Padre Lombardi, sobre viagem à Coreia: Papa toca corações porque testemunha o Evangelho
com simplicidade
Ao fim da
viagem apostólica a Coreia, o nosso diretor geral, padre Lombardi, faz um balanço
partindo da contribuição da visita do Papa à causa da reconciliação entre as duas
Coreias, evocada várias vezes não só diante das autoridades institucionais e eclesiásticas,
mas também com os jovens. A entrevista é de Alessandro De Carolis.
O
temada divisão entreas duas
partes daCoreiae, mais amplamente,
o tema da reconciliaçãoe da paz,
foi uma constantenesta viagem. A
abordagemdo Papa foi sempre
claramenteevangélica, claramente
cristã, no sentido defavorecer,
incutir as atitudes profundas
que são a premissa dareconciliação e da
paz. O Papasabe muito bem que não
é um políticoeuma
autoridade com poderespolítico-militares
para alcançar a paz nomundo, mas
que é um lídermorale
religiosoe que, portanto, age num plano,
que porém émuito mais profundoe clarividente eque afinal é o plano daconversão dos coraçõese do diálogo feito
em profundidadeentre as pessoasna
sua totalidadee, portanto,
de um diálogo que supõe umaconversão euma atitude recíproca de escuta.Esta, eudiria, é
a mensagemque o Papanos
deixousobrea paz e a reconciliaçãona Coreia.Alguém ficou talvez
até um pouco decepcionado: teria preferido mensagensmais fortes decondenação do regimeda Coreia do Norteou das
perseguições de que sofreram os cristãose as religiões na Coreia do Norte,
mas esta não era a tarefado Papanestaviagem.Ele
tomaconhecimento de umasituação
que existe, infelizmente, há já 66 anose procura pôr as premissas para ela mude e mude em profundidade
e por um tempocontínuo, começando,
portanto, da reconciliação que nasce dos corações.Odiscurso feito peloPapafoi feito comconsciência,comgrande profundidadee
eu acho queos coreanos o entenderammuito bem. Ouvi muitasexpressões,
também de gratidão,pela homiliadas
Missa final.
Falando da viagem como um todo, começaria por uma
consideração feita na Rádio Vaticano pelo presidente dos bispos coreanos, que disse:
"Francisco consolou-nos e nos fez sorrir." Poderíamos dizer que o Papa deu uma demonstração
de "empatia" para com o povo coreano, da maneira como ele mesmo falou com os bispos?
Certamente.O Papa demonstrou de serum homem que
se move sempre para encontrar o outro, vendo-o à
luz dafée,
à luz da fé cristã, como imagem de Deus,
como filho de um único Pai.
E parao povo coreano ele
teve esta mesma atitudede amorprofundo, que demonstrou também,
de formamuito eficaz, em
relação com grupos de pessoas sofredoras que eleencontrou. Isto tocou muito
os coreanos, quesão sensíveis àcontribuição específicaque a Igreja Católicatem trazidodesde as suas origens,
de atenção paraaqueles quesão fracos, no âmbito da sociedade.
Assim o Papa, com os seus
gestos, conseguiu fazer entender que, à luz da fé cristã,
todos os membrosdo povo coreano, seja qual
for a sua situação, os seus sentimentos,sãopara ele pessoaspara
abraçar, amar, encontrar.
E a propósito
de gestos, um dos encontros na Coreia viu o Papa Francisco quase mudo, mas o seu
comportamento, pelo contrário, comoveu – como lembrava - todos os coreanos. Falo da
sua visita ao Centro de assistência para pessoas deficientes de Kottongnae..
Eu
creio que é efectivamente uma dasimagens
quepermanecerá mais profundamentegravadana memóriados coreanose
de todos aqueles quetêm acompanhado esta viagem.
Alguém- não
me recordoexatamente quem-me lembrou, a este respeito,aspalavras de São Francisco,
que diz: o Evangelhodeve ser anunciadosempre, comtoda
a nossa vida", se necessáriotambémcom
as palavras". Mas istosupõeque, efectivamente, o Evangelho seja anunciado, antes
que com as palavras, com a vida e, portanto, também com os actos concretos. E
o PapaFranciscorecolhe de maneira excepcionalmenteviva
estarecomendação.E épor isso que, justamente, não
devia fazer grandes discursos. Seas pessoas a quemse dirigiaeram pequenas criançascom deficiência,não tinha sentido fazer-lhesgrandes discursos,
mesmo muito bonitos, porque elasnão eram
capazes derecebê-los.Enquanto
que oabraço, acarícia,a manifestação do amor também físico, digamos, mas
certamente concreto é algo que todos podemperceber, é uma linguagem absolutamenteuniversal.Isto se deve apreciar e dargraças a Deus: ou seja, que exista uma linguagem universalque todos entendam, mesmo que haja
línguas diversascom as quais,
por vezes, temos dificuldades de comunicação,eé a linguagem do amor, do amor concreto.Todos os Santos a entenderam.
Recordávamos antes Francisco,mas tambémMadre Teresa: porque Madre Teresa, que,
aliás, trabalhouna Ásia,
conseguiu fazer passara sua mensagem?
Porque encarnou a mensagem do amorcristão. O PapaFrancisco
consegue fazê-lo-é
também umdom que ele tem-comgrande simplicidadee
naturalidade.Aquelas criançascom
deficiência,que aliás são
pessoas abandonadas, quetinham sidoabandonadas, são portanto elas que realmente
mais precisavam de amor e que puderam reencontrar umavida físicae, emsua
medida,um sentido davida,graças ao amor, a um amor motivado na fé
cristã,pelo menosno seu
caso concreto. E esta éuma
das maneirasmais eficazes com a qual a Igreja dá testemunhode JesusCristo, substancialmente,
no amor.
Os coreanos, orgulhosos de recordar muitas vezes que o nascimento
da sua Igreja foi devido ao empenho dos leigos; a menina cambojana que pede ao Papa
para que se possam conhecer os mártires que se sacrificaram pelo Evangelho no seu
país ... A impressão no Ocidente, onde as igrejas asiáticas são pouco conhecidas,
é que elas são muito mais volitivas e enraizadas do que aquilo que as suas dimensões
podem sugerir. Qual é a sua opinião?
Efectivamente, nós temosmuito a aprender das igrejas da Ásia. Acho
queum dos grandesvalores
destaviagem foi,a nívelda Igrejauniversale,
portanto, um pouco para todos nós, o de aprendermos a
olhar e entenderesta mensagem
assim tão preciosa que nos vem dasigrejas da Ásia, da sua história e
do seu testemunhode fé. As
viagensdo Papatêmtambémestegrande
valor paratodos os fiéisdo
mundo.Em particular, estaIgreja
coreanatemestes dois aspectos
que nosúltimos diasforam
recordados muitas várias vezes: o ter sido
originada por leigos do lugar, por tanto não pormissionários estrangeiros, e o de teruma grande históriade
martírio. Portanto, estafé
nascidaassim, da escuta da
Palavrade Deus, foi de tal maneira forte que conseguiu
superar asperseguições mais horríveis,
durante dezenas e dezenas de anos, por mais deum
século.Isto faz umagrande
impressão a quem pelo contrário vivea fé porventura
em situações mais fáceis, não assim provadas. AsIgrejas da Ásia, na sua maior parte,
com excepção das Filipinas,sãoIgrejas Católicas de minoria no seu país.
Também afé cristãé
minoritária. A minoriatem
sempreeste carácter de uma profundidade deconvicção, de uma prova da convicção pessoal,
que é examinadacom mais profundidade,
com mais seriedade edificuldadeque quando se está em condiçãode maioria.Maspara além desteaspectoda minoria, eu gostaria pelo contrário de
ressaltar precisamente este aspecto da inculturação,
que me parece muito significativo eé testemunhadopela Igrejacoreanade uma forma única,
porque temos arecepçãodo
Evangelho e dos seus valores e da sua
novidade eda sua linguagem a cada pessoa não por mensageirosque
vêm de forapara te trazer umamensagem,
quese originou noutros lugares,masque nasce da reflexão profunda, pessoal, de leigos coreanos que
descobriram,eles,pela sua
paixão de procurar a verdade, o valorda
mensagem evangélica. Assim, este éo
tema mais fortena minha opinião para
poder dizerque a linguagem evangélica entra
nos diversos povos e nas váriasculturas
comoalgo que lhes podefalar
a partir de dentro,quenão
é"colado" a partir de fora, que não é
superficialmenteacrescentado, mas entra
numasíntesevitalcom a alma, a sensibilidade e a cultura
dos povos. Portanto, este éum
aspecto muito importante, no que diz respeito àevangelização da Ásiaetambém
nos dácritériospara compreender,
como diz o Papa, que a grande evangelizaçãoque nós desejamospara esteimenso continente, nasce de uma empatia,
ou seja, nasce de umconhecimento do evangelhoquenão é um acréscimo, algo
de estranho, mas que se funde profundamentecom a alma dequem o recebe,
entrandomais fundo.E
isto diz tambéma nossaconvicção
de que éo Senhor quetrabalhae quedá a graçae
que a pode dar nomais profundo
do coração, ondesó Ele é
consegue chegar e onde pelo contrário as
palavras dos homensnão conseguem penetrar:
um trabalho, portanto,de Deus,
um trabalho da graça, um trabalho nascamadas
mais profundas daalma humana.O
factodo nascimento daIgreja
Coreana, como ela teve lugar, parece-me
que testemunha isso e nos dá também uma orientação e uma direcçãosobre comocontinuar a trabalhar e
a rezar pelaevangelização da Ásia.
Durante a viagem à Coreia poderíamos dizer, como testemunham aliás os muitos Tweet,
que o papa Francisco nunca esqueceu a tragédia que o Iraque está a passar …
Certamente.E isto o testemunhou em particularcom um gestomuito simples, mas absolutamente seu e espontâneo,
isto é, quandoacrescentou, ao finaldaoração dos fiéisdurantea missa de encerramento, uma oraçãopela missãodo cardealFilonino Iraque, pelasituação no Iraque.
Soube que quandoos nossoscolegas daRádio disseram
isso ao CardealFiloni numa
entrevista, ele ainda não sabiae
que ficou muitofelizmenteimpressionado.Isto diz da profunda sintonia
com aqual o Papase move
comtodas asdimensões da
Igreja, em particular as desofrimento
e dificuldades. Além disso,precisamentena Coreia,a presença dotema "perseguição", "sofrimento",
"dificuldades da Igreja", tanto na história
como hoje,foi extremamentepresente.E o Iraqueé
um lugar onde se vivehoje
este tema de uma maneiradramática,
mesmo que não seja o único.
Certamente é, porém, um lugar onde
a nossa atenção é concentrada e, portanto, o Papacertamente
nunca o esqueceuesempre o manteve presente:
informou-se dia após dia sobre a missãodo
cardealFiloniecontinua a procurar as vias.Na conversafinal no avião,
até mesmo disse de ter considerado apossibilidade
deuma passagem sua, pessoal, por Curdistão
que, aliás, até agora ainda não se verificou mas que, contudo, diz de uma
atitude depresença, não apenasteórica, não apenas distante com o pensamento,mas verdadeiramente comtodo o seu coração.