Pároco de igreja atingida em Gaza: proximidade do Papa é um conforto para todos nós
Cidade do Vaticano
(RV) - A crise no Oriente Médio encontra-se ainda em primeiro plano na quarta
semana de ofensiva. Tenta-se negociar após os vários apelos em favor da paz provenientes
dos EUA, ONU e União Europeia.
A emissora satélite "al Arabiya" informa que
uma delegação palestina encontra-se nesta terça-feira no Cairo para avaliar a proposta
egípcia de um cessar-fogo já aceito por Israel.
Enquanto isso, os ataques,
embora com menor freqüência, continuam por ação de ambas as partes.
O balanço
da noite desta segunda para terça-feira é de 26 palestinos mortos, entre os quais
9 mulheres e 4 crianças. Ao todos, são 1.110 palestinos mortos desde o início da ofensiva;
do outro lado, 48 militares israelenses perderam a vida.
Agrava-se a situação
humanitária desde quando a maior central elétrica de Gaza foi dada às chamas em ataque
israelense, esgotando também a reserva de combustíveis.
Notícias da manhã desta
terça-feira dão conta de 20 mil novos deslocados, que se juntam aos mais de 200 mil
de Gaza. Os novos deslocados são habitantes de Izet Abed Rabbo e de al Zeitun, localidades
às quais Israel ordenou que abandonassem, anunciando bombardeios.
Muitos fugiram,
mas não o pároco da "Sagrada Família" de al Zeitun, Pe. Jorge Hernández, que com seus
paroquianos, anciãos e crianças portadoras de deficiência, encontram-se sob tiros
da artilharia, como testemunha o sacerdote em entrevista concedida à Rádio Vaticano,
em que conta o drama vivido, agradecendo pelas orações das comunidades cristãs no
mundo:
Pe. Jorge Hernández:- "Infelizmente, o movimento da resistência
está sempre em torno das casas e pelas ruas. Este foi o nosso problema desta segunda-feira:
a um certo ponto, não podíamos mais sair de casa. Depois começaram os bombardeios.
Uma casa aqui, próxima da igreja, foi atingida, com graves consequências sofridas
também pela casa paroquial e pela escola."
RV: Sabemos que muita gente
tentou fugir: cerca de vinte mil deslocados se somam aos 200 mil já existentes. Mas
para muitos, como para vocês, é impossível sair. Qual é o estado de ânimo com o qual
vocês estão vivendo essa situação?
Pe. Jorge Hernández:- "Não podemos
sair daqui: como podemos sair daqui carregando trinta crianças portadoras de deficiência
e nove pessoas anciãs? Não é possível! Inclusive porque não se trata de órfãs, não
somos responsáveis por elas. De fato, sem permissão não podemos fazer isso. Ademais,
sair pelas ruas é perigoso... Portanto, estamos aqui procurando resistir."
RV:
O senhor ouviu este domingo o apelo do Papa em nome das crianças, que vivem de modo
fortemente opressivo essa realidade de sofrimento. A mensagem do Pontífice chegou
até vocês? Qual o sentimento que têm quando veem que o Papa pensa em vocês, reza,
e pede que se dê um fim a tudo isso?
Pe. Jorge Hernández:- "A proximidade
do Papa é um conforto para nós. É necessário que alguém diga "Basta!" e que se dê
um fim a esse massacre, que é chocante. Tivemos uma graça, uma delicadeza do Papa
Francisco que, dias atrás, nos enviou um e-mail em que manifestava sua proximidade
à paróquia e nos assegurava sua oração por todos os cristãos. Demos a notícia do e-mail
a todos os párocos e aos cristãos, que, evidentemente, se sentiram muito confortados.
Foi algo importante para nós. Infelizmente, nem sempre o Papa é ouvido. Outro dia
vivemos uma tragédia: a casa de uma família cristã foi bombardeada, a mãe morreu,
o pai ficou ferido e o filho mais velho, que também estava em casa, encontra-se agora
no hospital lutando entre a vida e a morte. Nos hospitais aqui em Gaza não há meios,
falta espaço, não há equipamentos necessários... Essa é a nossa situação."
RV:
Quando é proclamada uma trégua é, efetivamente, um momento de alívio ou, mesmo assim,
permanece um momento de caos e de medo?
Pe. Jorge Hernández:- "De todas
as tréguas que houve, pudemos aproveitar somente de uma, e não a partir do horário
que tinham dito, porque, por exemplo, se dizem a partir das duas da noite, a trégua
tem início a partir das três, não cessam logo. Infelizmente, não pudemos aproveitar
das outras tréguas, porque efetivamente não houve cessar-fogo. Uma coisa é o que se
diz a nível de informação, outra é o que se vive. Agora temos somente uma hora e meia,
no máximo duas, de energia elétrica... Houve dias em que não tivemos hora nenhuma
e este é um problema. Quando falta energia não temos fornecimento de água: procuramos
ajudar os vizinhos com as reservas que temos. Ademais, muitas pessoas nos pediram
refúgio aqui na igreja, mas não podemos dar abrigo porque não é seguro." (RL)