Fr. Enzo Bianchi: "Francisco quer buscar a unidade mesmo tendo que reformar o papado"
Cidade do Vaticano (RV) – O Santo Padre nomeou na terça-feira, 22 de julho,
o Prior do Mosteiro de Bose, Ir. Enzo Bianchi, como Consultor do Pontifício Conselho
para a Promoção da Unidade dos Cristãos, guiado pelo Cardeal Kurt Koch. Tendo dedicado
sua vida ao trabalho ecumênico, declarou ao Vaticaninsider que “o Papa reformará o
papado e isto favorecerá as relações com os ortodoxos”. Ele também falou na entrevista
sobre a situação dos cristãos no Oriente Médio e o papel desempenhado pelas diferentes
confissões cristãs na crise ucraniana.
Pego de surpresa com a nomeação, Ir.
Enzo Bianchi disse que havia sido recebido em audiência pelo Papa em 2 de julho, o
terceiro encontro entre os dois desde o início do Pontificado de Francisco. Na pauta
dos encontros, a unidade da Igreja e as ações necessárias para promover esta unidade.
“Mas não me havia falado sobre esta nomeação”, observou.
O Prior de Bose explicou
que uma das grandes preocupações de Bergoglio em relação ao ecumenismo, é “que a unidade
não se faz somente com a espiritualidade da unidade, mas é um mandamento de Cristo
que é necessário seguir. É um compromisso que ele sente como prioritário - disse.
Sobretudo com a Ortodoxia, sente que a unidade é uma meta urgente”. “Creio que o Papa
deseja buscar a unidade, mesmo tendo que reformar o papado. Um papado que não coloca
mais medo – como disse o Patriarca Bartolomeu – ao qual o Papa tem ligações de amizade”,
explicou Bianchi.
“A reforma do papado significa um novo equilíbrio entre sinodalidade
e primado. Os ortodoxos exercem a sinodalidade e não têm o primado, nós católicos
temos o primado mas também um defeito de sinodalidade. Não existe sinodalidade sem
primado e não existe primado sem sinodalidade, observou ele. Isto ajudaria a criar
um novo estilo de primado papal e de governo dos bispos”.
Partindo do Sínodo
dos Bispos existente a partir do Concílio Vaticano II e do Conselho dos 9 Cardeais
desejado pelo Papa Francisco para coadjuvá-lo nas reformas da Igreja, o Prior da Comunidade
de Bose hipotizou para o futuro “um organismo episcopal para ajudar o Papa no governo
da Igreja, sem colocar em discussão o primado papal”.
Enzo Bianchi falou ainda
sobre a “delicada situação” vivida na Ucrânia, onde o quadro das comunidades cristãs
é “extremamente fragmentado”, saudando no entanto, “que todas as Igrejas, ortodoxos
de diversas linhas, católicos latinos e greco-católicos, tiveram a inteligência de
não fazer uma imersão política, sinal de uma consciência eclesial melhor do que se
podia esperar”.
Referindo-se à dramática situação vivida pelos cristãos no
Oriente Médio, defendeu que “eles têm necessidade de sentir a fraternidade e a solidariedade
dos outros cristãos”. E na mesma linha de Francisco, recordou que “nunca houve tantos
mártires como nesta época, e são cristão pertencentes a todas as Igrejas. O sangue
dos diversos cristãos unem-se além das decisões teológicas e dogmáticas”, completou.