Papa na Missa de Beatificação: nossa sociedade raramente escuta o grito dos pobres
Seul (RV) – Terceiro dia da visita apostólica do Papa Francisco à Coreia do
Sul. Na manhã deste sábado, o Santo Padre deixou a Nunciatura Apostólica, em Seul,
transferindo-se, de automóvel, para o Santuário dos Mártires Coreanos de Seo So-Mun,
conhecido como lugar das execuções capitais.
O Santuário surge na localidade
onde foram martirizados 103 católicos coreanos, canonizados, em 1984, por São João
Paulo II. Ali, o Papa Francisco depôs uma coroa de flores e, por alguns momentos,
rezou em silêncio.
A seguir, o Bispo de Roma se deslocou, em papamóvel para
a Porta de Gwanghwamun, símbolo da capital coreana, situado ao centro da história
antiga e contemporânea da Coréia. Nesta grande área, encontram-se as sedes das instituições
governamentais.
Diante da Porta de Gwangh-wamun, o Pontífice presidiu à celebração
Eucarística de Beatificação de Paul Yun Ji-Chun e seus 123 Companheiros mártires,
ponto alto desta sua terceira Viagem apostólica internacional à Coréia.
Estes
124 mártires, que representam a primeira geração de católicos coreanos, eram todos
leigos, com exceção de um sacerdote chinês, Pe. James Ju Mun-mo, o primeiro a entrar
na Coréia e a rezar a primeira Missa no país, e conhecido pelo seu zelo missionário.
Após seis anos da sua chegada, os católicos já eram dez mil. Depois da sua decapitação,
a sua cabeça foi exposta sarcasticamente ao público.
Por sua vez, Paul Yun
Ji-Chun foi martirizado, com seu primo, por violar os rituais confucianos, ao enterrar
sua mãe com rito católico.
Durante a Santa Missa de Beatificação dos 124 Mártires
coreanos, da qual participou cerca de um milhão de pessoas, o Papa Francisco pronunciou
a homilia, partindo da citação bíblica: “Quem nosseparará do amorde Cristo?” (Rm 8, 35). Com estas palavras, o apóstolo Paulo se
refere à glória da nossa fé em Jesus: Cristo não só ressuscitou dentre os mortos e
subiu ao céu, mas uniu-nos a si, tornando-nos partícipes da sua vida eterna. Cristo
é vitorioso e a sua vitória é nossa! Por isso, o Papa disse:
“Hoje celebramosesta vitória, na pessoa de Paulo YunJi-chung
e de seus123companheiros.Todos
viveram e morrerampor Cristo e,agora,reinam
com Elena alegria e na glória. Eles confirmam
que Deus, com a morte eressurreiçãode
seu Filho,nos deua maior de todas as vitórias.
A vitória destesmártires e seutestemunho, dado
por amor a Deus,continua, ainda hoje, a produzir seus frutosna Coréia ena Igreja, animada por este sacrifício.A
celebraçãodo BeatoPaulo e de seus companheiros
nos oferece a oportunidade devoltar aos primeiros passos da
Igrejana Coreia. Por isso, convido todos os católicos
coreanos, a lembrar dasgrandes maravilhas que Deusrealizounesta terra e a manter,como um tesouro, afé e
a caridade,que lhes foram confiadaspelos seus antepassados”.
A fé cristã, recordou o Pontífice, não chegou às costas da Coreia por intermédio
dos missionários, mas por meio dos corações e das mentes do próprio povo leigo coreano,
estimulado pela curiosidade intelectual e pela busca da verdade religiosa. Portanto,
foi através de um encontro com o Evangelho que os primeiros cristãos coreanos abriram
as suas mentes ao encontro com Jesus, mediante o batismo, o desejo de uma vida sacramental
e eclesial intensa e o compromisso missionário. E o Papa acrescentou:
“Esta
história é muito importante porque nos fala da dignidade e da beleza
da vocaçãodos leigos. Por isso, dirijoa
minha saudaçãoaos numerosos fiéis leigos,aqui presentes,
especialmenteàs famíliascristãs, que,
diariamente, com oseu exemplo, educam seus filhos para
a fé e o amorreconciliador deCristo.
Saúdo também os inúmeros sacerdotes desta terra, que, por meio do seu ministériogeneroso, transmitem orico patrimônio da fé,cultivado
pelasgerações passadas decatólicoscoreanos”.
O Evangelho de hoje, ponderou o Papa, contém uma mensagem importante para
todos: Jesus pede ao Pai que nos consagre na verdade e nos guarde do mundo. Antes
de mais nada, é significativo que Jesus, ao pedir ao Pai que nos consagre e guarde,
não lhe pede para nos tirar do mundo. Pelo contrário, ele mesmo envia seus discípulos
para ser fermento de santidade e verdade no mundo: disso os mártires são testemunhas
e nos indicam o caminho. E o Santo Padre completou:
“Os mártires ea comunidade cristãtiveram que optar, depois que as
primeiras sementes deféforam lançadas nesta terra: seguirJesusou o mundo. Eles sabiam qual opreço
que deveriam pagar: perseguição;fuga paraas montanhas,onde formaramaldeiascatólicas; grandes sacrifícios,
para não se afastar de Cristo; despojamento dos bense
da terra, do prestígio e da honra,porque sabiamque somente Cristo eraseu verdadeiro tesouro”.
O
exemplo dos mártires, disse o Papa, ensina-nos a importância da caridade na vida de
fé e a viver em uma sociedade, onde, por um lado, há imensas riquezas, e, por outro,
cresce silenciosamente uma grande pobreza; uma sociedade que raramente ouve o grito
dos pobres, onde Cristo continua a nos convidar a amá-lo e a servi-lo nos nossos irmãos
e irmãs necessitados.
Por fim, o Bispo de Roma chamou a atenção dos fiéis,
em sua homilia, para aqueles numerosos “mártires anônimos” deste país e de outros,
que ofereceram a sua vida por Cristo ou sofreram duras perseguições, por causa do
seu nome. E advertiu: “Que o exemplo desses mártires possa inspirar todos os homens
e mulheres a trabalhar, em harmonia, por uma sociedade mais justa, livre e reconciliada,
contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores autenticamente humanos, neste
país e no mundo inteiro.
Após a Santa Missa de Beatificação dos 124 Mártires
Coreanos, o Bispo de Roma regressou à Nunciatura Apostólica, em Seul, para o almoço
e um breve descanso. (MT)