Jales (RV) - Desta vez, quando o Papa concluiu sua viagem, o alívio foi geral.
Pois ele tinha se aproximado de situações muito tensas, que há décadas caracterizam
aquela região, onde entram em conflito tantos interesses contraditórios, entre judeus
e árabes, palestinos e israelenses, entre cristãos e muçulmanos, só para citar alguns
pontos de tensão naquela conturbada região do Oriente Médio.
Junto com o alívio,
o Papa trazia de volta muitas esperanças de aproximação e mesmo de conciliação. Pode
ser que a maleta preta, que ele fez questão de levar consigo, como tinha feito no
Rio de Janeiro, teria ido vazia, mas estava voltando bem carregada, ao menos de promessas,
se não de resultados concretos.
Esta viagem ainda está dentro do intento de
caracterizar o pontificado do Papa Francisco. Foi um teste sobretudo de diplomacia.
Ele superou este teste com galhardia. Para admiração de todos, ele se mostrou atento
às conveniências diplomáticas, mas ao mesmo tempo se permitiu expressar com clareza
e segurança suas ponderações de ordem religiosa, como também seu parecer a respeito
da complexa realidade política que envolve todos os países daquela região.
Com
esta viagem, sem dúvida, o Papa Francisco ampliou sua figura de estadista. Tanto mais
poderá colocar agora sua influência a serviço da pacificação no Oriente Médio.
O
motivo alegado para sua viagem, era fazer uma peregrinação religiosa à “Terra Santa”.
Mas sua presença se constituía em evidente fato político, com seus inerentes desdobramentos.
A
circunstância que ofereceu a oportunidade desta viagem, foi celebrar os 50 anos do
histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, de Constantinopla.
Aquele encontro, em 1964, foi muito importante. Pela primeira vez, depois
de quase mil anos de separação, se encontravam o representante da Igreja Católica
e o representante das diversas Igrejas Ortodoxas, na pessoa do Papa Paulo VI e na
pessoa do Patriarca Atenágoras de Constantinopla. Como gesto simbólico, daquela
vez, foram retirados os decretos de excomunhão mútua, que em 1054 tinham se dado.
Agora, 50 anos depois, poderíamos pensar que o encontro entre o Papa Francisco e o
Patriarca Bartolomeu concluísse de vez a reconciliação entre as duas mais antigas
tradições eclesiais, e católicos e ortodoxos poderiam se sentir, de novo, em plena
comunhão.
Mas, não foi isto que aconteceu. Foram fortalecidos, sim, os laços
de amizade, mas não foram removidos todos os obstáculos. Ainda existem muitos preconceitos,
consolidados ao longo de séculos. Não se desfaz em poucos anos o que foi construído
ao longo de um milênio.
E não adiantaria fazer uma conciliação só a nível dos
dirigentes das Igrejas, sem envolver as bases. Nem é o caso de simplificar as posições
teológicas, reduzindo o credo a uma síntese aceitável por ambas as partes. O ecumenismo
é um caminho árduo, que requer a conversão dos corações, um grande esforço de diálogo,
e uma abertura para acolher a diversidade, sem perder a unidade eclesial.
Agora
que o Papa Francisco está disposto a retomar o impulso renovador da Igreja Católica,
certamente ele se deu conta que nossos desejos às vezes demoram séculos para se concretizar.
Neste contexto, conciliar a vontade de mudanças com a lentidão da história, supõe
fazer opções estratégicas, como quem lança a semente de uma grande árvore. Ela tem
mais garantia de continuidade.
O que demora a brotar, tem mais segurança de
sobreviver. Dom Demétrio Valentini