Jornal argentino recorda os primeiros 500 dias de pontificado de Francisco
Buenos Aires (RV) – O jornal argentino “El Clarín” publicou em sua edição deste
domingo um caderno especial dedicado aos primeiros 500 dias de pontificado do Papa
Francisco.
Numa longa entrevista realizada na Casa Santa Marta em 7 de julho
passado, o Pontífice aborda inúmeros temas, entre eles o da paz. Questionado o que
faria com o dinheiro caso vencesse o Nobel da Paz, ele respondeu: “É um tema que não
entra na minha agenda, digo a verdade. Sem demonstrar qualquer desprezo, jamais quis
receber doutorados ou prêmios. Com toda franqueza, não me passa pela cabeça e muito
menos o que faria com o dinheiro do prêmio. Porém, prescindido disso, creio que todos
devemos nos empenhar pela paz, fazer todo o possível, o que eu posso fazer daqui.
A paz é uma linguagem que se deve falar”.
Sobre a migração, Francisco elogiou
o caso da Suécia, que nos últimos anos acolheu 800 mil migrantes diante de uma população
de nove milhões e meio de habitantes e comparou a atitude do país com seus vizinhos:
“A Europa tem medo”, disse. O jornalista apresentou ao Papa uma pequena fivela que
pertenceu a um soldado que combateu a guerra das Malvinas, em 1982; o Pontífice a
beijou.
O Papa falou da família, convidando a desligar a televisão nos momentos
de convívio, principalmente quando todos se reúnem à mesa. “Às vezes, o consumismo
chega a fagocitar o tempo e a não compartilhá-lo. Sei que ver televisão é uma ajuda,
existem os noticiários, mas estar à mesa com a TV ligada não permite a comunicação”.
De
modo especial, o Santo Padre ressaltou o papel das colaboradoras domésticas. Francisco
contou que carrega sempre consigo, no bolso, uma pequena medalha do Sagrado Coração,
que lhe foi entregue no leito de morte por uma senhora que ajudou sua mãe quando era
criança.
“Era uma senhora que ajudava minha mãe a lavar roupa, quando ainda
não existiam as máquinas de lavar e se fazia tudo à mão. Nós éramos cinco, minha mãe
sozinha, e esta senhora vinha três vezes por semana para ajudá-la. Era siciliana,
viúva com dois filhos, emigrada na Argentina depois que seu marido morreu na guerra”,
conta Francisco, que depois perdeu contato com a senhora porque seus pais foram transferidos.
Muitos anos depois, Bergoglio a reencontrou e a acompanhou em seus últimos
dez anos de vida. Antes de morrer, no leito de morte, fez questão de entregar ao Papa
a medalha do Sagrado Coração.
“Toda noite, quando a tiro do bolso, a beijo,
e toda manhã, quando a pego novamente, vejo a imagem daquela mulher. Era uma pessoa
anônima, ninguém a conhecia, se chamava Concepción Maria Minuto. Morreu com o sorriso
nos lábios e com a dignidade de quem sempre trabalhou. E por isso simpatizo com as
colaboradoras domésticas, que devem ter reconhecidos todos os seus direitos sociais,
todos. E não devem ser objeto de exploração ou maus-tratos”, disse ainda o Papa, recordando
o apelo que fez no Angelus de 15 de junho passado, destacando o serviço “precioso”
que prestam junto às famílias.