2014-07-25 13:48:46

Sri Lanka: a visita do Papa Francisco


Mannar (RV) - “Para a população do norte do Sri Lanka, atingida pela guerra e que se sente abandonada, a visita do Papa Francisco será uma grande consolação”: foi o que disse à agência Ásia News, Dom Rayappu Joseph, Bispo de Mannar (Província do Norte), sede de uma das metas que o Pontífice irá tocar durante a viagem apostólica à ilha programada para a primeira quinzena de janeiro de 2015. Depois de Columbus, a capital da ilha, o Papa visitará o Santuário de Nossa Senhora de Madhu, um importante local de peregrinação para todo o sul da Ásia. Ali todos os anos mais de 600 mil pessoas vão rezar à Virgem.

“Ali celebrará uma Missa – sublinha o prelado à agência AsiaNews - mas também se reunirá com os sobreviventes da guerra civil, para ouvir os seus dolorosos testemunhos e rezar com e por eles. Esperamos uma grande afluência de todas as dioceses do norte e de algumas do sul”. A população, acrescenta ele, “acolhe a sua visita como uma bênção de Deus, e agradecemos ao Senhor por isso”.

A diocese de Mannar - que inclui os distritos de Mannar e Vavuniya, faz parte do “cinturão Católico”, que se estende de Negombo (Província Central) a Jaffna, como é chamada a área colonizada pelo Português, com os quais chegaram também os primeiros missionários católicos. Erigida em 1981, de acordo com os últimos dados disponíveis (2004) conta uma população de mais de 219 mil pessoas, 33% das quais, de fé católica.

De 1983 a 2009 a ilha foi palco de uma sangrenta guerra civil entre o governo e os rebeldes Tigres Tâmil (Liberation Tigers of Tamil Eelam), uma organização que luta para criar um Estado independente no norte e leste do país, de maioria tâmil.

“Durante esta guerra – explica Dom Joseph à AsiaNews – sofremos perdas de todos os tipos: vidas humanas, casas, propriedades. Alguns de nossos sacerdotes morreram, as igrejas e as estruturas criadas por nós foram destruídas. A população foi abandonada a si mesma, os únicos a ajudá-la somos nós. Devo agradecer a Caritas, que fez um grande trabalho para ajudar as pessoas naqueles anos”.

No entanto, prossegue o bispo, “apesar de se terem passados cinco anos do fim do conflito, não houve reabilitação para os sobreviventes. Ninguém, nem o governo nem qualquer outra pessoa, se ocupou das 89 mil viúvas de guerra, dos órfãos, dos mutilados, das pessoas que tiveram traumas psicológicos”.

Todavia, “o apoio e a reabilitação de um ser humano é um longo caminho - disse o bispo - que deve ser integral. É necessário dar instrução às crianças; pagar seus estudos dar-lhes roupas novas e remédios se estão doentes Nós estamos fazendo isso com a ajuda de amigos e benfeitores. Mas o governo não está fazendo qualquer trabalho de reabilitação: pensa somente em construir estradas e pontes e não consigo entender por que, ao invés, não tome medidas para as famílias das milhares de pessoas que morreram na guerra; medidas para os mutilados; para aqueles que sofrem de problemas psicológicos”.

O problema da recuperação dos sobreviventes está intimamente ligado às condições de vida dos tâmeis, segundo maior grupo étnico do país (11,2%) após os cingaleses (74,88%). A guerra acabou se transformando em um conflito étnico real entre as duas comunidades, e até hoje os tâmeis reclamam do tratamento desigual e de sofrerem contínuas violações por parte das autoridades.

Para Dom Joseph “os problemas atuais, que existem há mais de cem anos, têm uma solução única, que é a proposta de sempre: encontrar uma comunhão nas recíprocas diversidades. Tâmeis e cingaleses têm culturas, línguas e tradições diferentes. Um modelo a ser seguido poderia ser o da Índia. Criar um Estado federal, uma moldura unitária na qual atuar uma descentralização do poder. Mas o governo não quer: para fazer isso, deveria alterar a Constituição, e também o presidente deveria mudar. Um personagem que muitas vezes abusou de seu poder, principalmente contra as minorias”. (SP)








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