Cardeal Tauran: a força do Papa Francisco é o poder do coração
Cidade do Vaticano (RV) - Amar é muito mais que tolerar e foi isso o que o
Papa Francisco fez na Terra Santa encontrando os representantes das outras religiões,
bem como os presidentes palestino e israelense. É o que ressalta o presidente do Pontifício
Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran, que – entrevistado
pela Rádio Vaticano - fala sobre o "poder do coração" exercido pelo Papa durante toda
a sua recente peregrinação.
Cardeal Jean-Louis Tauran:- "A foto que
mostra o Papa diante do Muro das Lamentações junto a seu amigo rabino e a seu amigo
muçulmano é a que melhor sintetiza esta sua viagem: a importância do diálogo inter-religioso.
Porque tudo pode acontecer onde as pessoas se conhecem, conversam, se olham face a
face, se ouvem reciprocamente, aceitam reconhecer no outro aspectos positivos. Esses
são valores de santidade e de verdade que, a seu modo, cada religião tem, embora saibamos
que Jesus é a Verdade. Ademais, ressaltaria a proposta feita pelo Papa aos dois presidentes,
israelense e palestino – "venham encontrar-me, em minha casa" –, de modo muito simples,
com palavras que vinham do coração. Creio que este é um apelo que se dirige a todos
os cristãos, de modo particular aos católicos: se na sociedades de hoje existe um
poder que podemos exercer, este é o "poder do coração". E vi no Papa que falava com
seus interlocutores esta força do poder do coração, ou seja, amar e ver no outro verdadeiramente
um irmão. Não simplesmente tolerar: numa família não se tolera entre si, se ama. Usou
palavras muito simples, que não têm nada a ver com o direito internacional ou a praxe
diplomática. O Papa abriu um novo capítulo. Creio que o Oriente Médio, o diálogo inter-religioso
e os esforços pela paz não podem permanecer no estado no qual hoje se encontram: algo
de novo terá início, graça a este poder do coração."
RV: Esta viagem
foi apresentada como uma peregrinação à Terra Santa, mas foi muito além disso, como
o senhor indicou, no âmbito político...
Cardeal Jean-Louis Tauran:-
"Tudo é política, mas a política não é tudo para o homem, obviamente. Creio que numa
região como a do Oriente Médio religião e política estão muito ligadas pela simples
razão que, por exemplo, o Islã não faz distinção entre religião e política. Em todo
caso, precisa sempre insistir, estou convencido disso, sobre este fato: que as guerras
em andamento não foram provocadas pelas religiões, a religião faz parte da solução.
Hoje não se pode entender o mundo, querendo olhar para o futuro, sem fazer referência
à religião, ao sagrado, à dimensão transcendente que cada um carrega consigo."
RV:
Como o Papa viveu estes três intensos dias vividos na Terra Santa?
Cardeal
Jean-Louis Tauran:- "Com muita coragem, determinação e na oração. Creio que a
oração seja a chave de tudo porque é ela que lhe dá aquela serenidade. É maravilhoso
ver a simplicidade com a qual ele acolhe as pessoas, mesmo as que têm as mais altas
responsabilidades: para ele, realmente, cada homem é um irmão..."
RV:
Na audiência geral desta quarta-feira Francisco disse ter recebido uma palavra de
esperança...
Cardeal Jean-Louis Tauran:- "Quando nos encontramos com
pessoas que durante anos e anos sofreram a guerra, as lutas internas, perguntamo-nos
como se sentem: esperam num futuro? Sabemos que têm um futuro... Fiquei muito impressionado,
por exemplo, com o rei da Jordânia, que disse: "Os cristãos, aqui, estão em casa,
existiam aqui antes de nós". Não foi a primeira vez que ouvi isso, e creio que seja
verdade."
RV: O senhor mesmo constatou uma mensagem de esperança para
os cristãos e para toda a população local...
Cardeal Jean-Louis Tauran:-
"Com certeza. Creio que o Papa tenha conquistado todos. O Papa não propõe nem soluções,
nem negociações: simplesmente, abre sua casa para que quem quer que seja venha até
ele e se sinta em casa, possa olhar-se face a face e se possa ouvir reciprocamente.
É formidável, é magnífico!" (RL)