No avião, Papa ressalta momentos marcantes da viagem à Terra Santa
Cidade do Vaticano
(RV) – No avião que o trouxe de volta ao Vaticano, o Papa Francisco conversou
- durante quase uma hora - com os jornalistas que o acompanharam na Terra Santa. Os
temas tratados foram muitos: dos momentos mais marcantes da viagem ao celibato dos
sacerdotes, passando por escândalos financeiros e a hipótese de uma renúncia a exemplo
de Bento XVI. Confira alguns pontos:
Os gestos na Terra Santa e o encontro
Peres e Abu Mazen “Os gestos mais autênticos são os que não se pensam, mas
os que acontecem. Algumas coisas, por exemplo, o convite aos dois presidentes à oração,
isto estava sendo pensado, mas havia muitos problemas logísticos, muitos, porque é
preciso levar em consideração o território onde se realiza, e não é fácil. Isso já
se programava, uma reunião, mas no fim saiu o que espero que seja bom. Será um encontro
de oração, não para fazer mediação.”
Relação com os ortodoxos “Com
Bartolomeu falamos de unidade, que se faz em caminho, jamais poderemos fazer a unidade
num congresso de Teologia. Ele confirmou-me que Atenágoras realmente disse a Paulo
VI: ‘vamos colocar todos os teólogos numa ilha e nós prosseguiremos juntos’. Devemos
nos ajudar, por exemplo, com as igrejas, inclusive em Roma, onde muitos ortodoxos
usam igrejas católicas. Falamos do concílio pan-ortodoxo, para que se faça algo sobre
a data da Páscoa. É um pouco ridículo: ‘Quando ressuscita o seu Cristo? O meu na semana
que vem. O meu, ao invés, ressuscitou na semana passada’. Com Bartolomeu falamos como
irmãos, nos queremos bem, contamos as dificuldades do nosso governo. Falamos bastante
da ecologia, de fazermos juntos um trabalho conjunto sobre este problema.”
Abusos
contra menores “Neste momento, há três bispos sob investigação e um deles,
já condenado, tem a pena em estudo. Não há privilégios neste tema dos menores. Na
Argentina, chamamos os privilegiados de ‘filhos de papai’. Pois bem, sobre este tema
não haverá filhos de papai. É um problema muito grave. Um sacerdote que comete um
abuso, trai o corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à santidade.
E o menor confia nele. E ao invés de levá-lo à santidade, abusa. É gravíssimo. É como
fazer uma missa negra! Ao invés de levá-lo à santidade, o leva a uma problema que
terá por toda a vida. Haverá em breve uma missa com algumas pessoas abusadas, na Santa
Marta, e depois haverá uma reunião, eu com eles e o Card. O'Malley, que é da Comissão.
Sobre isto se deve prosseguir com tolerância zero.”
Celibato dos padres “Há
padres católicos casados, nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é
uma regra de vida, que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja. Não
sendo um dogma de fé, há sempre uma porta aberta.”
Eventual renúncia “Eu
farei o que o Senhor me dirá de fazer. Rezar, buscar a vontade de Deus. Bento XVI
não tinha mais forças e, honestamente, é um homem de fé, humilde como é, tomou esta
decisão. Setenta anos atrás os bispos eméritos não existiam. O que acontecerá com
os Papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como uma instituição, abriu uma porta,
a dos Papas eméritos. A porta está aberta, se haverá outros ou não, somente Deus sabe.
Eu creio que um Bispo de Roma, ao sentir que lhe faltam forças, deva fazer as mesmas
perguntas que o Papa Bento fez.”
Outros temas Francisco falou ainda
da alegada investigação sobre um desvio de 15 milhões de euros dos fundos do Instituto
para as Obras de Religião, em que estaria envolvido o antigo Secretário de Estado
do Vaticano.
“A questão desses 15 milhões está ainda em estudo, não é claro
o que aconteceu”, adiantou.
O Papa disse que quer “honestidade e transparência”
na administração financeira do Vaticano e que a nova Secretaria para a Economia, dirigida
pelo Cardeal Pell, vai “levar por diante as reformas que foram sugeridas” por várias
comissões para evitar “escândalos e problemas”. Nesse sentido, recordou que cerca
de 1,6 mil contas foram fechadas no IOR nos últimos tempos.
Francisco confirmou
que, além da viagem à Coreia do Sul em agosto, voltará à Ásia em janeiro de 2015,
para visitar o Sri Lanka e as regiões afetadas pelo tufão nas Filipinas. O Papa mostrou-se
preocupado com a falta de liberdade religiosa neste continente, falando num número
de “mártires” cristãos que supera os dos primeiros tempos da Igreja.
O Papa
não quis comentar os resultados das eleições europeias, mas lembrou as críticas que
deixou na exortação apostólica Evangelii Gaudium a um sistema econômico “desumano”,
que “mata”.
Já sobre a beatificação de Pio XII, pontífice durante a II Guerra
Mundial, Francisco disse ter sido informado de que ainda não há o milagre reconhecido
para que a causa avance.