesus Cristo, O qual encontram nos irmãos que sofrem
e vivem abandonados. As três religiosas italianas, como tantos outros missionários
e missionárias foram mortas no Burundi, no coração daquela África, daquela terra que
tanto amavam e onde dedicaram a vida para ajudar os últimos em nome do Evangelho.
E ali foram sepultadas na última quinta-feira, porque as pessoas que amaram e serviram,
desejam que elas permaneçam ali. É um sinal de amor até o fim. As três missionárias
são sementes de uma nova realidade tão almejada e tão difícil, mas que certamente
produzirão muitos frutos. (Silvonei José)