Cidade do Vaticano (RV) – O nosso olhar nestes
dias está fixo em dois pontos do Oriente Médio; Gaza, na Palestina, e Mossul no Iraque.
A preocupação do Santo Padre pelo que está ocorrendo nestas duas cidades é constante,
pois vê nestes lugares a síntese do grande drama e da dor que atingem a humanidade.
É um pouco a síntese da violência que atinge homens e mulheres, crianças e idosos
indistintamente. É a síntese da dor que a guerra e o extremismo religioso podem causar.
Falando sobre Gaza, alguém afirmou que é uma luta dos poucos que se conhecem; mas
quem paga são os muitos que não se conhecem, ou seja, os líderes de ambos os lados
são conhecidos, mas as pessoas que morrem ou vêem suas casas destruídas não, são estatísticas.
O apelo por um cessar-fogo e para o retorno ao diálogo brota incessantemente
das palavras do Papa Francisco que, recentemente, como peregrino da paz, visitou a
Terra Santa, lançando sementes de esperança e de paz que neste momento estão sendo
sufocadas pelas pedras da guerra. Quase paralelo ao drama vivido na Faixa de Gaza
temos o drama dos cristãos da cidade iraquiana de Mossul, expulsos de suas casas quase
como se fossem leprosos - uma imagem dos tempos passados quando os leprosos eram expulsos
de seus lares. A lepra desses homens e mulheres é ter Cristo no coração. Pagam a escolha
de serem cristãos.
Mas nem tudo está perdido. Nos dias passados o site caldeu
ankawa.com contou a história de um professor universitário muçulmano que em Mossul
foi assassinado após dizer abertamente que era contra a perseguição dos cristãos.
Além da opressão que os cristãos vivem na região, o grupo extremista Estado Islâmico
(EI) fixou em 450 dólares a tarifa jizya (taxa islâmica para não muçulmanos). Essa
é a taxa que cada família cristã deve pagar por mês para permanecer nos locais dominados
pelos extremistas islâmicos, como Mossul. Os cristãos acabam tendo que decidir entre
ficar e pagar a taxa, – o que é quase impossível porque quase ninguém tem trabalho
neste local em guerra – viver as perseguições, ou fugir.
O professor muçulmano
teve um ato de extrema virtude e coragem, consciente dos perigos que corria. Da mesma
forma, outros muçulmanos lançaram em Bagdá a campanha “Sou iraquiano, sou cristão”,
como resposta à letra “N” de nazarat, desenhada nas paredes das casas dos cristãos
de Mossul. Alguns muçulmanos apresentaram-se com um cartaz com este slogan à frente
da Igreja caldeia de São Jorge, em Bagdá. Estes são sinais contra a corrente, porém,
a loucura dos fundamentalistas do Estado Islâmico não diminui. Eles continuam com
seu propósito de “limpeza étnica”.
Nos dias passados em entrevista ao jornal
vaticano L’Osservatore Romano, o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho
para a Unidade dos Cristãos, levantou a sua voz afirmando que “precisamos ser mais
corajosos em denunciar as perseguições contra os cristãos, porque hoje temos mais
perseguições do que nos primeiros séculos depois de Cristo”. Calcula-se - explica
Dom Koch - que 80% das pessoas perseguidas por causa de sua fé sejam cristãs. "Acredito
que estamos calados demais", concluiu.
Talvez seria o momento da dor unir,
transformando-se em um alicerce para a construção de um futuro desejado por muitos,
como São João Paulo II, “ut unum sint”, para que todos sejam um. Um forte desejo de
união, principalmente nos países onde os cristãos são perseguidos e obrigados a fugir.
Nestes países, no futuro, teremos somente igrejas vazias, sem homens, sem almas, somente
cimento.
Mossul e Gaza: a primeira cidade, sem a semente do cristianismo, cancelada
pela arbitrariedade de poucos e com a violência. Gaza; terra banhada nestes dias pelo
sangue de tantos inocentes, onde presenciamos um conflito, um massacre, que distancia
os corações e a paz. Sim, porque os corações de israelenses e palestinos neste momento
estão se enchendo de ódio, um sentimento que ofusca a razão e impede o diálogo. O
Patriarca Latino Emérito de Jerusalém, Michel Sabbah afirmou que “os meios para se
chegar à paz não podem ser senão meios de paz. As guerras, as armas, os massacres
são incapazes de garantir a paz”.
O apelo pela paz em Gaza e pelo o diálogo
em Mossul brota freneticamente de todos os lados, mas é necessário mais do que palavras,
são necessários gestos concretos, reais. Cristãos de um lado e muçumanos de outro
têm medo e vivem o pesadelo de não ver a aurora do dia seguinte, de não ver seus filhos
crescerem. O Papa Francisco pede, insiste, implora, que o valor da vida seja respeitado,
que o homem independentemente da sua raça, cor ou religião, merece respeito. A porta
para entrar na paz é aberta pela justiça, que tem início com o encontro da verdade.
O diálogo é iter para povos viverem dignamente a condição de filhos de Deus. (Silvonei
José)