Cidade do Vaticano (RV) – O coração do Papa Francisco
sente a dor e o desespero de milhares de cristãos perseguidos em todo o mundo, principalmente
naquelas terras onde querem “cancelar” a existência milenar dos sequazes de Cristo.
Durante a sua viagem à Coreia na semana passada, mesmo em meio ao entusiasmo de milhões
de fiéis e da acolhida sincera e afetuosa do povo coreano, não se esqueceu, em nenhum
momento, do drama que se está consumando em terras banhadas com o sangue de inocentes.
O olhar de Francisco pousa sobre o ”tsunami” – palavra usada por sua Beatitude Ignace
Youssef III, Patriarca de Antioquia dos Sírios - que está acontecendo com as comunidades
cristãs e outras minorias perseguidas na planície de Nínive e em Sinjar: é a “hecatombe
do século”.
Na última quarta-feira, já de volta ao Vaticano, durante a audiência
geral na Sala Paulo VI, o Papa renovou o seu apelo em favor das minorias perseguidas.
Convidou todos para que se unam em oração por todos os cristãos perseguidos no mundo,
particularmente no Iraque. “Também pelas minorias religiosas, não-cristãs, que são
igualmente perseguidas”.
De um dia para o outro no Iraque, a vida de milhões
de pessoas, de milhares de cristãos mudou. Foram agredidos num dos direitos mais fundamentais
do homem, a liberdade de professar a sua fé. Viram-se entre a conversão ao Islamismo
ou o pagamento do imposto exigido pelo autoproclamado Estado Islâmico; ou ainda a
morte; não tiveram escolha. Deixaram tudo para trás. No meio do desespero não sobrou
tempo para nada. Muitos fugiram de mãos vazias e somente com a roupa do corpo. Para
traz ficaram suas casas, suas igrejas, seu passado, seu mundo. Fogem da violência
dos integralistas e passam fome. As crianças desnutridas aos poucos desvanecem sob
olhar impotente de pais e mães. Muitos vivem em abrigos improvisados, outros a céu
aberto.
O apelo é de todas as organizações humanitárias, Caritas em primeiro
lugar, por alimentos, remédios, roupas.
Em um abrir e fechar os olhos, a vida
dessas pessoas, a vida que tinham antes, deixou de existir. Para se ter uma idéia,
em 2003, só em Mossul, viviam 35 mil cristãos. Pela primeira vez em dois mil anos,
não sobrou nenhum. O Patriarca Caldeu do Iraque, Dom Louis Sako, tem-se desdobrado
em apelos. A ele, já se juntaram os bispos de todas as partes do mundo e da Europa
numa carta enviada esta semana ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pedem decisões
urgentes para "para pôr fim às atrocidades cometidas contra os cristãos e outras minorias
religiosas no Iraque".
O Iraque é um lugar onde se vive hoje de modo dramático,
ainda que não seja o único. Porém, certamente é um lugar sobre o qual a nossa atenção
nestes dias está concentrada: também o Papa jamais se esqueceu deste povo que está
sempre no seu pensamento. Basta pensar que Francisco, falando aos jornalistas, durante
o seu retorno da Coréia, disse que tinha levado em consideração a possibilidade de
passar pessoalmente no Curdistão, o que depois não se verificou, mas isso demonstra
a sua atitude de presença, de participação e proximidade, não só na teoria, mas com
todo o seu coração.
Francisco continua sendo a voz daqueles que não tem voz,
daqueles que têm como único desejo retomar à sua vida, à sua dignidade. Ele é a voz
dos mais pobres, sejam eles cristãos ou não, expulsos de suas terras, violentados
na sua dignidade, roubados de suas famílias...
Mas diante de tudo isso, podemos
permanecer indiferentes? Cada um deve fazer segundo a sua capacidade. O Santo Padre
o faz com toda a sua capacidade espiritual e moral.
O drama vivido no Iraque,
sem esquecer Síria, Gaza, Sudão, é um drama que nos projeta num futuro sombrio: um
drama que deve ser solucionado o quanto antes. A questão no Iraque não é somente uma
tragédia para o povo iraquiano, para os cristãos ou para os yazidis, mas é algo que
diz respeito a toda a humanidade. Existe o desejo latente de cancelar o diferente.
São pequenas ou grandes minorias, são fés diferentes e religiões diferentes, sem espaço
num futuro sem paz. São povos, pessoas diferentes que padecem a mesma tragédia, mas
ligados pela mesma dignidade humana, que deve ser salvaguardada e defendida. (Silvonei
José)