Cidade
do Vaticano (RV) - Na Síria, estamos testemunhando uma catástrofe humanitária
esquecida: a denúncia é da ONU que apresenta dados impressionantes; mais de 191 mil
mortes em quase três anos e meio de guerra. A Alta Comissária da ONU para os Direitos
Humanos, Navi Pillay, fala de uma “paralisia internacional” diante de uma crise que
não acaba nunca. A Rádio Vaticano ouviu Dom Mario Zenari, Núncio Apostólico na Síria:
R.
- Infelizmente, os refletores sobre a Síria foram desligados. A Síria desapareceu
do radar da comunidade internacional. Não é mais notícia a gravidade diária... e a
população, é claro, toda, toda! - diz: “Nós, que estamos aqui, temos diante de nossos
olhos todos os dias as atrocidades... e não se fala mais sobre isso!”. Todos os dias
há uma média de 180 mortes, na Síria: uma cifra que não deveria deixar ninguém tranquilo.
Infelizmente, a Síria caiu no esquecimento ...
P. Preocupa o avançamento
dos jihadistas do Estado Islâmico?
R. - Esses jihadistas estariam a cerca
de 40 quilômetros de Aleppo. Isso preocupa todos. Preocupa não só os cristãos, mas
preocupa todos, porque a Síria é um país de maioria muçulmana, porém, é um Islã moderado
e os muçulmanos sírios rejeitam esse extremismo; até mesmo aqueles jovens ativistas
que vão se somar - falo de sírios - às fileiras desses extremistas do Estado islâmico,
geralmente, não vão por convicções ideológicas, mas porque estão frustrados ao ver
que os ideais de democracia e liberdade não caminham, que a situação estagnou... Então,
vão até eles, porque eles são mais eficientes e também porque às vezes recebem um
apoio econômico maior.
P. – Como o senhor explica a difusão deste integralismo
islâmico, desta ferocidade que estamos vendo?
R. – Encontra um terreno
adequado aqui na Síria, no Iraque, nesta região que está vivendo realmente momentos
muito, muito difíceis... A falta de soluções e o conflito que continua, são terrenos
férteis para o crescimento desse extremismo. E depois há muitos na Europa que seguem
essas utopias de criar uma sociedade utópica, porque faliu a tentativa de reforma
e de levar avante Estados mais democráticos, com maior liberdade. E então, surgem
essas utopias.
P. - Existe o risco de que mais e mais cristãos deixem
o país?
R. - Infelizmente, esta é uma realidade diária. Os patriarcas
e bispos aqui continuamente convidam e encorajam os fiéis, os cristãos, para permanecer.
Mas em certas condições, quando se trata de risco de vida ou de um futuro muito incerto,
se pode também entender essa vontade dos cristãos de tentar, se possível, emigrar
para países vizinhos ou para a Europa. Porém, devemos estar atentos: não são apenas
os cristãos que estão pensando em emigrar, são as pessoas que se encontram nestas
circunstâncias, pessoas que estão sob bombardeios, pessoas que se encontram sob a
chuva de morteiros, que perderam o trabalho, que tiveram a casa destruída ... São
essas as pessoas que tentam emigrar e encontrar um futuro melhor para sua família.
P.
- O Papa continua a acompanhar atentamente a situação na Síria...
R. - Continuamente!
Está no coração do Santo Padre a Síria como também o Iraque, a Terra Santa ... em
sua mesa de trabalho se encontram informações que chegam sobretudo desses países…
P.
– O senhor quer lançar um apelo através dos microfones da Rádio Vaticano?
R.
- Acima de tudo eu diria às três religiões monoteístas, que são chamadas a conviver
aqui e a difundir a mensagem da paz, eu diria aos fiéis e aos líderes dessas três
religiões monoteístas: “redobrem os esforços para encorajar à paz e para rezar pela
paz!”. (SP)