Papa encontrou familiares das vítimas da Operação Condor e sobrinha de Dom Romero
Cidade do Vaticano (RV) – Entre os numerosos fiéis presentes na Praça São Pedro
na Audiência Geral de ontem, quarta-feira, estavam familiares de desaparecidos e vítimas
da ‘Operação Condor’, plano do ex-ditador chileno Augusto Pinochet para reprimir a
oposição política na América do Sul nas décadas de 1970 e 1980. Sentados na primeira
fila, eles encontraram o Papa Francisco após a catequese, entre o adro de São Pedro
e a Praça. O L'Osservatore Romano trouxe detalhes deste encontro.
“A violência
não terá nunca a última palavra”, disseram ao Papa a sobrinha de Dom Romero, alguns
familiares de desaparecidos e ex-prisioneiros políticos latino-americanos e animadores
do Centro de acolhida ‘Padre Nostro’, fundado em Palermo, pelo Beato Giuseppe Puglisi.
O Papa Francisco acolheu com afeto Cecília Romero, sobrinha do Arcebispo de San Salvador,
assassinado em 24 de março de 1980 enquanto celebrava a Eucaristia. “Os santos estão
sempre conosco e ajudam a viver a fé a cada dia”, afirmou a salvadorenha ao jornal
vaticano, expressando a seguir “a esperança de ver em breve a beatificação de meu
tio”. Junto a ela, o marido e a religiosa das Pequenas Irmãs de Jesus, Genevieve Jeanningros,
sobrinha da missionária francesa Leoni Duquet, desaparecida durante a ditadura militar
na Argentina.
Eram provenientes da Argentina, Chile, Uruguai e El Salvador
as outras pessoas que conheceram a prisão e a tortura e que pedem para saber a verdade
sobre a sorte de seus familiares. Ao Pontífice este grupo, unido às dramáticas experiências
pessoais, quis expressar antes de tudo “gratidão pela acolhida e atenção”.
Após
o encontro com o Santo Padre, todos participaram de uma coletiva de imprensa. Na ocasião,
Cecília Romero, declarou que o Papa lhe assegurou que o processo de beatificação de
Dom Romero “está andando e com paciência chegará a seu termo”. Jeremias Levinao, companheiro
de Omar Venturelli, torturado em Temuco, Chile, e representante do povo Mapuche, um
dos mais reprimidos pelo regime de Pinochet, pediu ao Papa que “fizesse algo por seu
povo, que necessita justiça”.
Alguns dos participantes do encontro com o Papa
Francisco fazem parte do ‘Processo Condor’, que julga na Itália o desaparecimento
e morte de 23 cidadãos latino-americanos de origem italiana durante a operação de
repressão, perseguição e assassinatos de ativistas contrários às ditaduras. Neste
processo, que se encontra atualmente em fase de audiência preliminar, estão imputados
17 uruguaios, 12 chilenos, dois bolivianos e quatro peruanos, todos membros das Juntas
Militares e serviços de segurança de seus respectivos países entre os anos de 1973
e 1983. (JE)