Confira o Instrumento de trabalho do Sínodo sobre a família
Cidade do Vaticano (RV) - “A família é um elemento essencial para todo e qualquer
progresso humano e social sustentável”: este é o tuíte do Papa Francisco, neste dia
em que foi divulgado o texto preparatório – o chamado “Instrumento de trabalho” -
do Sínodo extraordinário de outubro próximo, que terá como tema “Os desafios pastorais
da família, no contexto da evangelização”.
Numa coletiva de imprensa, ao meio-dia,
foi apresentado este texto, divulgado nas seis línguas oficiais do Sínodo: alemão,
espanhol, francês, inglês, italiano e português. O Instrumento de trabalho está disponível
no endereço: http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20140626_instrumentum-laboris-familia_po.html
O
documento contém e sintetiza as respostas ao questionário sobre os temas do matrimônio
e da família, contido no Documento preparatório ao Sínodo, publicado em novembro de
2013.
A primeira parte - "Comunicar o Evangelho da família hoje" – reitera
antes de tudo o "dado bíblico" da família, baseada no matrimônio entre homem e mulher,
criados à imagem e semelhança de Deus e colaboradores do Senhor no acolhimento e transmissão
da vida.
Uma reflexão específica é dedicada à dificuldade de compreender o
significado e o valor da "lei natural", colocada na base da dimensão esponsal entre
o homem e a mulher. Para muitos, "natural" é sinônimo de "espontâneo", o que comporta
que os direitos humanos são entendidos como a autodeterminação do sujeito individual
que tende à realização dos próprios desejos.
Outro grande desafio indicado
pelo texto é a privatização da família, que já não é entendida como um elemento ativo
da sociedade e a sua célula fundamental. Por esta razão, é necessário que os núcleos
familiares sejam tutelados pelo Estado e recuperem o seu papel de sujeitos sociais
nos diferentes contextos: trabalho, educação, saúde, defesa da vida.
A segunda
parte do Instrumento de Trabalho - "A pastoral da família diante dos novos desafios"
- chega ao coração dos desafios pastorais de hoje.
São muitas as situações
críticas que a família deve enfrentar hoje: fraqueza da figura paterna, fragmentação
devida a divórcios e separações, violências e abusos contra as mulheres e crianças
("um dado realmente muito preocupante que interroga toda a sociedade e a pastoral
familiar da Igreja"), tráfico de menores, drogas, alcoolismo, dependência do jogo
e também a dependência das redes sociais, que impede o diálogo em família e rouba
o tempo livre para as relações interpessoais.
O documento sinodal destaca
também o impacto do trabalho sobre a vida familiar: horários extenuantes, insegurança
no emprego, flexibilidade que envolve longos trajetos, ausência do repouso dominical
dificultam a possibilidade de estar juntos, em família.
O documento enfrenta,
depois, as situações pastorais difíceis e sublinha que a coabitação e as uniões de
fato são muitas vezes devidas a uma deficiência de formação sobre o matrimônio, a
percepção do amor apenas como "um fato privado", o medo do empenho conjugal entendido
como perda da liberdade individual.
O documento dedica também uma grande parte
às "situações de irregularidade canônica", porque as respostas recebidas estão sobretudo
focalizadas nos divorciados e casados novamente. Em geral, põe-se em destaque o número
consistente daqueles que vivem com "negligência" de tal condição e não pedem, portanto,
para se aproximarem da Eucaristia e da reconciliação.
Em certos casos, algumas
Conferências episcopais pedem novos instrumentos para abrir a possibilidade de exercer
"misericórdia, clemência e indulgência" para com as novas uniões.
O Instrumentum
mostra que, para as situações difíceis que a Igreja não deve assumir uma atitude de
juiz que condena, mas a de uma mãe que sempre acolhe os seus filhos, sublinhando que
"não aceder aos sacramentos não significa ser excluído da vida cristã e da relação
com Deus"
A propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, se põe em evidência
que todas as Conferências Episcopais dizem não à introdução de uma legislação que
permite tal união "redefinindo" o matrimônio entre homem e mulher. Pede-se, contudo,
uma atitude respeitosa e de não-julgamento em relação a estas pessoas, enquanto se
destaca a falta de programas pastorais a este respeito, uma vez que se trata de fenômenos
recentes.
A terceira parte do documento – “A abertura à vida e à responsabilidade
educativa” – faz notar antes de mais que é pouco conhecida na sua dimensão positiva
a doutrina da Igreja sobre a abertura à vida da parte dos esposos, pelo que é considerada
como uma ingerência na vida do casal e uma limitação à autonomia da consciência. Daqui
a confusão que se cria entre os contraceptivos e os métodos naturais de regulação
da fertilidade. Relativamente à profilaxia contra a Aids, é necessário que a Igreja
explique melhor a sua posição, também para contrastar algumas “reduções caricaturais”
dos meios de comunicação e para evitar reduzir o problema a uma mera questão “técnica”,
quando na realidade se trata de “dramas que marcam profundamente a vida de inumeráveis
pessoas”.
O “Instrumento de trabalho” para a preparação e o debate da assembleia
sinodal de outubro próximo se conclui com a Oração à Sagrada Família, escrita pelo
Papa e por ele mesmo recitada por ocasião do Angelus de 29 de dezembro passado, festa
da Santa Família de Nazaré.