Dom Warduni: "Que o mundo esteja atento aos jihadistas ou os encontrará na porta de
casa"
Rimini (RV) – Concluiu-se, no último sábado, 30, em Rímini, na Itália, a 35ª
edição do Meeting da Amizade entre os Povos, um dos principais encontros promovidos
pelo movimento eclesial, Comunhão e Libertação. O evento teve início no dia 24, sob
o tema: “Rumo às periferias do mundo e da existência: o destino não deixou o homem
sozinho”. O Bispo Auxiliar do Patriarcado caldeu de Bagdá, Dom Shlemon Warduni – presente
no encontro - denunciou a paralisia da comunidade internacional diante da ofensiva
extremista no Iraque. Ele foi entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom Warduni:
"Este é o nosso sentimento, pois desde o início, os europeus não se mexeram, somente
depois de um mês, quando levantamos a voz e gritamos: 'Onde está a comunidade internacional?
Onde está a Europa? Onde está a América?’. Até aquele momento, condenaram o comportamento
do Estado Islâmico, mas, que resultado esta condenação produz? Quem a escuta? Nós
queremos que a Europa, a América, todos levem a coisa à sério. É uma situação que
coloca em perigo todo o mundo. Devem saber isto os europeus, a América, a ONU, que
estas comunidades assim fortes e integralistas querem somente fazer o mal, somente
matar: todos devem ser destruídos, exceto eles. Mas, quem são eles? De onde eles vem?
Por quais razões devem nos expulsar, nós que somos iraquianos desde a origem, pois
estamos aqui há 2000 anos, somos cristãos 400 anos antes que eles chegassem.... De
onde eles vem? O que fizemos para eles? Isto realmente nos faz mal! Quem os sustenta?
Estes que os apoiam são piores do que eles...".
RV: O senhor poderia
nos fazer entender o que realmente está acontecendo no Iraque?
Dom Warduni:
"Nunca pensamos que isto poderia acontecer! Estamos preocupados, estamos desolados,
tristes, pois não entendemos porque eles agem assim. Temos caros amigos entre os muçulmanos,
vivemos centenas de anos juntos! Este fanatismo é irracional! O nosso povo, os nossos
fiéis, nos pedem para fazer alguma coisa, mas o que podemos fazer? Peçam aos ocidentais:
onde estão os cristãos?, onde está a América? Nós gritamos para dizer: nós estamos
em grande perigo. Mosul, Nínive que é cristã há dois mil anos, já há dois meses que
não se escuta nenhuma oração cristã, não tem a Santa Missa.... Querem nos erradicar
e agora nos expulsam das nossas casas, dos nossos povoados, com ameaças: se vocês
não forem embora, serão mortos. Se não querem ser mortos, tornem-se muçulmanos, ou
devem pagar a jizya (taxa aos infiéis, ndr). E não é tudo. Não somente os mandam embora,
mas pegam tudo o que pertence a eles, saqueiam tudo, tiram mesmo as pequenas coisas
das mãos das crianças. De uma criança jogada ao chão, tiraram de sua mão um remédio,
tiraram até mesmo os brincos de uma criança de dois anos... Uma semana atrás, sequestraram
uma criança de três anos! São desumanos! Vejam o que foram capazes de fazer aos yazidis!
Muitas crianças morreram de sede, outras de desnutrição, outras as mataram... Algumas
delas foram sepultadas vivas.... E depois, uma coisa terrível, suja, imoral: pegar
as jovens, as mulheres e vendê-las no mercado!".
RV: As ações de
força podem resolver este problema?
Dom Warduni: "Ações de força
poderiam resolver o problema; porém, teriam tantas vítimas. Mas nós dissemos e diremos:
antes de tudo, não vendam armas! Existem armas em circulação, são elas que fazem mal,
porque estas pessoas são fortes porque têm as armas, de outra forma, o que poderiam
fazer contra o exército iraquiano ou contra o exército do Curdistão?"
RV:
Na sua opinião, como se poderia sair desta situação?
Dom Warduni: "Antes
de tudo, todo o mundo deve levar em consideração estas coisas, pois eles querem chegar
a todo o mundo e tem quem os incentiva, quem os sustenta e apoia: com armas, com dinheiro,
com tantas outras coisas. Portanto, se toda a comunidade internacional não ficar atenta,
penso que um dia os encontrarão na porta de suas casas e dirão: 'Fora!'". (JE)